Nota de falecimento
A morte de Armando Nogueira torna, muito mais do que triste a torcida brasileira – em especial a do Botafogo – carente o futebol nacional de alguém que conhece do ofício de analisar e escrever sobre o esporte bretão.
Armando Nogueira deixa um legado de obras (ao todo são 10) todas relacionadas com o futebol.
Porém, o que mais fará falta são as análises objetivas, precisas, não tendenciosas. Quase uma aula em cada linha de suas crônicas.
Além de bem escrever, ele conseguia transportar o leitor para dentro do campo. Fazia com que a análise do jogo fosse simples como decorar as vogais. Parecia molhar com lágrimas as letras grafadas nos jornais.
A perda é grande.
Aí você pergunta: ‘Mas o que tem Armando Nogueira a ver com o Atlético Paranaense’?
Talvez muito pouco, quase nada.
Mas Armando Nogueira é o perfil de jornalista (ele graduou-se em Direito) do qual precisamos e que vemos escassos por essas bandas.
Tento imaginá-lo comentando o futebol paranaense. Talvez com a precisão que poucos possuem. Pouco combinaria com a atual geração de parciais que formam a imprensa marrom (que por aqui é verde).
Armando Nogueira, diferentemente de animais (entre eles cordeiros) que escrevem por aí, jamais escreveria para criticar todas as ações praticadas por dirigentes de um clube apenas por picuinhas pessoais, vingança e inveja; nunca olharia para uma ‘7 Belo’ como se fosse mais mortal e antissocial que um extintor.
Entre outras coisas, Armando Nogueira era profissional. Era pessoal. Ético. Humano.
Que seu legado sirva de exemplo para os que aí estão, que inspire os que por vir estão, e que nos encha de uma eterna saudade.
*Em homenagem ao futebol, ao esporte, ao brasileiro!
**Quem nunca leu Armando, procure a famosa crônica sobre a conquista da Copa do Mundo de 1970.
***Depois da primeira partida da final do Brasileiro de 2001:
‘A redenção do futebol
A primeira já encheu os olhos. A segunda e decisiva, hoje, há de ser a consagração do futebol brasileiro. Quem será o campeão, a essa altura, ninguém poderá antecipar. Nada grave, porém, porque o grande vencedor já pintou: somos todos nós que estamos tendo o privilégio de ver a decisão do campeonato entre duas equipes do bem.
O que nos exibiram, domingo passado, Atlético Paranaense e São Caetano, nada lembra a mesmice viciada de sempre. Saudemos a alma nova, o estilo franco, o desassombro, o ímpeto ofensivo, a obstinação defensiva. Saudemos a lágrima e o sorriso, as mãos crispadas, o halo de esperança no rosto unânime das duas torcidas.
Nos últimos dias, só encontro gente feliz. Leigos e catedráticos, jovens e coroas, arrebatados pelo que viram, domingo, na Arena da Baixada. Futebol como ninguém via, já faz tempo. Benção que desejamos de longo prazo até que desapareceu do mapa o papo furado dos medalhões. Arrastão de bom gosto, redimindo os campos da insuportável mediocridade da Seleção.
Que a finalíssima de hoje nos venha ungida de todos os fluidos que fizeram a glória daquele futebol épico, glorioso, dos tempos em que se amarrava cachorro com lingüiça.’