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29 mar 2011 - 11h02

Atlético Sizinando Paranaense

No bairro onde moro havia uma figura folclórica, espetacular, faz parte da história da maioria dos meninos que nasceram, cresceram e viveram ali.

Era um velhinho negro, cabelos pintados pelo tempo, bem grisalhos, muito baixinho, boca grande e lábios caídos que formavam um enorme beiço.

Torcia pelo Ferroviário FC. Era goleiro, jogava no gol mesmo sendo muito baixinho. Era conhecido por nós como “seo” Sizinando.

Ele era o futebol, vivia futebol para e pelo futebol. Respirava futebol. Também era muito “frangueiro”. Tínhamos de fazer 10 gols porque ele sempre tomava 8 (risos).

Funcionário da antiga Água e Esgoto, depois Sanepar, trabalhava cavando terra para abrir valetas por onde passariam os canos que levariam água às casas curitibanas. Mas, no final de semana o time do “Sizinando” sempre entrava em campo. Não interessava se chovia ou não, o time do bom velhinho sempre entrava em campo.

Nos intervalos dos jogos do time do “Sizinando”, não se sabia como, o guaranazinho da Antártica sempre estava ali para os seus boleiros. Era um time democrático. Abrigava meninos de todas as classes sociais, branco e negros, tinha até um japonês que jogava no time do “Sizinando”.

Esse jovem senhor, adorável senhor, deve estar hoje com 90 anos de idade, e ainda “pega uma bolinha” no gol do seu time em qualquer lugar da região metropolitana de Curitiba. O que não lhe faltar hoje é um campinho de futebol.

Com o crescimento, com a explosão imobiliária de Curitiba, os campinhos de futebol com traves de galhos de árvores foram afastados. Eles ficaram apenas nas memórias daqueles que tiveram a felicidade de vivê-los.

“Sizinando” gostava muito de carne nova. Sempre tinha uma mulher bem mais jovem ao seu lado. O “veínho” era inesgotável em sua alegria de fazer sexo. Era viúvo. Ficou muito triste quando uma delas engraçou-se com o seu filho. Deu uma briga muito grande, a família despedaçou-se. A história nos ensina que sempre há uma mulher por trás de todo império que cai.

A alegria de jogar, a alegria de pagar o guaranazinho para seus meninos devia mantê-lo vivo e produtivo. Eu joguei muitas vezes no time do “Sizinando”. Tenho muitas saudades daqueles bons times que formávamos.

Dizia o bom velhinho que eu era o batedor de pênalti oficial do seu time. No nosso bairro quem nunca jogou no time do “Sizinando” não entende nada de bola.

Joguei nesse time junto com Ricardinho, Serginho Zaia, Vamiquinho, Ede, Ico, Paulinho, lateral, irmão do Amauri, lateral que jogou no CAP, Luis Carlos Goiaba, Augustinho Relojoeiro, Toninho, grande guapo, Adalbertinho, esse parecia uma Honda CG 125, incansável, um motorzinho, Dinho, o lateral direito que fazia muitos gols contra, quando se via em apuros dizia “é tua Toninho”, só que ele atrasava a bola no ângulo, na gaveta (risos).

Enfim, joguei nesse time com muitos meninos, alguns já me fogem da memória cansada, esgotada pelo tempo. Adorávamos fazer tabelinhas, dar chapeus e enfiar a bola nas canetas dos beques.

Jogador bom “de linha” tinha vergonha de sair atrás dos outros. Tinha vergonha de marcar e de defender, isso era coisa “pros beques”. E o beque tinha mais vergonha ainda de “dar chutões”. Se eles soubessem em que se transformaria o futebol (risos).

“Sizinando” organizava muitos torneios com 10, 15, 20 times, normalmente com muitos times, estilo mata-mata, jogos de 20 minutos 10 pra cada lado. Quando empatava “ía pros pênaltis”. “Sizinando” dizia que “ía pros plênaltis”.

