O adeus de um ídolo
Jogadores vem e passam.
Mas atleticano deixa um pouquinho de si,
fortalecendo o nosso Furacão.
– Homenagem do Clube Atlético Paranaense em troféu entregue a Alberto
Essas foram as palavras que retratam a gratidão, o carinho e o orgulho dos torcedores atleticanos com Alberto Valentim do Carmo Neto, ou simplesmente Alberto, que fez sucesso vestindo a camisa número dois do Atlético Paranaense. No último domingo, momentos antes da partida contra o Botafogo, o presidente Marcos Malucelli anunciou oficialmente que o jogador está de saída do clube após o término de seu contrato, em dezembro. É o fim de uma trajetória que se iniciou em 18 de agosto de 1996, com um repertório de jogadas talentosas, passes precisos, prestígio nacional e internacional. E mais: uma trajetória que pode ser definida com uma única palavra: amor. Amor do atleta com o clube e que trouxe como consequência o reconhecimento da torcida com o atleta. É assim que se pode resumir a história de Alberto no Atlético.
Visivelmente emocionado, Alberto por diversos momentos deixou de lado o profissionalismo para falar do coração. As pessoas que me conhecem sabem da ligação que tenho com o clube, desde 1996, quando cheguei aqui e joguei na antiga Baixada. Foi uma ligação de um amor a primeira vista. Naquele primeiro jogo, contra o Bragantino, vencemos por 3 a 1, e naquele dia passei a gostar deste clube de uma maneira totalmente diferente. São quase 20 anos de carreira e falar do Atlético para mim é diferente. Primeiro porque foi onde consegui me projetar, me destacar. Depois, quase 9 anos fora do Brasil, não consegui me desvincular. O meu filho (Diego) é atleticano de tanto que eu falei na cabeça dele sobre o clube nesses anos todos na Itália, disse o emocionado Alberto à imprensa após receber uma camisa autografada e um troféu símbolo da gratidão de todos os atleticanos pelo seu trabalho em favor do clube.
O jogador disse que entre os sonhos de sua carreira profissional, o Atlético sempre esteve presente. Eu realizei muitos sonhos na minha vida: primeiro me destacar no Atlético e depois, graças ao reconhecimento que tive no Atlético, poder ir para a Europa. O segundo foi voltar para o Atlético. E o terceiro é agora, me despedir dessa minha segunda casa, que eu considero a Arena, afirmou.
No gramado da Arena, a homenagem da torcida atleticana [foto: JORNAL DO ESTADO/Franklin de Freitas]
O presidente do Atlético, Marcos Malucelli, fez questão de ressaltar também o reconhecimento do clube com o jogador. Ele estava afastado, nunca por questões disciplinares, ele teve problemas físicos, de contusão. Em nome do Atlético Paranaense eu trago a homenagem, uma das raras oportunidades que homenageamos um jogador. Ao Alberto eu fiz questão de fazer para que não haja qualquer dúvida à idoneidade, ao caráter e a dedicação dele com o clube. Fica o agradecimento do Atlético, entregando um símbolo de nosso agradecimento, destacou o presidente, referindo-se principalmente ao longo período que o atleta ficou afastado do time profissional nesta temporada.
Após as homenagens, foi a vez da torcida atleticana aplaudir o ídolo em sua despedida. Na volta olímpica que deu no gramado da Arena, Alberto teve o seu nome entoado por todos os atleticanos presentes no estádio, uma homenagem digna aos grandes jogadores que fizeram história no clube. Ao lado de seu filho, que vestia a camisa da Torcida Os Fanáticos, Alberto recebeu a sua última homenagem da torcida atleticana: “Eira, eira, o Alberto é da caveira!
Sucesso vermelho e preto
A história de Alberto no Atlético começou em agosto de 1996. Entre idas e vindas, Alberto vestiu por seis anos a camisa atleticana. Em sua primeira temporada no clube, foi um dos condutores da brilhante campanha que o Furacão fez no Brasileiro/96, o primeiro que o Atlético disputou depois do título da Série B em 1995. Nesse mesmo ano, foi eleito pela Revista Placar o melhor lateral-direita Brasileiro de 1996, um reconhecimento máximo para as pretensões atleticanas naquela época. Entre 1996 e 99, dividiu a camisa atleticana com as cores de Flamengo, São Paulo e Cruzeiro. Mas sempre teve uma identificação maior com o Atlético, clube que o projetou no cenário nacional.
