Time grande
Lembro do meu primeiro jogo de Campeonato Brasileiro. Foi no Couto Pereira, em 1993, Atlético 0 x 3 União São João… Lembro que, ao ouvir a escalação dos times, dei muitas risadas ao ouvir que o camisa nº 9 (até então do meu 1º ídolo, Renaldo) era Pirata. Acontece que, para minha incrivel frustração, o Pirata era do Atlético e não do União, como eu imaginei… e o pior é que mal sabia eu que ele tinha o apelido porque era muito, mas muito perna-de-pau. Acontece que apesar do Pirata, do esgouto e da vexatória derrota, ver a camisa rubro-negra em campo e a nossa fanática e vibrante torcida me satisfizeram no auge dos meus 12 anos.
Estou contando isto porque aquele time tinha como ídolo o goleiro Gilmar, que não era melhor que o Galatto. Tinha mais raça, mas não era melhor. E além dele tinhamos o João Carlos Cavalo, que era o Paulo Baier daquele tempo (hahahaha), Também porque aquele time sofria menos pressão: porque não tinha CT, não tinha Arena, e acabou na Série B em 1994, mesmo que os lanternas daquele ano, Botafogo e Atlético/MG não tenham sido rebaixados… Tinha ainda a Fanáticos com suas camisas de pano e as muitas e originais músicas, criando uma aura de união entre atleticanos, algo que fazia com que a torcida (não somente a organizada, mas a própria torcida) fosse imbatível, incomparavelmente forte. Os tempos eram outros, times ‘grandes’ não caiam, nós eramos ‘pequenos’ e por isto caímos.
Mas será que somos pequenos mesmo? A pressão exercida pela torcida hoje, seja no estádio aonde a impaciência é latente ou através da internet que é o maior instrumento de comunicação da atualidade, mostra a insatisfação e a cobrança da torcida junto ao clube neste momento difícil. Aquele time de 93 jogava mal e a torcida apoiando. Aliás, a torcida do Atlético sempre teve o diferencial de não demonstrar insatisfação no estádio, isto começou a surgir com a Arena, com a televisão, rádio e internet mandando ‘N’ informações por dia, mandando aquela mensagem subliminar que somos pequenos, que temos que ganhar sempre porque senão seremos etarnamente um time de segunda. É óbvio que, em 1993, não tínhamos tanta cobrança, éramos um time ‘pequeno’ até no estado do Paraná, talvez por isto a união. Naquela época, ganhar o Atletiba era a cereja do bolo, ver o Atlético surrar o Matsubara era muito bom, suávamos sangue por isto, mas nós mudamos e crescemos e somos o que somos, mas a cobrança e a mídia continua sendo a de um clube pequeno, e aquela união de certa forma perdeu-se.
Mandamos jogador para Copa, temos o CT da Seleção, o estádio mais moderno da América Latina, temos um time que disputou 3 Libertadores e 4 Sul-Americanas em 10 anos, temos um time Campeão Nacional, vice das mais importantes copetições etc., mas aqui. na torcida do Atlético. somos um time pequeno. É lógico que a cobrança aumentou. Por exemplo, estamos na 1º divisão desde 1996, direto, sendo que tivemos não um, mas vários grandes times montados em todos estes anos e agora estamos em um ritmo de queda em que o clube parece que está se preparando para ser o de 1993. Claro, tenho o bom senso de saber que, em 1992, quando enfrentamos um finalista de Libertadores, levamos 5 x 0 (era o SP) e agora, em 2009, ficamos irados pelo empate com o vice-campeão da América, Cruzeiro. Em 1992 quase caímos, mas a pressão não aparecia ou era minimizada, pois não se esperava do Atlético nada mais do que uma derrota vexatória, mas existia a união muito peculiar.
Precisamos, sim, de reformulação, precisamos de contratações para disputarmos títulos importantes, pois o Paranaense ficou pequeno e parece que só ganha valor se perdermos do nosso maior rival. Precisamos saber valorizar as nossas conquistas como fazíamos antes de virar grandes, quando não se esperava nada do Atlético. Estamos em uma lamúria interminável devido ao péssimo momento vivido após 2006, mas a cobrança, que poderia virar alternativa para o crescimento do clube, vira cada vez mais cobrança. Aquela imagem de consumidor que ‘eu tô pagando’ é mais expressiva. Leio aqui muito torcedor que reclama de ter que pagar caro para ver este time, mas cadê o orgulho de torcer por um clube grande? Onde foi parar a união e o orgulho de ser rubro-negro? Somos o clube grande mais pequeno do Brasil e o somos porque a própria torcida se posiciona assim, com esta falta de ‘T’ pelo time; somos consumidores hipócritas que apenas criticam, mas que nada fazem, o negócio é reclamar. Eu acho que o time é fraco, mas será que não dá para valorizar nada? Será que o Galatto é tão ruim? Depois o cara sai daqui como tantos outros e virará ídolo em ‘clube grande’, daí vamos ouvir a torcida falando ‘mas aqui ele não jogava nada’. Porque o que acontece por aqui é: ‘Fora, Alex; obrigado, mas suma.’ ‘Fora, Galatto, você ajudou, mas é uma porcaria de goleiro’ etc… Será que ninguém consegue frear a reclamação e parar de criticar o time e o clube o tempo todo? Somos demasiadamente críticos e somos tão pequenos quando fazemos isto… Porque, que eu me lembre, coxinha nenhum conseguia me calar quando falava de sua ‘estrela’ em 1993, mesmo porque o Atlético era o maior do mundo para mim, mesmo com o Pirata, mesmo com o João Carlos Cavalo, mesmo que o time tenha conquistado 2 títulos em 31 anos (1950 – 1981), sem CT, sem Arena… Mesmo com tudo isto o Atlético já era ‘grande’ para mim. Por que é que agora precisamos de ‘rótulos’ da Rede Globo, por que precisamos necessariamente ser campeões mundiais? Por que é que precisamos de explicações para tudo? Temos a errônea ideia de que apoiamos incondicionalmente nosso clube, quando na verdade exercemos uma pressão imensa sobre ele, tornando cada derrota uma perda de título de Libertadores, valorizamos a derrota e depreciamos a conquista. Ganhar do Goiás e do Santo André foi acaso, fraqueza deles, e levantar o Paranaense foi muito facíl. Mas perder do Fluminense e empatar com o Cruzeiro é o fim do mundo.
Temos que suportar ver o time caindo quando era para estar ganhando? Não. Temos é que apoiar e entender que o negócio é este: torcer, apoiar, cobrar de forma mais incisiva e participativa; cobrar um resultado, mas fazer a parte de um torcedor, que é levar para ‘fora’ a imagem de torcedor criativo e cativante e não a imagem de uma tocida curitiboca e burguesa, que não sabe nunca perder com dignidade um jogo que é suscetível de derrotas.
Será que só eu acho que somos grandes? Será que eu e somente eu acho que temos condições de ser o melhor do Brasil? Essa síndrome de time pequeno encrustada em nosso clube por ser um time paranaense, por ser um time com uma torcida média, por ser um clube que amarela na hora de grandes conquistas e, principalmente, por conta do autofagismo do Atleticano que somente valoriza as derrotas, faz com que sejamos exatamente o que o Petraglia instituiu: consumidores e não torcedores.
Vamos nos unir, apoiar e fazer do Atlético um time grande, com história feita por nossos feitos na hora da vitória e da derrota, tornando nosso clube digno de respeito a partir de nós mesmos e vamos parar, pelamordeDeus, com este esquema de se lamuriar porque somos os piores, etc…
Atlético até a morte!