Angústia e recomeço
Como num longo jogo de futebol, daqueles sofridos, quando seu time está ganhando por apenas 1 a 0 e o rival precisa do empate para ser campeão, a história atleticana recente entrou num redemoinho que parece não ter fim. Redemoinho feito de angústia, sofrimento, esperança, tudo imerso numa atroz realidade.
No começo de dezembro do ano passado o Atlético ainda vivia a expectativa de uma fuga do rebaixamento, mas a apática apresentação diante do América Mineiro não deixava muita esperança à torcida. O Atlético precisaria contar com tropeços alheios e também com a vitória sobre o rival no Atletiba.
Atle-tiba esse que foi denominado pela imprensa local de o jogo do século. Sem dúvida um jogo importante e que mostrava duas realidades diferentes: de um lado, o Atlético precisando da vitória e torcendo para o tropeço dos rivais para escapar do rebaixamento e do outro lado, o Coritiba que, após um ano vitorioso, onde conquistou o campeonato paranaense, entrou para o livro dos recordes e foi à final da Copa do Brasil, fez um campeonato brasileiro bom o bastante para chegar na última rodada com chances de conseguir uma vaga para a Libertadores da América. Para isso teria que vencer o rival na Arena.
O que a imprensa esperava avidamente era uma vitória coxa na Arena , vitória que consagraria o Coritiba e empurraria o Atlético para o inferno. Seria a chance da imprensa tripudiar o Atlético e não era uma façanha improvável pois há mais de 3 anos o CAP não vencia o Atlético e mesmo nos seus domínios, nesse período, o Atlético sofreu goleadas vexatórias para o arquirrival.
Em campo, o Atlético comandado por Paulo Baier e contando com a vitalidade de Deivid e o oportunismo de Guerron, conseguiu uma vitória heróica e tirou do Coritiba a possibilidade dele jogar a Libertadores em 2012. Por outro lado, devido a um conchavo escandaloso e até agora mal-explicado dos times mineiros, acabou amargando a queda para a Segunda Divisão.
Nada de confusões, nem arruaças, muito menos destruição de estádio. Apenas uma tristeza que já vinha crescendo e confirmou-se ao final do jogo. Tristeza mas ao mesmo tempo alívio pelo fim da tortura que foi esse campeonato para todos nós torcedores atleticanos.
Essa queda não aconteceu ali, naquele momento, tanto é que no fim do primeiro tempo do jogo do século e com o Cruzeiro goleando o Atlético Mineiro, o que efetivava o descenso do CAP para a série B, não se via um grande desânimo nas arquibancadas. Quem estava ali parecia que já sabia de antemão o que iria acontecer.O mais importante era vencer o rival, tirá-lo da Libertadores, o que de fato aconteceu. O rebaixamento já vinha sendo construído desde 2006, através de péssimas campanhas. Em 2008 só não caiu por causa de alguns milagres, como o gol do Rafael Moura contra o Sport na Arena no apagar das luzes.
Em 2012, a quantidade de erros foi enorme e a consequência natural de tantos erros acabou sendo o rebaixamento. Um castigo para um clube detentor de uma estrutura invejável. Mas estrutura por si só não ganha jogos e muito menos garante a permanência do time na elite do futebol. O planejamento inexistiu. Técnicos e jogadores não se firmaram. Alguns jogadores foram contratados e sequer chegaram a entrar em campo. Em 2011 ninguém saberia dizer qual foi o time titular do CAP. Uma bagunça generalizada. Convenhamos: o rebaixamento foi merecido.
Agora, uma dura realidade espera o CAP. Jogos contra equipes médias e pequenas do futebol brasileiro. Campos em más condições, equipes aguerridas, torcedores enfurecidos. A mesma realidade pré 1995. É como se o Atlético tivesse voltado no tempo. Aquela sensação de que tudo deve ser feito novamente. Uma evolução interrompida. Um retrocesso.
