Carrasco fala
O ex-treinador do Atlético, Juan Ramón Carrasco, concedeu entrevista coletiva em sua residência na tarde desta quinta-feira (14), antes de deixar Curitiba. Comunicado de sua demissão na última terça, o uruguaio demonstrou surpresa com a atitude da diretoria atleticana, que comunicou o desligamento da comissão técnica após o treinamento comandado pela manhã no CT do Caju.
Carrasco iniciou suas explanações dizendo que tinha as estatísticas de seu trabalho na cabeça, que sua metodologia era transparente, mas afirmou não saber se era peculiar no Atlético ou em todo o Brasil o “burburinho” após uma derrota – no caso, para o CRB, no último sábado. “A maior surpresa é que foram dois resultados adversos. Não caiu a ficha. Não fico triste e nem de cabeça quente com ninguém, mas estou realmente surpreso”, revelou.
Quando chegou ao Atlético, no dia 26 de dezembro de 2011, Carrasco declarou que conversou com o presidente Mario Celso Petraglia sobre jogar como o Barcelona. “Ofensivo com três atacantes, sendo dois pontas abertas. Ganhar de muitos gols contra times pequenos e classificar para copas internacionais. Essas eram as filosofias”, disse.
Juan Carrasco ainda revelou ter propostas de clubes de fora do país e deixa Curitiba nesta sexta-feira. Acompanhe abaixo todos os comentários do ex-treinador:
JOGADORES
“Nós sempre pedimos para que os jogadores jogassem com raça. Para nós, um bom jogador é aquele que tem garra, vontade de jogar, que fica em campo 90 minutos. O que impressionou é que os jogadores brasileiros sentem muito jogar fora de casa. Sempre pedi para ficarem tranquilos quanto a isso, não terem medo da bola e atacar. Sempre jogando bem. Quem joga melhor é quem ganha. Isso é garra pra mim. Jogadas ensaiadas, jogar com três atacantes”.
CHEGADA AO ATLÉTICO E SURPRESA NA SAÍDA
“Futebol é simples. Quem chega mais vezes frente ao gol, tem mais chance de ganhar. Não significa que ele sempre vai ganhar, mas tem muito mais chances. Foi em cima dessas bases que vim ao Brasil treinar um time no futebol brasileiro, que é o melhor futebol do mundo. Chegamos e em pouco tempo vimos uma desorganização, pois como a equipe tinha caído para a segunda, não sabíamos quais jogadores ficariam e era preciso formar uma equipe para ganhar o Paranaense. O Mario deixou claro que era fundamental ganhar o primeiro turno para acalmar os ânimos e conquistar a torcida. Ou seja, fizemos a primeira parte e depois perdemos nos pênaltis. A Copa do Brasil era uma ilusão, algo que nunca foi colocado como objetivo principal. E ainda assim perdemos para o Palmeiras, que ontem fez 2 a 0 no Grêmio fora. No Brasileiro a ideia não é ser campeão, e sim subir. Por isso a surpresa. Íamos jogar sábado em casa e ganhando a partida atrasada estaríamos próximos dos quatro primeiros com muito campeonato pela frente”.
FRUSTRAÇÃO
“Por isso dói. Não levar o time para a primeira, nunca ter jogado na Arena e desfrutar dessa conquista. Ainda temos a questão das famílias, de fazer malas….”
PROBLEMAS
“Acho que não deu certo pelas diferenças culturais. Coisas do tipo falarem que Baier e Ligüera não podem jogar juntos, ter que se resguardar quando joga fora de casa, no 4-4-2. Vamos para casa pois aceitamos as regras impostas pelo Atlético. Acreditávamos que fazendo isso estaríamos aprendendo como profissionais, agregando sabedoria de diferentes culturas”.
AGRADECIMENTOS
“Saio agradecido ao Atlético pelo fato de terem acreditado no nosso trabalho, de terem nos buscado no Uruguai. Ao pessoal do CT, a torcida e aos jogadores, vocês da imprensa. E tomara que não seja uma despedida e sim um até breve”.
INTERFERÊNCIAS NAS ESCALAÇÕES
“O contato com o Sandro (Orlandelli) sempre foi respeitoso. As diferenças podiam existir mas sempre com diálogo, como em qualquer profissão. O Alan Bahia não jogava pois quando chegou estava num ritmo diferente do que nós gostaríamos. Eu não pedi o Alan Bahia, mas uma vez que ele está no clube precisa ter a oportunidade como qualquer outro. Pedi para ele mudar a forma de jogar pois ele era lento, mas sabe jogar com a bola nos pés”.
