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22 jul 2012 - 11h05

A culpa que não é do Marcelo

O Marcelo não é, nunca foi e nunca será um jogador brilhante. Tem um pouco de habilidade para avançar pela lateral do campo, segurar a bola e tentar algumas jogadas improváveis. Quando for escalado num time de razoável para bom – o que não é o caso do nosso, ao menos por enquanto –, poderá render mais. O problema é que, assim como vários outros meninos, o Marcelo carrega uma responsabilidade gigantesca nas costas. E a culpa não é dele. Afinal, e isso vem de longe, foram os cartolas genais do Atlético Paranaense que lançaram um punhado de quase-ainda-adolescentes aos leões, como quem diz: – resolvam essa bagaça, aí, que nós temos coisas mais importantes a fazer. Formamos bons atletas, mas não há notícia de que o CT do Caju tenha fabricado gênios da bola nos últimos anos de suplício.

Portanto, que não se atribua ao Marcelo, e somente ao Marcelo, a culpa pelo desastre de sábado. Marcelo errou, sim. Por ironia do destino ou pela vontade dos deuses do futebol, assassinou os dois gols que fez em Florianópolis. Substituiu-os pelo mesmo número de jogadas bisonhas, incríveis, fatais, que somente um descarado perna-de-pau seria capaz de protagonizar. Acontece que o Marcelo, se não é craque, tampouco é perna-de-pau. Ele perdeu os gols imperdíveis, o Atlético perdeu o jogo e nós, torcedores, perdemos a paciência e a alegria que se anunciava na semana passada. Mesmo assim, camaradas, o mundo não acabou. Há muitos outros erros a corrigir, e isso demanda um tempo que talvez não tenhamos, além da necessária auto-crítica de dirigentes que se comportam como deuses de um mundinho chinfrim.

Não proponho que se absolva o Marcelo. O que não me soa razoável é acusar esse menino evidentemente dedicado às nossas cores por todos os males que nos afligem. Marcelo contribuiu enormemente para a derrota, mas não foi ele que nos colocou na segunda divisão, meses atrás. Marcelo não participou das negociações que resultaram no exílio em Paranaguá, onde nosso time passeia num campo esburacado sob o olhar aborrecido de poucas testemunhas. Marcelo não votou em Collor de Mello, não matou Salomão Ayala nem assaltou o Banco Central. Trata-se, apenas, de um menino. Um bom menino, que pode ajudar-nos a sair do buraco em que a estupidez da divisão política nos largou. Mas, para que isso aconteça, é preciso deixar que o Marcelo se recupere desse trauma e o transforme em aprendizado. Não será espinafrando o Marcelo, ridicularizando o Marcelo ou torturando o Marcelo com a imagem dos seus dois chutes mascados que vamos resolver nossos problemas de ataque. Deixemos essa tarefa suja para nossos inimigos, que eles não são poucos.



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