E o então presidente, o Sr.Malucelli, que na sua gestão ganhou apenas o atle-tiba do século, simplesmente desapareceu. Reapareceu alguns dias depois para dar uma entrevista confusa, onde apresentaria números que foram a especialidade da sua gestão do qual ele tanto se orgulhou. Superávits e lucros são fundamentais só que um clube de futebol não é movido apenas por resultados financeiros. Um clube de futebol precisa de vitórias, de conquistas, precisa atrair torcedores, e o Atlético fracassou nesses objetivos. Negligenciou a busca de vitórias e conquistas, objetivos primordiais de um clube de futebol. Preocupou-se apenas com as contas. Fracassou. Tornou-se pequeno e desrespeitado em campo. Muitos clubes no Brasil e no mundo, vivem endividados mas ganham títulos e de algum modo sobrevivem, O Atlético com sua gestão financeira ortodoxa apenas conseguiu um mísero campeonato paranaense em 2009. Por outro lado, colecionou inúmeros vexames: desclassificações, derrotas históricas, confusões extra-campo, vendas de jogadores promissores, más contratações e o fatídico rebaixamento que coroou uma desastrosa gestão.
A entrevista foi recheada de disparates e o ex-presidente também quis colocar na conta de um ex-dirigente, então candidato à presidência do clube a culpa por todas as mazelas. Francamente, beirou o ridículo. No míinimo esse ex-presidente deveria ter feito um mea culpa e assumido a sua parcela de culpa pelo desastre. Mas não o fez. E além de tudo a mal explicada história da contratação do Morro Garcia. Uma verdadeira aventura nas Américas. Pelo que entendi, os dirigentes foram até o Uruguai comprar um jogador e como ele já havia sido negociado com outro clube resolveram comprar outro jogador ali mesmo no Uruguai por uma cifra astronômica. O maior mico da história do futebol paranaense e que revelou todo o amadorismo e despreparo da gestão do ex-presidente.
Com tanta incompetência à mostra, o caminho ficou fácil para a eleição do Sr.Petraglia como presidente do clube. Seguido por uma horda de simpatizantes que chegam a adorá-lo como se ele fosse um Messias, foi eleito por cerca de 2/3 dos sócios votantes. Na outra chapa, mal disfarçadamente, pessoas que participaram da fracassada gestão anterior e que por terem seus nomes associados a essa gestão, colaboraram para a derrota do Sr.Braz. Alguns membros da chapa derrotada foram nomes importantes na reconstrução do Atlético junto com o vencedor, Sr.Petraglia, desde 1995, mas agora, estavam em lados opostos e o Sr.Petraglia, provou que foi quem melhor soube capitalizar para si os êxitos do Atlético nos últimos 17 anos.
Logo após as eleições, que ocorreram numa ensolarada quinta-feira e que pareciam as eleições de uma cidade do interior, com direito a carro de som, jingles, panfletos e tudo o mais, tivemos no domingo aquele jogo que marcou o futebol mundial em 2011: a goleada do Barcelona sobre o Santos. O futebol vistoso do Barcelona conquistou a todos e mostrou a superioridade de um futebol construído ao longo de décadas, de maneira sólida, conjugando a força de um patrimônio com o bom futebol.
O Barcelona acabou se tornando uma referência e ainda mais para uma equipe com um grande patrimônio e tendo que começar do zero como o Atlético. Numa de suas intervenções, o Sr.Petraglia disse que fará do Atlético um Barcelona. Quem conhece a sua capacidade empreendedora e a sua visão sabe que ele vai trabalhar tenazmente para cumprir esse sonho. Se vai conseguir a curto prazo como prometeu, com um título mundial daqui a 10 anos só o tempo mostrará.
