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9 jun 2012 - 15h13

‘Lembra-te: tu és mortal’!

O sistema presidencialista é bem claro: o chefe faz o que quer e não tem que dar satisfações a ninguém. A ele é dado todo poder para fazer e desfazer. Tal regra se aplica a todos os agrupamentos sociais como associações de bairros, clubes recreativos, clubes de futebol, e por que não, aplica-se também ao comando do país. É um princípio draconiano, mas é assim que funciona a coisa.

Contudo, se há resquícios injustos no exercício do poder, se não há o devido equilíbrio das forças democráticas na direção das coisas, como se manter por muito tempo no comando, e de forma incontestável?

A história traz exemplos duríssimos do emprego da força para a manutenção do poder. Ainda bem que ela também contempla que isso não tem dado muito certo. Cedo ou tarde a rebelião se instala e o poder único se desfaz. Há casos persistentes, duradouros, como se vê em Cuba. Se até no Oriente tais ditaduras estão sendo derrubadas, é sinal de que o poder único não é bom.

Para se manter no poder, para se ter as rédeas nas mãos, a primeira atitude do poder único é a de controlar as mídias. É importante tê-las nas mãos. Dominar a opinião é imperativo para quem quer se manter no poder, seja para realizar as obras que se propôs fazer ou somente para exibir tolas demonstrações efêmeras de poder.

O ponto “G” da coisa está aí: até onde se pode ir. Onde se situa a linha que separa a vontade de realizar obras e a vontade do poder para satisfação do próprio ego. Penso que é nesse exato momento que as grandes ditaduras presidencialistas se perdem. O homem é, realmente, um grande imbecil. Grosso modo, ele se perde nesse exato momento.

Lembra-te: tu és mortal! Esta frase era cochichada aos imperadores para que o sucesso não os cegasse, não os enlouquecesse. Como se fosse possível controlar a obsessão pelo poder do supremo imperador apenas com uma frase (risos).

Controlar as mídias é tarefa dificílima, além de extremamente onerosa. A opinião nesse país custa muito caro. É a famosa prática do “jabá”. Todos sabem que há uma guerra muito grande entre a Veja, Isto É, Capital, Época, Caros Amigos, Rede Globo, Record, Gazeta do Povo, Tribuna do Paraná, Paranaonline, Rádios Banda B, Transamérica, etc. Cada um quer vender o seu peixe da melhor forma. Nesse fogo cruzado está o povo.

Contra tudo e contra todos, há o exercício do poder feito de forma prática e objetiva: o povo quer saber mesmo é de comida na mesa, prestações em 60 vezes nas Casas Bahia, carro zero em 72 vezes, e que o preço da “cachaça” se mantenha razoável, é disso mesmo que o povo gosta.

Por que este que lhes fala está fazendo esse floreio todo, o que quer dizer, afinal?

E no futebol, como isso funciona? O que são comida na mesa, prestações de 60, 72, 120 vezes para se conseguir as coisas? O que é a “cachaça” de todo dia?

O Atlético Paranaense tem um presidente que exerce o poder de forma única. A ele é dado todo o comando. Ele faz e desfaz. Contrata e demite quem ele quer. Ele tem o controle nas mãos. Os sócios e o Conselho Deliberativo deram-lhe tal poder. O grande mote da campanha do presidente, Sr. Mario Celso Petraglia, foi o de construir a mais bela, prática e rentável Arena do país. Ali se realizaria a Copa do Mundo de 2014. Sem o apoio dos sócios e do Conselho Deliberativo ele não teria o respaldo necessário para executar tal obra.

Sem entrar em detalhes maiores, todos sabem das dificuldades enfrentadas, da verdadeira maratona que ele teve de fazer para realizar a sua grande obra. Às vezes ele colidiu com obstáculos quase intransponíveis. Um a um ele foi vencendo-os, derrubando-os. Ninguém mais duvida que ele concluirá de forma magnífica a sua grande obra, que já tinha planejada em 1995. Isso é fato. Petraglia deu aulas de como as coisas devem ser feitas, mesmo num Estado tão autofagista como o nosso Paraná.

Sei que vocês ainda não estão entendendo aonde quer chegar este que lhes escreve. O que este maluco quer, realmente, dizer?

Todos também sabem que o Petraglia tem habilidade zero para lidar com a imprensa e que também não tem costume de dar “jabᔠa ninguém. E mais, não tem interesse de aprender tais práticas no estágio final da sua vida. Como ele mesmo diz: “não tenho que provar nada a ninguém”.