A parte ruim da coisa era que o time do “Sizinando” era muito desorganizado. Funcionava tudo na base do improviso. Jogo de camisas surradas, meias encardidas, e na maioria das vezes não havia calções suficientes para todos.

Chuteira então, cada um que se virasse com a sua. Estavam sempre cheias de preguinhos nas solas. Tachinhas terríveis, machucavam os pés. Vivíamos com pés doloridos de tanto amassar preguinhos. O simpático “seu Américo”, sapateiro, que era pai do excelente meia-direita que jogava no nosso time, o “saudoso Ico”, era quem consertava os “preguinhos”.

Não havia planejamento a não ser o bom guaranazinho da Antarctica. Esse nunca faltava. Após jogos normalmente pintava um banho nas águas do Rio Barigui, que era muito lindo, extremamente lindo naquela época. Mergulhávamos para apanhar ostras no fundo desse rio. Hoje é um filete de água que sai dos canos dos esgotos, excremento puro.

Foram anos e anos. Jogávamos em outros times, mas o time do “Sizinando” mantinha-se sempre como nossa reserva moral. O último time do “Sizinando” chamava-se Canto do Rio F.C.

Bons tempos, não voltam mais. Talvez nunca mais os viva a não ser em minha memória que insiste em se manter viva. Na minha e na de outros bons meninos daquele tempo.

O Clube Atlético Paranaense parece querer insistir que aqueles tempos voltem para mim. Parece querer reviver o tempo do time do “Sizinando”, quer voltar a viver o seu “canto do rio”. Triste constatar a nossa dura realidade.

Não sei onde tudo isso vai parar, não sei se sobreviveremos, não sei. Perdi minha capacidade de profecia, ela murchou-se de tanto ver o meu Clube Atlético Paranaense ser tão maltratado.

Ver Ademir Adur, Ocimar Bolicenho, Wanderlei Luxemburgo, Sergio Malucelli, Salada, Marcos Malucelli, Valmor Zimerman e outros mais desmontando o meu Clube Atlético Paranaense e não poder fazer nada para impedir, porque não depende de mim, não sou conselheiro, talvez seja perigoso demais para o meu velho coração.

Não sei até quando suportarei. Se eu morrer antes de ver essa turma fora da Baixada, peço-lhes: façam uma faixa para colocar no meu caixão com os dizeres “eu não concordo com o que eles estão fazendo com o meu CAP”.

Por bons anos eu fui excelente em chacotear, zoar, brincar, tirar sarro, espinafrar, judiar, escrever tirando uma, humilhar, massacrar, enfim, eu era muito bom na arte de gozar dos coxas.

Atualmente devo estar pagando por todos aqueles atos que fiz. Os coxas estão descontando anos e anos de chacota. Agora é a vez deles. Eu gostaria muito de ter um aparelho que pudesse encaminhar, como se fosse uma tecla de encaminhar email, e de posse desse aparelho eu poderia encaminhar todas as gozações que tenho recebido para esse grupo comandado por Marcos Malucelli, gostaria de poder encaminhar a eles todas as humilhações que estão nos impondo.os coxas também têm se mostrado implacáveis na arte de dar o troco.

Provavelmente o Sr. Marcos Malucelli não deva conhecer o seu “Sizinando”, mas eles têm muita coisa em comum. Especialmente na falta de planejamento. Se está em crise, demite-se o “laranja” de plantão, contrata mais, não deu certo descontrata, eles tratam o Clube Atlético Paranaense como se fosse uma bodega que vende pinga e banana.

Analogicamente ao guaranazinho, Malucelli insiste com os churrascos lá no fundo do CT do Caju, insiste com frangos & polentas do Madalosso, tudo ele faz porque quer reviver em mim, o saudodo Canto do Rio FC.

Querido “seo” Sizinando, o senhor aceita ser Diretor de Futebol do Clube Atlético Paranaense? Você será bem melhor que Marcos Malucelli, Ocimar Bolicenho e Valmor Zimermann.



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