Eu vi um Atlético sem alma!
Nesses últimos 30 anos, eu vi o Atlético sem casa. Vi o Atlético sem time. Vi o Atlético sem chances. Vi o Atlético acanhado.
Vi o Atlético goleando. Vi goleado. Vi o Atlético favorito perdendo para equipes muito inferiores.
Vi o Atlético ganhando partidas improváveis contra times que eram indiscutivelmente favoritos.
Vi o Atlético perder uma promessa num estalar de ossos, numa tarde de sábado de 1990, no Pinheirão, quando o jovem Pedralli sofreu uma horrenda fratura.
Vi o Atlético em 1992 ser derrotado nos pênaltis pelo Londrina, no mesmo Pinheirão, depois de ter ficado à frente do Tubarão nas cobranças.
Vi o Atlético virar um Atletiba numa tarde inesquecível de abril de 1997 impondo aos coxas um insofismável 5×2.
Vi o Atlético ser campeão estadual no ano seguinte, no mesmo palco, contra o mesmo atônito adversário.
Nesses últimos 30 anos, vi o Atlético ganhando taças. Vi o Atlético perdendo títulos. Vi o Atlético sendo roubado, perseguido, maltratado, detraído. Vi o Atlético cair. Vi o Atlético levantar todas as vezes.
Nesses 30 anos, eu vi tudo isso, mas ontem eu vi o Atlético sem alma. E de tudo que vira – nesses anos todos – nada havia me assustado tanto.
Ter visto o Atlético sem alma me deu uma triste sensação de vazio, de abandono, de dissolução, de desistência, de angústia, de agonia, de medo, de violência, de perda, de êxodo, de diáspora, de derrota.
E não estou falando de política, de obras, de marketing, de lados, de grupos, de listas, de sites, de chapas, de nomes, de blogs, de redes sociais. Não estou falando dos Atleticanos ilustres: eu estou falando da alma do Atlético. Alma que é representada, indiscutivelmente, por todos nós. NÓS – ATLETICANOS – SOMOS A ALMA DO ATLÉTICO, OU DEVERÍAMOS SER!
Mas o que tem havido conosco a ponto de o Atlético, ontem, aos meus olhos, ter parecido um time sem alma?
Se antes o Atlético nos unia, hoje se agride um dirigente como se nele víssemos um bandido? Que diabos mudou na gente? Com que direito se faz uma aberração dessas? Agressões irão contribuir para o crescimento do Atlético?
Ainda somos os mesmos? Ou perdemos nossa alma e, por consequência, alijamos o Atlético de sua alma também?
Eu trabalho num Escritório de Advocacia majoritariamente coxa. Todo dia boto na lapela do meu paletó o escudo do CLUBE ATLÉTICO PARANAENSE. Chova ou faça sol, ganhe ou perca, caia de divisão, goleie, leve um sarrafo: todo dia o escudo está no meu peito.
No fundo da tela do computador, alguma imagem do Atlético.
Um orgulho danado de ser Atleticano, de falar do Atlético, de defender o Atlético. A coragem moral de um louco, um louco visto como provocador/biruta/desvairado/cínico/debochado por ser Atleticano num território de maioria coxa.
‘Vai acabar demitido, Rafael!’ – alerta-me um amigo, sem saber que o único temor que tenho é de perder o meu Atlético!
E na minha mesa de trabalho, duas canecas do Atlético repousam ORGULHOSAS E ALTIVAS: uma para o café, outra como porta-lápis. Espalhados ainda pela mesa: canetas do Atlético, lápis do Atlético, além do chaveiro e do isqueiro.
O Atlético por tudo, o Atlético ao meu redor, o Atlético dentro de mim, o Atlético em tudo que faço, leio, escrevo, falo. O Atlético Paranaense na minha alma e vice-versa, há 30 anos, na saúde e na doença, a ponto de eu olhar pra um papel onde estão escritos ‘Clube Atlético Paranaense’ e ‘Rafael Fonseca Lemos’ e não conseguir identificar de pronto qual deles é o meu nome.
Eu tenho lutado tanto, tenho me exposto tanto, tenho corrido tantos riscos, feito tantos amigos, tantos desafetos, tenho comprado brigas com coxas, paranistas, são-paulinos, tricolores das laranjeiras, vascaínos, cronistas, jornalistas, dirigentes: sempre em defesa GRATUITA do Atlético, e ontem vi um time sem alma.
Ter visto o Atlético sem alma me deu uma triste sensação de vazio, de abandono, de dissolução, de desistência, de angústia, de agonia, de medo, de violência, de perda, de êxodo, de diáspora, de derrota.
Mas a alma do Clube Atlético Paranaense é a reunião de 1,3 milhão de almas. A alma do Atlético é feita de mim e você, amigo Atleticano que me dá a honra desta leitura.
Eu, em prol da vida eterna da Alma Rubro-Negra, tenho feito minha parte há 30 anos. E amanhã, logo cedo no escritório coxa, continuarei fazendo a minha parte. Mas você: fará a sua parte?
Ou vai se intimidar diante dos coxas, diante da crônica, diante dos airtons cordeiros da vida, diante dos resultados que por ora nos têm sido ruins?
Espero que você faça a sua parte. Espero que siga o meu modesto exemplo amalucado de espalhar o Atlético aos quatro cantos, aos quatro ventos, esteja onde estiver, seja do jeito que for!
Vai desistir do Atlético? Vai negar seu Atleticanismo? Ou vai botar o escudo no peito, a gravata vermelha e preta, o fundo de tela com algum esquadrão campeão, a caneca em cima da mesa, o adesivo na janela?
Vai desistir do Atlético? Ou vai botar o Atlético dentro do coração – e no fundo da alma – como se fosse uma marca d’água a lhe conferir a legitimidade de ser Rubro-Negro?
Não desista agora, amigo! Não desista nunca do nosso Atlético! A alma do Atlético Paranaense somos nós: eu e você. Eu, você e mais 1,3 milhão de almas!
Sem a gente, o Atlético é um time sem alma, como vimos ontem.
Um time sem alma que não queremos voltar a ver!
Não há lados, quando estamos juntos!
Não há diáspora, quando estamos dispostos!
Não haverá razões de temermos nossa morte, enquanto tivermos raça, enquanto tivermos alma!
E – à Jofre Cabral – apelo a cada um de vocês: ‘Não deixem nunca morrer o meu (o nosso!)Atlético!’