A curiosa história da Branca de Neve Atleticana
Era uma vez uma linda menina que se chamava Marina. Ela namorava um menino muito lindo chamado Rafael Lemos (cabotino, não: realista!). Ambos tinham 19 anos, pois a história de hoje aconteceu em 1995, no Domingo de Páscoa. Após o almoço, Marina e Rafael foram ao ‘estádio’ Pinga-Mijo, também conhecido como Erasmo Carlos – o Tremendão, pois lá aconteceria o Atletiba de Páscoa eis que, como já disse, era Domingo de Páscoa.
Marina e Rafael Lemos formavam um belo casal unido pelo amor em geral e pelo amor ao Atlético Paranaense em específico. A coisa corria na mais santa paz naquele domingo até que a maionese desandou. O xoxa fez um, dois, três, quatro, cinco gols. No último tento, Marina caiu nos braços de Rafael Lemos e dos braços do Rafael Lemos ela caiu no chão: desacordada.
E desacordada permaneceu por incríveis 17 anos, só vindo a acordar na última sexta-feira, dia 06 de abril de 2012. Ao despertar, Marina chamou pela mãe. Imediatamente, a mãe foi ao encontro da filha e, emocionada, exclamou: ‘Marina, você acordou! Graças a Deus! Graças a Deus!’.
Marina, achando aquilo um exagero, limitou-se a perguntar: ‘Sim, mas por que o espanto? É a primeira vez que você me vê acordar, mãe?’. E diante da observação da filha, a mãe tratou de explicar os porquês de sua admiração e contou para Marina que a moça, convertida numa espécie de Branca de Neve Atleticana, estivera puxando um ronco que já durava inacreditáveis 17 anos!
Ouvindo a insólita narrativa materna, Marina – mais vaidosa do que noiva de Juiz de Direito – saltou da cama e foi se olhar no espelho, para ver se a passagem dos tais 17 anos tinham operado nela algum efeito danoso (rugas, celulite e/ou cabelos brancos).
Para seu júbilo e contentamento, o cochilo prolongado tinha feito o milagre de manter intocados o belo rosto e o corpo escultural. Marina conferiu o bumbum no espelho, inspecionou o umbigo e passando as mãos pelos seios, indagou saudosa: ‘Ó Rafael Lemos, por onde andas tu, meu amor?’ (Shakespeare só foi o que foi porque Rafael Lemos ainda não tinha nascido!).
Dado o suspiro erótico-nostálgico da filha, a mãe resolveu ligar para o Rafael Lemos (eu, no caso) e avisar que Marina havia acordado, depois de incríveis 17 anos sobre o colchão.
Rafael Lemos, que de bobo só tem um amigo Otorrino, chegou à casa de Marina em exatos 57 minutos (foi o tempo de pegar o busão e ir de ‘A’ para ‘B’, mas em Curitiba o busão demora…) e logo foi entrando no quarto (e só não entrou nu, pois a mãe da moça insistia em ocupar o cenário! Sogra é sempre sogra!).
– Marina, você acordou!
– Sim, Rafael, eu acordei!
(Esse diálogo aí de cima ficou muito ruim, mas não consegui imaginar coisa melhor). Avancemos…
Os dois se reencontraram e – papo vai, papo vem – Marina se lembrou do jogo da Páscoa de 1995.
– Rafa, depois do quinto gol dos ervilhas eu caí nos seus braços (a moça teve esse privilégio!) e depois não me lembro de mais nada! O xoxa chegou a fazer o sexto?
– Não, Marina! Aquele jogo acabou 5×1 pros verdes e foi um domingo triste, porém, por paradoxal que possa parecer, foi um domingo maravilhoso para as coisas do Clube Atlético Paranaense!
– Mas como é que pode ser maravilhoso um domingo em que a gente tomou um sarrafo de 5×1, Rafa? (Aqui vai um conselho: uma moça não deve falar a palavra ‘sarrafo’, pois não fica bem na boca de uma dama).
– Marina, é que depois daquele 5×1 surgiu na vida do Atlético um homem chamado Mario Celso Petraglia!
Quando eu falei ‘Mario Celso Petraglia’, a Marina ficou me olhando com cara de ‘nunca ouvi falar!’ e aí eu tive de atualizar para ela a vida do CAP nos últimos 17 anos, tempo em que ela passou babando na fronha.
Contei para ela do soco que o Petraglia deu na mesa, do time que subiu em 1995 para a Série A, da demolição do velho Joaquim Américo, da construção da Arena da Baixada, da indicação da Arena para a Copa do Mundo de 2014, dos 5 Paranaenses conquistados na Era Petraglia, das três Libertadores disputadas, do nosso vice na Libertadores de 2005, do jogador Atleticano que foi pentacampeão do Mundo com a Seleção brasileira em 2002, da nossa Camisa que foi parar na Cápsula do Tempo, do Campeonato Brasileiro que conquistamos em 2001, do vice nacional em 2004, do CT do Caju e do Projeto que nos levará a ser um dos maiores Clubes do Mundo!
