Curitiba do Atlético
Não sei se por coincidência ou sacanagem mesmo, Deus, em sua infinita sabedoria, colocou as datas dos aniversários do Clube Atlético Paranaense e da linda cidade de Curitiba próximas uma da outra. Deve ter sido mais um articulação marota do meu Chefe.
Curitiba é linda. Sua beleza está na particularidade de ser diferente das demais cidades do nosso país. Conheci-a ao nascer. Apaixonei-me imediatamente por ela, apesar de toda a sua cruel frieza do mês de julho.
A intensidade da minha paixão acentuou-se mais nos anos 60, quando ainda éramos 200 mil habitantes. Cedinho, eu precisava tomar dois ônibus para ir ao Colégio Militar. Frio de doer, um frio que machucava além da alma.
No Bairro Santa Quitéria passavam dois veículos por dia: o onibuzinho, tipo lotação, importado dos EUA, ia e vinha, todo dia. Levava alguns gatos pingados para o centro da cidade. O agitadíssimo movimento dos veículos de locomoção misturava bicicletas, cavalos, carroças, carrinhos de rolamento e patinetes.
De bicicleta íamos ver os treinos do CAP na Velha Baixada. Os varais cheios de camisas vermelhas e pretas tremulando ao compasso do vento que vinha do lado dos pinheiros lembravam-me Chão de Estrelas do mineirinho Silvio Caldas. .
De lá pra cá Curitiba mudou muito. O Atlético Paranaense também mudou. Daquele intenso movimento das lotações, das carroças, das bicicletas e dos patinetes nada sobrou. As vacas dividiam os espaços com nossas peladas que duravam o dia inteiro.
Meus pais me mandavam buscar adubo orgânico, estrume para a horta e o pomar da nossa casa, sempre cheios de frutas, verduras e legumes. Tínhamos uva, pêra, maçã, alface, couve, cebola, cenoura, e outras coisas mais. Cada fruta na sua época.
A Curitiba de hoje nos impõe um trânsito infernal. Imobilizador em certos momentos. Às vezes os carros engarrafados nos remetem aos velhos tempos daquela acanhada cidade. Como já disseram: eu era feliz e não sabia!
A velha e remendada Baixada se transformou no mais moderno estádio do Brasil. Até a Copa do Mundo de 2014 ela ainda será a mais bela praça de esportes do nosso país.
Da cidade dos 200 mil habitantes a maior torcida era a do Coritiba, carinhosamente cognominado de Coxa. O Atlético não tinha time. Não tinha dinheiro. Não tinha nada além de nós mesmos. Éramos falidos. Só dava Coxa.
Quanto mais apanhávamos maior era a intensidade do nosso amor pelo Atlético Paranaense. Vivíamos um amor forjado pelo orgulho que vinha não sei de onde e do quê.
Agradeço ao meu Chefe por ainda ser um piá curitibano. Agradeço a Ele por ainda ser um piá atleticano. Não gostaria de ser diferente. Apesar de tudo, eu amo a Curitiba do Atlético. Não saberia viver muito tempo longe desses dois grandes amores.
A minha Curitiba anda rápida demais. Corre desordenadamente. Trilha os mesmos caminhos que a cidade de São Paulo já percorreu. Ainda há tempo para corrigir a rota. Falta-lhe, porém, amor por parte dos políticos que a governam.
Precisariam focá-la com olhar mais doce, mais carinhoso, com os olhos além da prancheta fria que ignora os sonhos daqueles que aqui vivem. Parece que ela só tem olhos para uma porção privilegiada. Eles dãos as costas a quem sempre lhes estenderam as mãos.
Como atleticano posso dizer que os coxas são hoje o que fomos ontem. Se quiserem nos alcançar terão de acelerar muito mais os seus passos. A equação não fecha, porque enquanto acelerariam seus passos já teríamos andado bem mais. O crescimento é dinâmico. A nossa base já está concluída, pavimentada.
O Atlético de hoje o Atlético que é presidido pelo Sr. Marcos Malucelli precisa ater-se mais à prancheta fria. Precisa parar com esse olhar doce, meloso, cheio de engano. Precisa parar com esse seu jeito submisso, servil. Tal comportamento não nos levará a nenhum lugar de destaque. Corremos sérios riscos de sermos alcançados e ultrapassados.
Deixando o lado político para outro momento, quem sabe para a próxima coluna, gostaria de dizer que não saberia viver sem o amor que sinto pelo Atlético Paranaense e pela cidade de Curitiba.
Parabéns pelos seus aniversários! Parabéns para vocês, meus grandes amores!