Para além das promessas de campanha e tenho guardados todos os folhetos que recebi, para futuras cobranças a esperança por dias melhores. O reinício. O fim de um sufoco e o começo de algo novo, desafiador. E eis que surge o nome de Falcão para técnico. E realmente ele foi procurado pelo Sr.Petraglia. Seria o nome ideal para iniciar uma revolução a la Barcelona. Algo parecido com o que fizera o clube catalão contratando Cruyff como jogador e posteriormente técnico. Seria maravilhoso. Imagine um grande craque do futebol brasileiro, meio campo cerebral, ditando toda uma filosofia de jogo de futebol. Mas tudo não passou de um sonho. Um belo dia, pela internet, o Atlético anuncia uma série de nomes – um monte de uruguaios desconhecidos para compor a comissão técnica e um recado malcriado ao futebol brasileiro, dizendo que técnicos e jogadores nacionais estariam se sobvalorizando.
Procurei alguma informação sobre o novo técnico e vi uma nota num jornal equatoriano dizendo que esse técnico, então treinando o Emelec da cidade de Guayaquil foi quase que escorraçado pela torcida pelo seu mau desempenho à frente do time equatoriano.Um frio percorreu a minha espinha. Me lembrei das esquisitices do passado:Casemiro, Matthaus, Givanildo… experiências que não deram certo. Juan Carrasco será mais uma experiência que não dará certo ou um desconhecido que operará uma nova revolução no futebol do CAP? Só o tempo dirá.
Pensando com otimismo e sem me ater à notícia do jornal equatoriano ou às experiências do passado, temos que lembrar que o futebol uruguaio é hoje o melhor da América do Sul, que ele foi técnico da seleção uruguaia e que prometeu um jogo ofensivo no comando do CAP.
O fato é que temos acompanhado um trabalho árduo por parte do Sr.Carrasco e da comissão técnica charrua que o acompanha. Treinamentos diários, inclusive debaixo de chuva, orientações táticas junto com as avaliações física e técnica dos jogadores que ficaram e com aqueles que voltaram de outros clubes. Dentro de uma certa lógica alguns jogadores devem permanecer, outros devem sair e outro deverão ser contratados. Nas contratações reside a grande expectativa da torcida. Que jogadores virão? O Atlético vai desembolsar dinheiro para montar um time forte para ganhar o campeonato paranaense e voltar à primeira divisão? Não nos iludamos, torcedores. Mesmo com todo o trabalho, com mudança de filosofia, etc. o elenco é fraco e deve ser intensamente renovado. Somente com jogadores que venham para resolver e em várias posições teremos alguma chance de conseguir esses objetivos. Não é hora de economizar com contratações. A hora de gastar (e bem) com jogadores é agora.
O Atlético está fazendo o certo, mas está atrasado em relação aos demais times do Brasil. Outros times já contrataram vários jogadores, já se reforçaram para as várias competições e o Atlético, nada. Nenhum nome foi anunciado. O campeonato parananense começa dia 22. Ou seja, o CAP tem 1 semana para montar um time para o primeiro jogo, contra um adversário de respeito e que tem uma base formada. Futebol não se faz apenas com profissionais extra-campo. Precisamos de jogadores. E bons jogadores. Não aqueles indivíduos que estavam treinando em separado em seus clubes e vem para cá emprestados para fazer parte do grupo. Precisamos de jogadores que resolvam, que decidam, que assumam responsabilidades, com nome, que inspirem respeito.
