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20 dez 2011 - 9h33

Rusgas

O Atlético é uma instituição, no mínimo, diferente. Me furtarei de utilizar a palavra “grande” porque, para mim, nem mesmo tal adjetivo comporta o seu real tamanho, e também para evitar um tom pedante na escrita. Mas o “diferente”, sob uma ótica despretensiosa e ao mesmo tempo positiva pode cair bem. É, cai sim.

E por que diferente? Ora, acabamos de encarar a realidade de um melancólico rebaixamento após os mandos e desmandos da mais desastrosa direção já vista nos bastidores atleticanos em todos os tempos que, como não poderia ser diferente, culminou no Atlético mais sonso de todos os tempos. Para muitos, outras tantas equipes que vestiram a camisa rubro-negra conseguiram ser piores, tecnicamente falando, do que os comandados de Sérgio Soares, Leandro Niehues, Adilson Batista, mais um pouco de Leandro Niehues, Renato Gaúcho e Antônio Lopes. Contudo, nunca antes um “Atlético” foi tão desalmado quanto este. Mas enfim, são águas passadas – assim esperamos – e não vem ao caso remoer os fatos agora. Voltando ao foco, podemos dizer que somos diferentes porque apesar de tantos pesares, protagonizamos a quarta maior eleição da história do futebol brasileiro, ganhando de lavanda de muitos colegiados eleitorais do nosso Estado.

A alegria do “ser atleticano”, que nós vivenciamos faça chuva ou faça sol, na primeira ou na quarta divisão, não se explica com momento, com fase, com títulos. Queremos voltar a ganhar, voltar a galgar vôos mais altos? É lógico que sim. Não somos parte de uma seita sado-masoquista e sim de um clube de futebol. No entanto, a nossa lealdade ao time que amamos transcende as trapalhadas administrativas, a saudade das taças e a ausência de uma equipe digna dentro de campo. E isso talvez explique o fato de termos o maior corpo associativo adimplente (porque associação em massa para ver uma final e depois esquecer o carnezinho na gaveta não é conosco) do Estado. Talvez isso explique o fato de termos visto o que vimos na última quinta-feira.

Entre mortos e feridos, fato é que o panorama pós-eleição, principalmente na situação atual, tinha tudo para nos oferecer a perspectiva de uma volta por cima. No entanto, não é isso que se vê. Muito se falou, dos dois lados da trincheira, que “o Atlético é maior que uma eleição” ou ainda “finda a eleição, todos voltaremos a ser atleticanos, nem mais, nem menos, que os outros.” Porém, a fogueira das vaidades continua a arder, e o que se vê são verdadeiros poços de rancor recíprocos entre gente das duas chapas.

Que ao invés de zombar da promessa de se ganhar o Mundial Interclubes em 10 anos nas mídias sociais (para adolescentes, “piás de prédio” de plantão, isso seria perfeitamente aceitável, mas tem até quarentão entrando na onda de xingar muito no Twitter), a oposição fiscalize e se faça presente aos trabalhos da alta cúpula, a fim de que sonhos como este se tornem mais fáceis de serem alcançados. Já para os eleitos e seus simpatizantes, que se troque o “derramamento de sangue dos pulhas” por atitudes agregadoras, a fim de consagrar a maior verdade dessa história toda: ninguém é mais atleticano do que ninguém. Nunca foi – e nunca será – característica do Atlético ser um clube de “politicagem”, com rachas entre conselheiros e diretores e um ambiente que mais lembra a bancada de um partido político do que um organismo futebolístico. Logo, prevalecendo essa atmosfera mesquinha, aquilo que poderia simbolizar o nosso recomeço passa a ser um catalisador da atual derrocada. E contrapartida, se todos dermos as mãos e colocarmos, de fato, o Atlético em primeiro lugar, não há quem nos segure. O Brasil já foi prova disso. A América também.

Repito: o Atlético é algo “diferente”. Diferente a ponto de não ter espaço para rusgas. Diferente porque, a sua camisa, só se veste por amor.



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