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2 jan 2014 - 12h17

O Clube do meu coração

Sou um atleticano diferente.

De cada 100 atleticanos, 99 nasceram atleticanos, filhos e netos de atleticanos, e possivelmente pais e avôs de atleticanos.

Sou diferente porque não nasci atleticano, mas vim a me tornar por volta dos 15/16 anos, apaixonado que fiquei com as cores, com a magia e com a passionalidade que caracterizava o Clube e seus torcedores.

Penei durante muito tempo com a seca de títulos, desde 1968 com a perda inexplicável até hoje daquele campeonato, quando tínhamos um timaço e perdemos com um gol espírita de Paulo Vecchio na Vila Capanema.

Os anos 70 também foram difíceis, principalmente pelos campeonatos ganhos pelo arqui-rival, mas a paixão era tanta que chegamos a fundar uma Torcida Organizada,a Torcida Jovem. Calma, de boa paz, cheia de torcedores ‘família’, sendo à época uma alternativa ao ETA – Esquadrão da Torcida Atleticana, precursora dos atuais Os Fanáticos.

O tempo passou, os filhos vieram e a paixão foi hereditária. Atleticanos de coração e carteirinha, sócios, passionais e seguidores onde quer que o time vá.
A saudade daquele tempo de vacas magras vai desde os jogos na Baixada velha, invariavelmente embaixo dos pinheiros do gol de fundos, com bandeiras, talco e muita torcida, até o naipe dos dirigentes, verdadeiros rubro-negros, que davam a vida pelo Clube.

Verdadeiros baluartes do quilate de Jofre Cabral e Silva, Passerino Moura e o irretocável Lauro Rego Barros, que na ingenuidade da época geriam o Clube amadoristicamente, se compararmos com as técnicas atuais de administração, compatíveis com a realidade daquele tempo, quando as receitas eram apenas dos ingressos e os jogadores tinham salários dentro da realidade brasileira.

Mas uma coisa é certa: a camisa rubro-negra só se vestia por amor. Dentro e fora do campo.

Os jogadores eram atleticanos, como Julio, Nilson Borges, Sicupira, Charrão, Amauri e tantos outros; a torcida era atleticana, sofrendo ou ganhando com o clube; e os dirigentes eram atleticanos, da gema, sem serem importados de outras plagas, que andavam na rua como meros mortais, iguais a nós, lado a lado.
Diferente de hoje, quando se adona do Clube um cidadão que nada tem de atleticano, defensor que é apenas de seus interesses, sejam financeiros, políticos ou de poder.

Quem iria imaginar, naqueles tempos de romantismo, que jogadores saídos do Clube iriam se tornar verdadeiros algozes e viriam a odiar o Clube? Exemplos clássicos de Dagoberto, de Jorge Henrique, de Marcos Aurélio e, agora possivelmente, de Paulo Baier.

Que respeito podem ter esses jogadores pelo Clube se seus dirigentes os trataram como peças de reposição, como coisas, como mercenários sem que eles assim o fossem?

Que respeito pode ter o Maestro pelo Clube se a autoridade máxima deste MENTE descaradamente, a tudo e a todos, anunciando a renovação de seu contrato e, dias depois, volta atras com a maior cara de pau?

Esse Presidente tem nas mãos um Conselho acovardado, com medo, passivo e submisso, que endossa o quer que ele venha a dizer. Inclusive quando chama a torcida de ‘falácia’, quando afirma e reafirma que não irá comprar cadeiras da empresa do filho e assim o faz, quando decide não renovar com PB e, principalmente, quando loteia o Clube com a criação de uma Fundação que tem somente dois objetivos: propiciar a ele o adonamento do patrimônio do Clube e a sua eternização no poder.

Esse Presidente não é e nunca foi atleticano. É um estranho no ninho da dignidade rubro-negra, um Eurico Miranda versão paranaense, se bem que nem paranaense ele é, um oportunista que usará o Clube enquanto este lhe der dividendos políticos e de poder, e abandona-lo-á quando não mais restar sumo nessa fruta.

Me admiro em ver a passividade que toma conta dos atleticanos de verdade, que deveriam se revoltar com o futuro negro, e não rubro, que se antevê para o Clube.
Me admiro em ver os membros do Conselho apáticos, subservientes ao clientelismo que impera no CAP.

Me admiro em ver todos calados ao assassinato do Clube para viabilizar uma Fundação que nada tem a ver com a história rubro-negra.

Fico triste, decepcionado e impotente frente a tudo isso.

Não consigo entender a cegueira de tantos frente à astúcia de um.

Ninguém enxerga que este rei está nu?



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