Aí fica difícil para o Petraglia: fazer uma obra do porte da Arena; propor-se a fazer a Areninha Multiuso; dirigir um time de futebol com torcedores fanáticos e malucos como este que lhes escreve; controlar a vaidade humana dos seus auxiliares mais próximos; ter de lidar com o ego dos jogadores de futebol, seres complicadíssimos, acostumados a muito mimo e pouco retorno em campo, e ter de enfrentar uma mídia cada vez mais tendenciosa, maldosa e cruel, realmente não é tarefa para qualquer um.

Se o Petraglia fosse como qualquer um dos seres que gravitam em torno do Atlético Paranaense, ele já teria sucumbido. Mas, todas as coisas que ele fez e faz ainda é pouco. Será preciso muito mais.

O atual presidente fez uma obra extraordinária ao longo desses anos todos. Deixou como legado a Arena da Baixada, o CT do Caju, e fez do atleticano um torcedor acostumado a grandes realizações e conquistas. Com o tempo houve um desgaste enorme entre as partes envolvidas nesse processo. Os resultados em campo deixaram de existir e o resultado foi desastroso. O Atlético viveu os últimos três longos anos de puro martírio que culminaram com o rebaixamento.

O rebaixamento e a negligência da administração anterior colocaram Petraglia novamente no comando do Atlético Paranaense, não sem antes de prometer grandes realizações como a conquista do campeonato paranaense, Copa Brasil e a subida para a série A, já no ano de 2012. A perda do paranaense e a desclassificação da Copa Brasil foram rapidamente assimiladas pela torcida. Ela sofreu, mas digeriu.

A história está se repetindo. As mídias estão cada vez mais furiosas e ativas. Há um descontentamento visível por parte de alguns sócios.

Que Petraglia construirá a Arena FIFA e a Areninha Multiuso ninguém duvida. Afinal, se não há dúvida sobre isso, como a história de 2008 se repetiria?

De nada adiantará as arenas concluídas. Se cortarem os benefícios do Bolsa Família, se cortarem os prazos de financiamento do carro zero, se a comida começar a faltar na mesa do povo, se as cotas sociais do ensino superior deixarem de existir, se a seleção brasileira fracassar no mundial de 2014, tudo isso de nada adiantará. O poder presidencialista será colocado em xeque-mate através do voto democrático. É desse modo que a coisa funciona.

Remetendo-se ao Atlético Paranaense, se o time não subir à Série A, de nada adiantará a conclusão de mais 5 arenas. O povo atleticano tirará o Petraglia e o seu grupo do poder, e o Atlético correrá o risco de ser obrigado a viver mais um período horrível da sua história recente. Fosse eu o Petraglia, ficaria com um olho no futuro e o outro no presente.

Sinceramente, as contratações feitas até agora são bem melhores que as da administração anterior, mas estão aquém das necessidades do atual momento crucial que o Atlético vive. O povo não suportaria mais três anos de angústia. Os danos seriam irreparáveis.

Bem disse o filósofo Karl Marx: ‘A história se repete, a primeira vez como tragédia e a segunda como farsa”.

A oposição está alerta e atuante. Eles têm se movimentado de forma silenciosa, estão se organizando há muito tempo, desde o primeiro dia pós-eleição. Eles conhecem o lado vulnerável do Petraglia. A imprensa de forma geral também está se movimentando e auxiliando-os nisso. Não se pode esquecer que com a consolidação do projeto haverá um orçamento anual de aproximadamente 70 milhões de reais. É um dinheiro que já provoca cobiça de muitos.

A intenção da fala deste que lhes escreve é somente a de ajudar o Atlético Paranaense. Petraglia é o presidente legalmente eleito. A grande maioria dos sócios ainda está com ele. O Conselho Deliberativo do clube também está com ele. Não se quer que a história se repita em forma de tragédia e tampouco de farsa. O povo atleticano quer um futuro melhor, estável e duradouro. Não subir à Série A com o Petraglia seria muito mais devastador que a queda para a Série B do Malucelli. Não seria justo que o plantio que está sendo feito pelo Petraglia fosse colhido, novamente, por outrém. Sem sucesso no futebol, de nada adiantará a conclusão das Arenas. Definitivamente seria o fim do sonho de se chegar à terra prometida.

Espera-se, sinceramente, que os homens que estão ao lado do Petraglia possam cochichar-lhe aos ouvidos: “Lembra-te: tu és mortal”!



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