Está difícil
Faz algum tempo que falar de Atlético se tornou um exercício de aborrecimento. Somos uma nação dividida, com brigas intermináveis que nos colocam numa situação de fragilidade diante dos nossos maiores rivais. Nos últimos três ou quatro anos, ganhamos um miserável clássico. Ficou, naquele dezembro de 2011, o gosto de ter evitado a classificação dos coxas para a Libertadores, o que é pouco. Não há como extrair alegria de uma partida em que fomos rebaixados.
O fato é que os Atletibas estão cada vez mais previsíveis. Invariavelmente, somos candidatos a saco de pancadas. Seja pelas invenções de técnicos bizarros, seja pela falta de vontade dos nossos atletas, seja pelo despreparo psicológico do time, seja pelos equívocos de arbitragem. O que se viu, em mais um domingo triste, foi a reexibição desse velho e desgastado roteiro. Entramos em campo com uma formação que parecia razoável. Não deixamos de atacar, mesmo tendo sofrido um gol logo aos dois minutos. Mas aí veio o destempero de Guerrón, que repetiu a si mesmo e ao Manoel de outras ocasiões parecidas. De tão gritantes, nossos erros esconderam os impedimentos que deveriam anular um ou dois gols do adversário, o que também não surpreende mais. Perdemos para nós, e não para o juiz, eis a verdade.
Fico a me perguntar, então: por que só os nossos agem dessa forma? O que acontece que o pessoal de lá, do outro lado, e só o pessoal de lá, parece ter equilíbrio e malícia para encarar um clássico? A malícia e a vontade que nos faltam? Qual a razão de tanta diferença? A cena já não surpreende: eles e o seu conjunto de onze, íntegro, e nós à espera do apito final na sempre mesma desvantagem, levando gols humilhantes nos descontos, em frangalhos e desfalcados de peças essenciais.
Algo de estranho acontece no Atlético contemporâneo, no Atlético da modernidade e da suntuosa (e agora destruída) arena. Alguns anos atrás, derrotas para os coxas provocavam revoluções; hoje, despertam o tédio. É possível, num quadro assim, ter esperança para a decisão que se avizinha? Não sei. Sei, apenas, que sinto falta da alegria que antes nos impulsionava para a luta. Faz tempo que falar do Atlético está difícil.