Adeus a João Carlos Bello
Hoje não irei comentar sobre o time, a diretoria, os jogadores; hoje devo ao meu maior amigo e pai as palavras que escreverei a seguir.
Por que me tornei atleticano ao nascer? E por que hoje estou escrevendo esse assunto aqui em um site de futebol?
Talvez a história deva começar na juventude de meu pai. Morador do bairro Água Verde, ali na Engenheiro Rebouças.
Acompanhava os tios italianos da família Zanon, por parte de mãe, e o irmão mais velho ainda vivo, hoje aos 80 anos, Rubens Bello, nas peladas. Viajava para cidades próximas até de trem para jogar no time 5 de Maio, time amador, e para aqueles que não sabem, antigo nome da praça do Atlético. Acabou por seguir para o futebol de salão, onde conheceu minha mãe em um jogo de apresentação na cidade de Joinville, o primeiro jogo na cidade dessa nova modalidade de futebol nos tempos de 1955.
Grandes tempos, mas o futebol profissional deixou para o irmão mais velho, que acabaria por se tornar 4° zagueiro do Atlético na década de 50, levado por nada menos que seu padrinho de casamento, Nilo Biazetto, ambos funcionários do Banestado. Porém, diferente de hoje em dia, jogava por amor à camisa rubro-negra.
Quanta diferença.
Quantas lembranças do café da tarde nos domingos na casa de minha avó, reuniam todos os sete filhos, noras, genros, netos, 90% atleticanos, havia uma minoria que não abria a boca, agregados coxinhas. Até namorados tinham que ser atleticanos, e aí se não fossem, coitados…
O tempo passou e, é claro, meu pai sempre admirou o senhor ex-presidente Mario Celso Petraglia pelos seu feitos, e mesmo quando reclamava a ele porque não sabíamos dos valores das contratações ou dívidas do clube, meu pai falava: “Para que o MCP teria que falar, para os coxas secarem? Pergunta se eles falam deles?” Estava certo o MCP.
Mas hoje, para a minha maior tristeza, perco o meu verdadeiro ídolo, meu pai João Carlos Bello, atleticano de coração, exemplo de dignidade, de esposo, pai, sogro, avô, enfim, uma pessoa especial e torcedor verdadeiro do Atlético Paranaense, daqueles que tinham carteirinha de sócio só para ajudar o Atlético, mesmo que o cobrador não fosse o exemplo de honestidade. Aparecia lá no banco nos meados da década de 70 e sabe lá para onde o dinheiro iria. Torcedor daqueles que sofreu assistindo jogos na antiga Baixada, mas em 2001, na nova Baixada, estive ao seu lado para gritar e abraçá-lo no título de Campeão Brasileiro. Exemplo de cidadão e principalmente de torcedor atleticano e que infelizmente não pude cumprir com a promessa de um dia levá-lo ao CT do Caju.
Fica aqui à toda nação atleticana o desejo que mais torcedores como meu pai possam ajudar o nosso time de coração dentro das possibilidades de cada um. E que o ano em que ele nos deixa possamos colocar mais uma estrela amarela no peito.
Obrigado, pai João, nos encontraremos em breve e me espere com a sua camisa rubro-negra que só vestiu por amor…