CONSULTA SOBRE JOGADORES
“Realmente nós indicamos os dois (Gabriel Marques e Martín Ligüera) e também o Ronaldo que jogou comigo no River (URU), muito bom jogador. Indiquei porque era brasileiro e alto, me parecia bom jogador. O Atlético trouxe o Ligüera e questionou-se muito o Marques, mas o trouxeram. Os demais eram indicações do Sandro e/ou da diretoria. Eu só passava as características e perguntava o estilo de jogo. Estando de acordo para mim, ok. Acredito que sempre vão trazer o melhor para o clube”.
IMPROVISAÇÕES
“O caso Manoel eu assumo tudo porque a gente estava com velocidade, mas nada de altura. Escolhi o Manoel porque ele tinha um bom cabeceio e a gente estava com muitas oportunidades e nas bolas altas não tínhamos centroavantes com essa característica”.
RICARDINHO
“Ele se dispôs a jogar onde eu quisesse, sempre tivemos um diálogo franco. Ele não jogou porque ou teve contusão ou alguma doença. Nunca pedi para ele jogar como volante”.
GUERRÓN E MORRO GARCÍA
“Isso é assunto interno do clube. Não seria certo eu falar isso aqui e agora. Tudo o que aconteceu nós aceitamos. Se vocês querem saber a verdade tem como ir atrás. Nao sou de ventilar possibilidades”.
DIFERENÇAS
“Foi a cultura. Por que temos que mudar quando jogamos fora? Além disso, por que ninguém me deu um ultimato?”
PAULO BAIER
“O Paulo sempre jogou quando jogamos como visitantes. Na última terça-feira eu falei: ‘Paulo, você vai viajar conosco para Maceió?’. Ele falou: ‘Beleza, estou dentro’. Tanto que montei o time pensando nisso. Daí no amistoso contra o Trieste pedi para que ele jogasse dois tempos de 15. Depois chegou para nós que ele estava machucado. Ali conosco foi muito bem, mas depois chegou essa informação. Eu e ele chegamos a um acordo. Sobre os treinos físicos, sempre tivemos um bom relacionamento, Paulo sempre foi respeitoso”.
RELACIONAMENTO COM PETRAGLIA
“Quando pediram para eu trocar o esquema, cheguei a me questionar sobre uma saída, mas pensando na família e na possibilidade de crescimento na carreira, acatamos. O Petraglia quando ia ao CT sempre foi afável, conversava com todos. Nunca interferiu pedindo jogador, nada disso. A única coisa é que aqui no Atlético zagueiro era zagueiro, volante era volante. O Foguinho foi muito bem como zagueiro e foi muito importante nas bolas aéreas. Eu ia pedir exatamente isso após o jogo desse sábado. Queria fazer igual o nosso segundo tempo contra o CRB. O primeiro tempo foi horrível, eu queria voltar ao 4-3-3. Queria isso já para o jogo contra o Ceará, se com três atacantes não desse certo era outra história. Mas tudo se precipitou”.
TRABALHO
“Eu só posso agradecer ao presidente. São pressões externas e diferenças culturais. Existem cobranças para todo mundo. Elas são diferentes para cada pessoa. A grande diferença é que eu queria usar três atacantes sempre. Tenho certeza que os nossos melhores jogos foram com os três na
frente. Se não fôssemos nós, acredito que usariam três, quatro volantes”.
BRIAN LUGO
“Eu disse que era uma boa contratação pois ele é muito potente, mais ainda que o Harrison. Mas não foi minha indicação”.
BRUNO FURLAN
“Não vi o Sandro dar instruções ao Furlan (no jogo contra o CRB). Isso não me afeta. O que me afeta é se o jogador treinou bem, se ele cumpre funções táticas. Eu encaro que foi uma forma de apoio, de incentivo. Taticamente não mudou nada”.
HARRISON
“Diretoria não escala. Ela pode sugerir, mas eu não sou papagaio, ou como vocês dizem, fantoche. Eu pedi centroavante alto, perguntaram do Fernandão e eu dei o ok. Tiago Adam também achava que era uma boa. O Harrison eu falei para ele ter calma que ele vai jogar. Ele machucou e depois pegou um resfriado”.
BRASIL
“Voltaria ao Brasil. Gostaria muito, o que eu queria era ter o reconhecimento pelos gols, pela ofensividade. Se um dia puder, voltaria sempre”.
Agradecimentos: Javier Godino e Eduardo Luiz Klisiewicz