O Fala, Atleticano é um canal de manifestação da torcida do Atlético. Os textos abaixo publicados foram escritos por torcedores rubro-negros e não representam necessariamente a opinião dos responsáveis pelo site. Os autores se responsabilizam pelos textos por eles assinados. Para colaborar com um texto, clique aqui e siga as instruções. Confira abaixo os textos dos torcedores rubro-negros:
22 dez 2011 - 9h02

[Promoção Brasileiro 2001 – 10 anos] As glórias do meu passado

Lembro que esperava as quartas-feiras com a impaciência de criança que não tem relógio, imune do passar dos dias por uma eterna infância que ainda vive. Sabia das quartas pelo jeito que as quartas tinham. Não precisava perguntar pra minha mãe, não precisava olhar calendário. Acordava cedo e corria pra casa de minha vó imaginando o que haveria dentro daqueles envelopes, se seria finalmente o Kléber que tanto meus colegas queriam em troca de seus vários Flávios, Alessandros e Fabianos.

Acabava tornando-se sagrado: a porta se abria e minha vó, com o mesmo sorriso de sempre, segurava em sua mão esquerda os contados dez pacotes de figurinha do álbum daquele ano. Daqui de minhas lembranças, olho praqueles dois e sorrio: acho inacreditável como aquele garoto disfarçava todo o alvoroço do peito, como entrava calmo pela porta e tirava de baixo do braço o livro que hoje julgo ter sido um dos mais importantes de minha vida. A cadeira de assento verde, a mesa de toalha de renda. Sentados ali, o garoto e nosso álbum abriam pacote por pacote com a serenidade vista apenas nos olhares que se perdem.

Passaram as quartas e os outros dias também. Passaram os jogos que acompanhei de ouvido grudado no rádio, analisando pelo meu álbum os destaques dos adversários, preenchendo os resultados da rodada que por 19 vezes nos sorriu naquele ano. Passou o São Paulo. Passou o Fluminense. Passou um São Caetano que, pela TV, me assustou ao fazer meu time não me parecer imbatível por alguns momentos. Pela primeira vez naquele ano eu tive medo. Naquele dia, rouco de Alex Mineiro, sabia mais do que sempre soube de que não era a próxima quarta que me ansiava, de que não havia nem haveria de ter jogador ou escudo raro no pacote de figurinha que me deixasse calmo: nada faria o domingo chegar mais rápido.

Daquela semana não me lembro de muita coisa, nem mesmo se abri ou não meus tão esperados envelopes. Veio domingo. Almocei rápido. Fui à casa do meu vizinho, um segundo pai doente de coxa branca e saudável do amor pelo futebol. Vi um primeiro tempo de que não me recordo direito. Daquele jogo lembro-me de minha camisa sem estrela, da janela aberta ao lado do sofá, da vista que me era ofuscada pelo sol toda vez que olhava pelas cortinas. Conheço pessoas que foram em todos os jogos naquele ano, que viajaram com o time para ver um chute cruzado, um rebote e um gol. Queria que pudessem ter estado ali, comigo, pulando por uma sala pequena demais pro que não cabia em mim, pro que me era novo demais para o pouco que sabia de mim. Queria que tivessem sentido o que senti.

Ainda que piá de 10 anos, acreditei de forma incondicional em um time que pra mim não era bom ou genial: era simplesmente o Atlético. Aprendi que ganhar não era questão de sorte ou técnica. Aquele era um time que me fazia feliz, não importando o que fosse ou contra quem fosse. Lembro que meus heróis podiam não ter escudos ou identidades secretas, mas de suas chuteiras emanavam poderes que me faziam ter vontade de fantasia-me de Atleticano todo dia. De fato, daquele domingo eu pouco me lembro do jogo, e a verdade é que pouco faço questão de ter detalhes em mente e cenas pintadas à mão cá dentro da minha cabeça. Daquele título eu guardo a lembrança de ser atleticano e criança, incondicional e inocente.

Há 10 anos brotava um sentimento que não se explica, um arrepio que me cala toda vez que passo pelas catracas da Getúlio. Há 10 anos meu time ganhou uma estrela que doura e pesa meu peito de orgulho. Há 10 anos eu acreditei, com a frágil fé de criança, em um escudo, duas cores e 11 jogadores. Eles não me decepcionaram. O Atlético não me decepcionou. Provaram que eu podia crer na camisa que tanto me orgulha. Naquele domingo eu percebi que não importava mais nada. Qualquer que fosse minha idade, ser atleticano era minha missão, era minha dívida pelo o que havia recebido e que dali em diante sabia que seria pra sempre. Naquele domingo eu não vi meu time ser apenas campeão. Vi nascer cá dentro uma sensação intacta até hoje, que de tudo consegue ser intacta, que nada faz que não crescer a cada dia. Naquele domingo tornei-me eu e atleticano, dois que, de alguma forma, se tornaram um pela eternidade.



Últimas Notícias

Brasileiro

Fazendo contas

Há pouco mais de um mês o Athletico tinha 31 pontos, estava há 5 da zona de rebaixamento e tinha ainda 12 partidas para fazer.…

Notícias

Em ritmo de finados

As mais de 40 mil vozes que acabaram batendo o novo recorde de público no eterno estádio Joaquim Américo não foram suficientes para fazer com…

Brasileiro

Maldito Pacto

Maldito pacto… Maldito pacto que nos conduz há mais de 100 anos. Maldito pacto que nos forjou na dificuldade, que nos fez superar grandes desafios,…