[Promoção Brasileiro 2001 – 10 anos] O dia em que esqueci de mim
Passei aquela semana que antecedeu o vinte e três de dezembro de dois mil e um num verdadeiro inferno astral. Não dormia direito, não comia direito, não trabalhava direito, enfim não nada direito.
O fato que mais me machucava era o esgotamento dos ingressos colocados à disposição de nossa torcida para a partida em São Caetano. Os três mil lugares acabaram-se com um sopro. E assim um vendaval de angústia varreu minha vida.
Passou segunda, terça, quarta, quinta, passou a semana e eu já conformado por minha esposa, estava disposto a sofrer em frente à televisão. Ver meu time campeão pela TV era uma pena que não queria pagar, logo eu que fiz uma jura de acompanhar meu time em todas as finais que ele viesse a participar. Sofrimento, angústia e eles jogando ali perto, pouco mais de quatrocentos quilômetros de minha casa.
Na noite de sábado para domingo, fui para cama com a expectativa de ter umas horas de sono, se é que conseguiria pregar os olhos, não foi assim, era muita agonia neste peito rubro-negro. Três horas da manhã tomo a decisão. Pé ante pé saio do quarto e vou ao quarto de meu filho então com quinze anos. Acordo-o e digo que estamos indo para São Caetano, eu e ele. Ele, acordado de seu sono juvenil sentencia: Pai, você está louco?
Estava, e assim fomos bater perto das nove horas da manhã num bar próximo ao estádio Anacleto Campanella. Estávamos lá, agora era uma questão de conseguir ingressos. Sabíamos que era uma questão de velocidade e sorte. Comprar os ingressos quentes o quanto antes, pois os mesmos aumentariam seus valores à medida que a hora da partida se aproximasse. Pouco depois, consegui comprar dois ingressos na torcida do São Caetano. Estávamos dentro do campo, se morreríamos do coração ou massacrados era uma questão a ser decidida pelo nosso comportamento dentro do estádio.
Assistimos a partida em meio a palmeirenses, corintianos e outras aves raras, porém mais raros eram os torcedores do São Caetano, ao final todos sabiam que éramos dois atleticanos ali no meio. Não precisou acabar o jogo, aos trinta e cinco minutos comecei a chorar compulsivamente, não vi mais nada a partir de então, e pasmem, fui amparado por um simpático palmeirense que me acalmava. Eu só lembro que dizia para este senhor que a razão do meu choro era pela alegria de ver meu time campeão pela primeira vez.
Terminou o jogo, começou a festa. Saímos do estádio, embarcamos no carro e voltamos. Não sei como coube tanta alegria dentro uma Scenic, nem menos sei como fizemos as cinco horas que separam São Paulo de Curitiba. A medida que nos aproximávamos de casa captávamos sinais das rádios locais falando sobre a festa na cidade e sobre o atraso da delegação em seu embarque. Del tal forma concluímos que daria tempo para irmos até o aeroporto encontrar nossos campeões. Assim fizemos naquela memorável madrugada véspera de natal.
Encontramos o time, carreata, festa na frente da Arena, êxtase total. As quatro da manhã esgotados pela descarga emocional voltamos ao lar. Missão cumprida: Atlético Campeão Brasileiro. Acabou a agonia. Chego em casa, abro a porta, novamente pé ante pé para não acordar ninguém, chego até a sala quando tenho uma surpresa. A sala estava toda enfeitada em vermelho e preto, como bolo, balões e cartazes. Afinal dia vinte e três de dezembro era meu aniversário e nem lembrei da data. Lembrar para que, se o melhor presente da minha vida eu fui buscar em São Caetano. Obrigado Furacão pela estrela que me deu de presente quando completei quarenta e um anos. Eu nunca me esquecerei. Valeu.