E para essa estréia no campeonato para o dia 22, além de ainda não termos time, não sabemos em que local iremos jogar. Por causa da impossibilidade de se jogar na Arena o CAP deve buscar um outro local para mandar seus jogos. Ness questão me parece mais correto o CAP mandar seus jogos em outra cidade. Eu penso que os demais clubes da capital não são parceiros quando o assunto é Copa do Mundo 2014. Vivem espezinhando o Atlético na mídia por conta da Copa. O Atlético, por meio do seu atual presidente teve a visão de trazer para si a Copa 2014. Trabalhou muito nos bastidores para isso e conseguiu, apesar de todas as turbulências no caminho. Turbulências provocadas por seus rivais invejosos, pela FPF e por setores da imprensa e políticos ligados aos rivais. Essas pessoas vibraram quando Curitiba ficou fora da Copa das Confederações e quando recebeu apenas quatro jogos da primeira fase da Copa 2014. Então, não nos enganemos. Essa Copa não é da Federação, não é da Cidade e nem do Estado. Essa Copa é do Atlético e não vamos ficar achando que os rivais são co-irmãos, que serão engrandecidos, etc., etc. O Corinthians está pouco ligando para o engrandecimento do São Paulo ou do Palmeiras.Está construindo seu estádio, não se importa com as críticas a respeito do financiamento das obras e outras. E se depender do Corínthians ele pisa nos rivais. Aqui no Paraná parece que o Atlético tem que ficar se justificando e dando porquês para tudo. Parem com isso! Parem com essa complacência, de ser bonzinhos e medianeiros com os rivais. Esses rivais querem a ruína do Atlético e estão morrendo de inveja dessa Copa na Arena.
Então tendo essa situação como pano de fundo, a atitude mais sensata seria então mandar os jogos nesse período de transição para outra cidade próxima. Por exemplo, Paranaguá. Cidade próxima, de povo acolhedor, com um estádio novo e confortável, o Gigante do Itiberê com capacidade para vinte mil pessoas. E ainda seria evocada aquela conquista histórica de 1970 quando ganhou do Seleto por 4 a 1. Não seria nenhum sacrifício jogar lá. Pelo contrário. Daria até pra fazer um marketing com a população local. Estejam certos, defensores do mando de campo no C.Pereira ou V.Capanema, que muitos sócios e torcedores não irão a esses estádios e acho até que o Atlético perderá sócios. O tiro vai sair pela culatra. E depois não tenhamos pena desses rivais. 2013 já está aí, os meses passam rápido e logo a Arena estará construída. Não vamos nos enrolar em briguinhas tolas por causa de estádio, que só joga o holofote na cara de quem não merece. Não demos nem um centavo para essa turma invejosa.
Seria até bem interessante viajar para Paranaguá para ver jogo do CAP e fazer um turismo pela região.
Quanto ao Coritiba não querer alugar o estádio, ele está no seu direito. Ninguém é obrigado a alugar sua propriedade se não quiser. O Coritiba já estipulou o valor do aluguel de campo por módicos R$250.000,00 por jogo e, logo depois, pressionado por sua torcida, negou-se a fazer o aluguel. Então, não vejo sentido nessa insistência em querer jogar no estádio do Coritiba.
Se o Atlético 2012 será um time vencedor, se ganhará títulos, não se sabe. Se vai jogar em Curitiba ou em outra cidade, também não. Se a equipe será uma equipe para entrar para a história também não se sabe. Só esperamos que essa administração devolva a todos nós atleticanos a alegria de sermos rubro-negros em Curitiba, que resgate o nosso orgulho e inicie uma nova etapa de conquistas. Eu acredito em um bom 2012 e com a estrutura fortalecida e com uma mentalidade vencedora, os anos vindouros deverão ser melhores ainda. É preciso que o Atlético reencontre o caminho que o estava levando a ser um dos grandes do futebol brasileiro, caminho esse que foi interrompido nos últimos anos por culpa de uma mentalidade apenas voltada à administração financeira. Os 12 clubes grandes do futebol brasileiro são grandes por causa de sua história, de seus feitos e não por causa da gestão financeira exemplar. O Atlético só será grande se impor respeito, se ganhar títulos, se alcançar grandes vitórias. Vitórias como aquela de 2004 quando Dagoberto, Jadson e Fernandinho, meninos criados no Atlético, destruíram o Corinthians em pleno Pacaembu por 5 a 0. Disso é que precisamos. Vitórias e conquistas que nos tornem respeitados. Ganhar de times fortes na casa deles.Eu confio que o Atlético apesar da dramática situação atual, conseguirá, com a força da sua torcida e a competência dos seus dirigentes retomar o bom caminho.