Como se apaixonar por um time de futebol
Quando você descobre o que é a paixão por um time?
Quando você vê só um par de cores e se vê envolto por uma forma monstruosamente fatal, algo dentro de você ferve, algo em sua alma vibra, algo do nada enche seus olhos de lágrimas e você nem está triste, você ri do nada e ninguém contou piada alguma.
Isso tudo aconteceu com um garoto anos atrás.
Esse garoto incauto estava acompanhado de uma amiga (coxa-branca), de sua mãe atleticana e do namorado nórdico da amiga. Ele meio sem entender, olhando aquele monte de gente loira de olhos azuis e vestindo verde e branco, só ele de negro e sendo olhado até com curiosidade por muitos (tinha pouquíssimos negros em Curitiba na época). O garoto entra dentro do estádio (na época Belfort Duarte) e na sua visão de criança fica imaginando como construíram algo tão grande, e se pergunta o que aquele monte de escandinavos branco cadáver fazia no Brasil, ainda mais na cidade fria que ele tinha acabado de vir morar.
Ele vindo de Santos/SP e seu calor, aonde só via morenos e morenas queimados de sol, lembrou que aqui não tem sol. Estava explicado, na sua inocência, por que só tinha loiros ao seu redor.
O garoto segue a amiga de sua mãe e o nórdico namorado dela até o meio da torcida coxa-branca, bem branca… hahahaha…
Eles se sentam e ele, em sua inocência, vai ate o parapeito de metal e olha o gigantesco estádio coxa. De repente, um barulho chama a atenção do garoto. Uma barulheira grande, gritos, berros, talco e um vermelho e preto estonteante entra pelos seus poros, olhos, ouvidos. Algo explode dentro dele.
O garoto sente que tem de sair dali. Ele tem de ir ali de onde vem esse barulho maravilhoso, ele tem de ficar no meio daquele bando de loucos (já na época era assim). Daqueles loucos que torciam por um time de história modesta, de feitos reduzidos e de poucas esperanças de um futuro melhor.
O garoto negrinho consegue, disfarçadamente, sair do meio dos coxas e vai até a torcida atleticana. Olhares de carinho e gritos de alegria, pois ele havia acabado de cruzar toda a tosca corda que separava as duas torcidas. O garoto fica bem no meio da bagunça e começa a partida. Ele não vê, só ouve gol de alguém, outro gol de outro, um lado do estádio explode, depois outro. Não, não perguntem a ele quanto está o jogo. Ele simplesmente grita, torce, berra, vibra e nem sabe bem o porquê. O que interessa é ver e estar com aquela gente alegre, com aquelas camisas lindas nas cores vermelha e preta. Mais nada importa.
O garoto se diverte, vê gente num momento alegre, outro triste. Num gritando ATLÉTICO, noutro xingando os coxas, ou algum jogador do Atlético que falha. Do nada a partida mágica acaba e o seu lado do estádio é uma festa só. Depois o garoto descobre que o Atlético ganhara de 4 a 3 uma partida que entrou para a história do futebol paranaense.
O garoto se lembra que tem de voltar com a amiga da sua mãe, mas nem sabe aonde ela pode estar. Ele espera o estádio esvaziar e decide ir embora para casa sozinho (o garoto morava na Julia da Costa). E vai passo a passo, perguntando aqui e ali aonde fica a Julia da Costa. Demora, mas ele chega lá e, para sua surpresa, bem na hora que ele se encontra em frente ao colégio onde estudava (Grupo Escolar Porfessor Cleto), vê sua mãe e a amiga, o nórdico namorado dela e um fusquinha da PM, mais alguns vizinhos, todos alvoroçados.
Quando olham e o veem, um misto de alívio e raiva (da mãe). Ele chega já sabendo que o couro vai comer pro seu lado, mas não resiste. Tira do bolso de sua calça uma fitinha de cabelo atleticana (que tinha ganhado no jogo de uma torcedora) e abana ela em frente ao nórdico e sua namorada. E grita: ATLÉEEEEEETICOOOOOOOOOO.
Bem, a partir daí o garoto começa a apanhar da mãe no meio da rua até entrar em casa, e mais um pouco. Mas foi uma surra diferente. A surra que tinha valido a pena, pois ali se formava um verdadeiro TORCEDOR ATLETICANO.
A história é mais que real, pois é a minha história de como me tornei atleticano.
Marcos Mattos está desde essa data apaixonado pelo CLUBE ATLÉTICO PARANAENSE.