Um pouco de Nietzsche
Ia pro trabalho, cansado, às 6 da manhã / Ouvia no seu rádio, calcinhas e sutiã => Manoel, VÁ PRO CÉU!
Povo pacífico, povo oprimido, povo apolítico. Historicamente conservadores, desde as nossas raízes, somos gente mansa, filhos de migrantes sofredores que aventureiramente abandonaram seus países em busca de um lugar ao sol. Não sofremos um centésimo do que eles passaram. Mas trouxemos carga genética tranqüila, calma e serena. Coisas de natureza, índole de um determinado povo cujo aprendizado foi à base do sofrimento generalizado. O nosso, é quase pontual.
E vivemos uma guerra. Uma guerra de sete anos. Não há sangue derramado, mas brotam lágrimas não jorradas que quase nos afogam. Dor, indignação, revolta, sentimento de perda, inferioridade, submissão em relação ao inimigo, sinais e sintomas típicos de uma batalha com perdas e danos. Mas quem é o nosso inimigo afinal?
Uma análise que requer, primeiramente, o autoconhecimento: quem somos nós? Melhor, quem forma o nosso contingente? Disse uma vez o General chinês Sun Tzu que, se você não conhece nem o inimigo nem a si mesmo, perderá todas as batalhas. Portanto, para ir à luta, é fundamental conhecermos nosso exército, antes mesmo de nos lançarmos ao front.
Era uma vez, de 1995 até 2005. Depois disso, sofremos baixas. Em todos os escalões, da praça ao oficialato. A partir de então, convocamos gente inapropriada para vestir nosso uniforme, defender nossa pátria. Mas era o que tínhamos, em função de que o recrutamento e a preparação do pessoal tornou-se algo tão obsoleto e supérfluo, que foi entregue a terceiros, como que desestatizando a mão-de-obra, visivelmente desqualificada.
Então surgiram nossos novos soldados. E tivemos que ir a campo com eles. Alguns foram elevados à categoria de ídolos (falsos), e outros viraram heróis (idem). Condição atribuída a quem estivesse ali. Posto que, era o que nos dispunham. Sempre com o aval dos conselheiros.
Assim despontaram Danilo, Alan Bahia, Chico, Rhodolfo e tantos outros que já se foram muito depois do que deveriam ter ido. Mesmo entregando jogos e até campeonatos, estiveram lá, nos representando. Mas era o menos pior que havia. E isso virou um costume nosso. Acreditar e louvar quem ou o que fosse, tal a necessidade de achar que devia haver algo de bom na vida e que o mundo não era tão ruim assim: pura aceitação, conformismo típico dos nossos ancestrais, entoando o melhor lugar do mundo é aqui (ou assim).
Hoje, em 2012, o maior exemplo disso é Manoel. Quantas e tantas vezes já nos prejudicou, com expulsões, gols contra, indisciplina. Mas ele é da base, formado aqui, alegam os cegos do castelo, só por isso dando-lhe condição de se perpetuar em nosso escrete. Seu primo-irmão Joffre, seguiu a regra da linhagem, fenotípica e genotipicamente.
O Atlético tem um sério problema: ausência de saneamento básico. O empresariado que escala a cada jogo, literalmente fede, contamina, dissemina enxofre. Existem pessoas vinculadas e no elenco (praça e oficialato) que são completamente despreparadas para se relacionar com ou continuar no Clube ou até mesmo no Esporte. É explícito que Manoel não quer mais jogar aqui, coisa de uns três anos atrás. Por que não liberam o cara? Ninguém reconhece que ele quer ir embora? O que mais é preciso ele fazer pra soltarem a fera? Por que a insistência com tanta gente que já deu, não deu ou jamais vai dar certo, como TODOS os Brunos, Héracles, Bahia, Fernandão, Marcelo, Vinícius, David, Foguinho, Junio, Pablo, Nieto, Patrick e Adan? Aonde pensam que irão com esses recrutas-zero no elenco? O que acontece com as laranjas hígidas num saco de laranjas podres?
Como existe algo superior à própria humanidade, nada é eterno. Mas este estado de coisas que vivemos há 7 anos é doentio. Levamos o Futebol na irresponsabilidade, pois só o que fazemos é inventar falsos ídolos, crer em mitos (Carrasco), venerar o patrimônio, adorar o passado e nos satisfazer com o menos pior, além de teimar com os insatisfeitos, os improdutivos e os prejudiciais. Apanhamos e deixamos por isso mesmo: seremos nós as prostitutas do amanhã e eles os gigolôs do futuro?
Não adianta a direção mudar a práxis, a Torcida tem que se transformar também. Precisamos ser mais críticos, manifestarmo-nos mais, exercer a inter-subjetividade, superar o paradigma da consciência, indo em direção à comunicação através do diálogo, para enfim chegarmos a um consenso. Ou seja, precisamos fazer nascer o ATLETICANISMO. Alguém aí na linha se habilita? Porque, do dial, não virá nada, absolutamente, muito pelo contrário.
Mas de que forma? Usando as redes sociais como escrevendo aqui e postando no Facebook, cobrando dos conselheiros, dos jogadores em campo, questionando a direção para rever os contratos dos boleiros, peitando a RPC, as rádios, boicotando jornais (ótima essa!) e enfrentando o sistema alvi-verde da descomunicação esportiva do Paraná, produzindo movimentos, quem sabe.
Principalmente: criando idéias, novas perspectivas, novas possibilidades, novos amores. Isso mesmo: precisamos nos relacionar com quem goste da gente. Chega dos mesmos, dos insatisfeitos, dos improdutivos e dos prejudiciais. Não necessariamente uma anarquia, mas é hora de revolução. Thau, Manoel. Felicidades. Jorginho: não vacile mais na criação/escalação/substituição. Cadê o Taiberson? Saci já voltou pra mata? Guantanamera, queremos Ligüera! E El Morro, teria pego a Viação García e se mandado? Não o escalam por mera vaidade? Ou ele é ruim mesmo e sua contratação merece uma auditoria? Respostas à Torcida Atleticana, por favor.
Qualificados, estaremos preparados para enfrentar os nossos outros inimigos, que não são os nossos adversários, mas sim o eixão (mídia e não os clubes, porque estes nós podemos vencê-los em campo), a CBF e a sua Comissão de Arbitragem. O pior é saber que já fizemos isso em 2001, 2004 e 2005. Por que parou?? Essa é a pergunta que mais dói. E dói mais porque sabemos a resposta: o CAP foi entregue ao empresariado da bola. Foi preciso 7 anos de perdas para terem (sic) consciência do preço impagável da má gestão, revelado no custo (i)moral de se jogar uma segunda divisão.
Onzes fora, que esta limpa seja louvada, que Elias & CIA sejam iluminados e que os deuses da guerra nos mantenham em pé no caminho da vitória, nesta batalha contra nosso pior inimigo: nós mesmos.
[Falsos valores e palavras ilusórias: são estes os piores monstros para os mortais; longamente e à espera, dorme neles a fatalidade.] – Friedrich Nietzsche