Obrigado, Seu Sico
Neste sábado pela manhã fui até uma lavanderia na rua Francisco Derosso, no Xaxim. Chegando ao local, uma confortável casa com a lavanderia instalada na edícula aos fundos, um quadro estrategicamente pendurado na parede da lateral-direita me chama a atenção. Com as beiradas carcomidas pelo tempo, a foto de um esquadrão atleticano em preto e branco com o Estádio Belfort Duarte ao fundo.
Confesso que não acreditei que o quadro pertencia à senhora que gentilmente me atendia. Observador que sou, conferi a mão esquerda dela, e lá estava uma bela aliança dourada no anelar. Ao final dos trâmites, indaguei: ‘Com quem eu falo para comprar esse quadro?’
Perguntei já sabendo que o quadro não estava à venda. Perguntei para ganhar uma história. Na confortável casa, na rua Francisco Derosso, no Xaxim, mora Seu Sico. Seu Sico jogou nos juniores do CAP no início da década de 1970, junto com Nilton Batata.
Durante uma hora e meia o quadro com as beiradas carcomidas pelo tempo, a foto de um esquadrão atleticano em preto e branco com o Estádio Belfort Duarte ao fundo, foi o pano de fundo para uma aula de amor ao futebol, de amor ao amor pelo futebol.
Seu Sico, apesar de ser um incrível Ponta de Lança que marcava muitos gols em jogadas de Nilton Batata, não resistiu à falta de estrutura que nosso clube tinha na época. O Presidente Lauro Rêgo Barros devolveu em suas mãos o contrato de gaveta que o prendia ao Atlético e Seu Sico foi à luta da vida. Jogou no futebol amador por amar o jogo.
Seu Sico se chama Henrique e leva o apelido, que tanto destaco neste texto, por não ser atleticano. Seu Sico era torcedor do Água Verde. Um dia iam jogar Ferroviário e Água Verde. Na escola, todos torciam para o Coxa, para o Atlético e para o Ferroviário. Sacanearam Seu Sico falando que um tal de Sicupira ia marcar três gols naquele jogo. A bola rolou e Sicupira fez exatamente o que haviam prometido ao Seu Sico. O placar de 3 a 1 para o Ferroviário ecoou na escola de Seu Sico durante aquela semana. Só o chamavam de Sicupira. Como bons brasileiros que gostam de encurtar as coisas, Sicupira virou Sico para os amigos e familiares de Henrique.
Seu Sico, o senhor renovou minha paixão pelo futebol, para desespero de minha namorada, Bruna, que tinha a esperança de não me ver quase infartar a cada passe errado ou gol perdido.
Vida longa ao Seu Sico e ao quadro com as beiradas carcomidas pelo tempo, a foto de um esquadrão atleticano em preto e branco com o Estádio Belfort Duarte ao fundo.