Alberto ao lado do filho, torcedor do Atlético [foto: Daniele Starck]
Alberto começou a carreira como meia nas categorias de base do América-MG. Depois, jogou nos juniores do Guarani e foi para a Inter de Limeira. Em 1996, foi considerado a grande revelação do futebol paulista, muito elogiado pelos olheiros atleticanos. No mês de agosto, desembarcou em Curitiba por empréstimo ao Atlético, sendo contratado em definitivo no fim do ano. Estreou no time na partida contra o Bragantino, em 18 de agosto. Neste jogo, a torcida pôde ver sua especialidade: ele não cruzava a bola, colocava-a com perfeição para os centroavantes dentro da área. Deu dois passes para os dois gols de Paulo Rink na vitória por 3 a 1.
O lateral foi considerado um dos grandes responsáveis pela boa campanha do Atlético no Brasileiro de 96. De seus pés, saíram muitos lançamentos precisos e cruzamentos para a dupla Oséas e Paulo Rink, especialistas nas jogadas aéreas. Se não deu para levar o Atlético para o topo da tabela, Alberto foi considerado destaque atleticano, gerando interesse de São Paulo, Flamengo e Real Madrid.
Com tamanha valorização, era considerado um jogador-curinga do Furacão. Nos três anos que jogou no clube, foi uma espécie de galinha dos ovos dourados. Era emprestado para outros times no primeiro semestre, na disputa dos campeonatos estaduais, e retornava no Brasileiro.
Em 1997, foi para o São Paulo, em troca de Luisinho Netto e Fábio Mello, retornando ao rubro-negro para o Brasileirão. De quebra, foi emprestado ao Cruzeiro para a final do Mundial Interclubes, ficando no banco do time vice-campeão do mundo. No primeiro semestre de 98, jogou no Flamengo, por empréstimo. Desta vez, foi em troca de Rodrigo Mendes e Nélio, que se transformou num dos principais destaques atleticanos na conquista do Paranaense.
Alberto chegou no Atlético em 1996 [foto: arquivo]
Despediu-se do Atlético e do futebol brasileiro com um título. Alberto foi peça importante na conquista do Torneio Seletivo de 1999, levando o Furacão a disputar, pela primeira vez na história, a Taça Libertadores da América.
Saiu com a faixa de campeão no peito direto para a Udinese, da Itália. No futebol europeu, atuou por quase uma década defendendo as cores da Udinese e do Siena.
Em 2008, mais experiente, retornou ao Atlético para sua quarta passagem pelo clube e foi importante na campanha que evitou o rebaixamento do clube. Este ano, conquistou o título do Campeonato Paranaense de 2009, até encerrar a sua trajetória no Atlético no final do ano.
Ídolo atleticano
Ao ídolo, aplausos, reconhecimento, carinho, homenagens. É isso que a Furacao.com se propõe a fazer a Alberto, um dos maiores talentos que já vestiu a camisa do clube. Na nossa homenagem ao atleta, pedimos para que colaboradores do site escrevessem um pouco sobre o Alberto no Atlético:
O grande lateral Alberto fez parte do maior processo de reformulação da história do Atlético. Com um enorme vigor físico e, principalmente, uma técnica invejável, marcou época em um Furacão que sempre será lembrado pelo futebol alegre e ofensivo. Foi com a força do lado direito que o Atlético mostrou para o Brasil, no final da década de 90, que o rubro-negro de Curitiba tinha tudo para atingir um lugar de destaque no futebol nacional. Por estes motivos, agradeço Alberto por ter feito a nação atleticana sonhar e sorrir! Sua última passagem pela Arena da Baixada não foi das melhores, mas nunca vou me esquecer das arrancadas, da determinação, das tabelas e dos cruzamentos preciosos do melhor lateral-direito que vi jogar com a camisa do Furacão! Alberto, obrigado por ter enriquecido a história do nosso Clube Atlético Paranaense. – Eduardo Betinardi, colaborador da Furacao.com
Ontem, mais uma vez, o lateral Alberto demonstrou o seu amor e seu respeito pelas cores do Atlético, após entrar em campo e dar a volta olímpica o jogar foi ovacionado de pé por todos os torcedores, uma festa muito bonita, para uma pessoa que sempre mereceu o nosso carinho. Infelizmente ele não pode colaborar com o Furacão tanto este ano, chegou a ser afastado do grupo principal e quem sabe essa falta de respeito de algumas pessoas com o profissional Alberto tenha feito ele repensar a sua vida. Alberto, todo o meu respeito e tudo o que posso lhe dizer hoje é muito obrigado e que você ainda tenha muito sucesso… – Silvio Toaldo Junior, colunista da Furacao.com