Ela olhava para a minha cara como se dissesse: ‘Que mentira!’ e foi aí que eu saquei um laptop (ela ficou admiradíssima com o moderno aparelho!) e passei a acessar os sites para provar pra ela que tudo isso tinha realmente acontecido. Ao cabo de três horas de intensa navegação, Marina estava definitivamente maravilhada e convencida: o Clube Atlético Paranaense, enfim, havia se tornado um Clube grande no cenário do futebol brasileiro!
Admirada, ela observou:
– Rafa, o Petraglia é um gênio, não?
Respondi o óbvio:
É, Marina! O Petraglia é um gênio!
Ela prosseguiu:
– Já imaginou conhecer o Petraglia, Rafa?
Respondi o inacreditável:
– Eu conheço o Petraglia, Marina!
Como ela duvidou, mostrei no laptop uma foto na qual aparecem eu e o Petraglia. Ela ficou pálida de espanto e quis saber como é que eu havia conhecido o Petraglia. Recorri outra vez ao laptop, mais precisamente ao google, e mostrei para ela algumas colunas que eu havia escrito nos últimos oito anos. As colunas explicariam as coisas!
A Marina navegava pelas minhas colunas e ria: ‘Olha a tua caricatura!’… E ficava curiosa: ‘Essa história da pipa é verdade?’… E ficava triste: ‘Tadinha da menininha negra que morreu!’… E ia tirando suas conclusões: ‘Você gosta mesmo do Petraglia hein, Rafa?’… ‘Ele salvou o nosso Atlético!’… e depois ria de novo: ‘Que puxa-saco você hein???’, pra de novo concluir: ‘Ele salvou o nosso Atlético! Ele merece nossa admiração, nosso respeito!’.
E também eu tive de contar pra Marina que nos últimos 17 anos nem tudo tinha sido cor-de-rosa na vida do Atlético. Falei pra ela do MM e do rebaixamento que ele, como herança maldita, nos deixara. Uma vez mais recorri às minhas colunas. A Marina lia e ficava indignada: ‘Como ele pôde??? Sujeitinho incompetente! Esse MM é o pior dirigente de nossa História!’, mas depois eu a tranquilizei: ‘Olha aqui, Marina: o Petraglia voltou em dezembro do ano passado! Pode ficar calma: o Petraglia voltou!’.
E Marina lia as notícias e as colunas com brilho renovado nos olhos: ‘Ele voltou! A Arena vai ser concluída para a Copa de 2014! O Atlético tem um projeto para o futuro! O Atlético terá um futuro, Rafa!!!’.
Feliz da vida, Marina – recém acordada – só agora se dava conta, ao me olhar com mais atenção, que o tempo para mim passara.
Se ela estava intacta, não se podia dizer o mesmo de mim. Marina reparou nos meus cabelos brancos e nas entradas produzidas pela falta dos cabelos. Descobriu no meu rosto algumas rugas e não lhe foi difícil constatar o aporte de pelo menos 18 quilos concentrados principalmente na minha barriga proeminente. Tentei me defender:
– Passaram-se 17 anos, Marina! Não tenho mais 19 anos! Botar o Atlético de novo nos trilhos foi um trabalho difícil até para quem, como eu, só escreve umas coluninhas…
Ela sorriu. Pediu-me que lhe deixasse o laptop para que pudesse se atualizar, afinal ficara 17 anos dormindo. Deixei com ela o computador, criei-lhe uma conta (marina_de_neve@gmail.com), ensinei a escrever os e-mails e deixei com ela meu endereço virtual. Fiz mais. Coloquei-me à disposição dela: ‘Marina, qualquer dúvida, me passa um e-mail que eu te respondo!’.
Assim ela fez. Os e-mails foram chegando e as respectivas respostas foram sendo prontamente disparadas.
‘O que era o CAP4EVER, Rafa?’ – Minha resposta na ponta da língua! ‘E CAPGIGANTE?’ – resposta na lata! ‘Quem é o Catraca? Quem é Napo? Cezar Rinaldin? E Broda, quem é?’ – e lá se foi mais uma leva de esclarecimentos!
Até que ela quis saber: ‘Quem é Edith Aragão que você tantas vezes cita em seus textos?’. Em face da minha resposta sincera, Marina – a Branca de Neve Atleticana – me mandou uma mensagem que é melhor não reproduzir, sob pena de matar de susto os Sete Anões (na mais branda das expressões, a princesinha boca-suja me chamou de Pluto e depois bloqueou/deletou o meu e-mail).
Não é à toa que as palavras ‘ciúme’ e ‘crime’ se parecem tanto.
Ah, as mulheres: o que seria deste Mundo sem elas? Cinderelas, Brancas de Neve, Belas e Feras: sem elas este Mundo seria um rascunho desanimado!
E assim se contou a história de uma menina linda e Atleticana que se chamava Marina. Ela namorava um menino muito lindo chamado Rafael Lemos. Ambos tinham, em 1995, 19 anos. Daí ela dormiu por 17 anos; o Petraglia apareceu pra salvar o Clube Atlético Paranaense; e o Rafael Lemos… bem: o Rafael Lemos não vai ter salvação nunca!!!
(E como dizem os finais dos desenhos da Disney: THE END!)