Ver Alberto jogar era sinônimo de apreensão. Capaz de jogadas supreendentes – como a famosa matada de costas num Atletiba – este é um jogador que ficará marcado na minha memória. Em 1996, na verdadeira batalha campal das Laranjeiras, Alberto foi mais que brioso ao defender o combalido Ricardo Pinto. Voltar para marcar nunca foi sua preferência. Alberto gostava mesmo era de consagrar os exímios cabeceadores.” – Maurício do Vale, colaborador da Furacao.com
Numa época em que o Atlético não era nada no mapa do futebol brasileiro, apenas um time simpático de Curitiba. Um time simpático, aguerrido, que tinha em seu estádio e em sua torcida suas maiores forças. E naquele time de 1996, que tinha ídolos como Oséas, Ricardo Pinto e Paulo Rink, Alberto foi o grande craque e fez história. Numa época em que era praticamente impensável no futebol paranaense, ele foi considerado o melhor lateral-direita do país. Brilhou e fez sucesso com a camisa atleticana. Numa época em que precisávamos canalizar recursos para construir a Arena, rapidamente negociamos uma dos melhores lateral-direitas da história do futebol paranaense. E Alberto se transformou em tijolos, concreto, armações de ferro da nossa Baixada. Ele ajudou, e muito, na concretização do nosso sonho, da nossa casa. O tempo passou e ele, num gesto de puro atleticanismo, resolveu voltar. Não que precisasse nos provar algo ainda. Não que tivesse alguma dívida com o Atlético. Mas voltou porque o seu coração atleticano assim desejou. Voltou porque necessitava estar com e junto do Atlético e dos atleticanos. Em campo, as pernas não obedeciam mais como antigamente. Os lances já não eram tão geniais e brilhantes como outrora. Mas ele tinha a sua importância. Importância de guerreiro, de quem sabe e conhece a história do Atlético. Obrigada, Alberto! Um dos melhores jogadores que eu já VI vestindo a camisa atleticana que você tão bem sabe, só se veste por amor! Muito obrigada, guerreiro! – Patricia Bahr, colaboradora da Furacao.com
Alberto Valentim do Carmo Neto, um atleticano*
Peçanha, colaborador e conselheiro deste blog, teve a oportunidade de assistir, pela primeira vez, a uma partida nos camarotes VIP da Baixada. E nos envia e-mail contando como foi:
“A visão do campo que se tem do camarote VIP da Baixada, ali no setor Madre Maria, é simplesmente sensacional. Eu achava que qualquer lugar da Arena é bom para ver o jogo. Mas ali, é excelente!
Outra coisa bacana é que você fica ao lado de alguns ídolos. Jackson, do Furacão de 1949, estava ali, trajando rubro-negro dos pés à cabeça. Paulo Rink também estava na área. E o Kamali, senhores! Abdulah Al Kamali faz questão de assistir aos jogos do time principal ali no setor VIP.
Mas tive oportunidade de me sentar próximo a um jogador que estava fora da partida por contusão: o lateral Alberto.
Que ele é um atleta identificado com o rubro-negro eu já sabia. Mas não que ele é um atleticano doente, que não pára de gritar nem um só minuto, num senta-e-levanta inerente aos torcedores mais fanáticos:
Vamos pra frente, #@%&*@‼ Chuta, chuta no gol! CHUTA! Ataque do Cruzeiro… Meu cacete… CACETE! Tira essa m#@%§ daí!!!! Pra fora! Vá chutar a bun** de uma vaca‼ Vamos lá, Pedro Oldoni! Raça, Gustavo! Marca, marca! Isso! RAÇA PORRA! Não desiste, #♂@%&*$@‼
Até a explosão do gol e um forte abraço no garoto que estava a seu lado provavelmente seu filho.
Logo que o juiz terminou a partida, olhei para o lado e Alberto tinha saído dali. Já estava lá no campo, na boca do túnel, cumprimentando e abraçando os jogadores pela dificílima vitória.
Alberto, o lateral, é um bom jogador, um ídolo da torcida.
Alberto Valentim do Carmo Neto é um atleticano fanático.”
*Texto extraído do Blog da Baixada de 27 de outubro de 2008 (clique aqui para ler o conteúdo original)