O Fala, Atleticano é um canal de manifestação da torcida do Atlético. Os textos abaixo publicados foram escritos por torcedores rubro-negros e não representam necessariamente a opinião dos responsáveis pelo site. Os autores se responsabilizam pelos textos por eles assinados. Para colaborar com um texto, clique aqui e siga as instruções. Confira abaixo os textos dos torcedores rubro-negros:
2 jan 2014 - 11h22

O dia em que todo SE e todo QUASE viraram Estrela!

Maio de 1983. Eu estava com sete para oito anos. Na temporada anterior, descobrira o gosto bom da vitória ao ser campeão paranaense pela primeira vez. E se em 1982 descobri o quanto era doce a vitória, pude provar, também, do amargo da derrota naquela triste tarde espanhola, quando o favorito Brasil se viu batido pela insossa Itália, no Sarriá. Eu estava com quase oito anos e já havia provado da alegria e da tristeza no futebol, e muita coisa ainda me estava reservada.

Maio de 1983. A semifinal do Brasileirão contra o todo-poderoso Flamengo de Zico & Cia. À minha volta os adultos se dividiam: “O Atlético já foi longe demais!”, “O Atlético ainda pode mais!”. E pela primeira vez ouvir falar da estrela amarela. “O negócio é ser campeão brasileiro e botar a estrela amarela no peito!”. Quis saber do que se tratava e meu pai explicou: “Rafa, o Time campeão brasileiro passa a usar uma estrela amarela em cima do escudo, registrando para sempre a conquista!”.

Maio de 1983. Eu só pensava na estrela amarela bordada sobre o Escudo do Atlético. Mas teve aquela noite no Rio de Janeiro. Flamengo 3×0. Nada deu certo. A volta nos exigiria devolver aos cariocas o placar. Ao final, Atlético 2×0. Quase deu pra chegar à final. Se não fosse um golzinho! A estrela de 1983 acabou sendo flamenguista. Eu provava uma vez mais da derrota. A cara enfiada no travesseiro. Os soluços abafados. A mãe me afagando os cabelos. As palavras dela: “A vida também é feita de derrotas, Rafa!”. E depois minha primeira noite de insônia.

No outro dia, os adultos diziam: “Nunca mais a gente chega!”, “Chance assim? Esqueçam!”. Eu, não querendo acreditar, pedia a alguém que me dissesse que aquilo não passava de pessimismo momentâneo. E ninguém ousava discordar: “Rafa, eles têm razão: campanha assim o Atlético não fará nunca mais!”. E então eu – torcedor de apenas sete anos de idade e um ano de Atlético – estava condenado a nunca ter a estrela amarela sonhada, a estrela que brilharia sobre o Escudo do meu Clube Atlético Paranaense. “E se isso for mesmo verdade?” – eu pensava, de olhos baixos, acreditando que me era proibido ver as estrelas.

1985. O arquirrival – com time bem mais modesto – conquistava, no Maracanã que fora palco do meu pesadelo em 1983, sua estrela amarela dos sonhos. No outro dia, no pátio da escola, dezenas de meninos vestiam suas camisas alviverdes. Sobre o escudo improvisavam estrelas amarelas de cartolina, recortadas caprichosamente por mães abnegadas. Eu também era menino, mas não tinha estrela! Eu provava uma vez mais da derrota. A cara enfiada no travesseiro. Os soluços abafados. “Se o Ado tivesse acertado aquele pênalti!” “Quase que o goleiro do Bangu espalma!”. A mãe me afagando os cabelos. “A vida é feita de derrotas, Rafa!”. E depois mais uma noite de insônia. Noite que iria durar 16 anos.

1991. O Atlético começa avassalador. A esperança toma conta da alma. Três vitórias maiúsculas contra três grandes do nosso futebol. Em Curitiba, 3×0 no Flamengo e 4X2 no Grêmio (com direito a 3×0 aos 15 do primeiro tempo). Depois, vitória contra o Fluminense, dentro das Laranjeiras. Seria a estrela amarela apenas questão de tempo? Quanto tempo ainda faltava? De repente, a falta de grana, as contusões e no final do campeonato um apagado 17º lugar. “Se tivessem com os salários em dia!” “Quase veio a estrela! Faltou planejamento!”.

1996. A volta da Série B. O Atlético jogando uma Série A na Baixada depois de muitos anos. Um começo frio. O Time se arrastava numa performance medíocre até aquele domingo, 22 de Setembro. A coxarada irônica gritava “Oséas! Oséas!”. O cronômetro cravava quase 7 minutos de apupos e gracinhas dos rivais quando o “homenageado” resolveu retribuir com um gol. Atlético 1×0 e a Torcida ensandecida via nascer diante de seus olhos um novo Atlético. Dali para frente, as vitórias foram aparecendo. O Time era destaque nacional. A estrela amarela voltava a ocupar o sonho dos Atleticanos. No entanto tivemos de nos contentar com a 8ª colocação. “Se não fossem as agressões sofridas nas Laranjeiras!”, “Se não fosse o cartão do Oséas no Mineirão!”, “Se o Taffarel não faz aquele milagre, quase que a gente passa!”. O sonho uma vez mais adiado.

23 de Dezembro de 2001. Depois de um campeonato de sonhos, a consagração. O Clube Atlético Paranaense enfim conquistava o seu primeiro título de campeão brasileiro de futebol. A estrela amarela – sonhada por mim desde Maio de 1983 – vinha brilhar definitivamente sobre o Escudo do Atlético. Meu sonho de menino se tornava real. Não havia mais SE, não havia mais QUASE: era real a estrela amarela dos meus sonhos! Com a cara voltada para o Céu, eu olhava fixamente as estrelas naquela noite histórica de 23 de Dezembro. Entre os dedos, mais um cigarro. A mãe me afagando os cabelos. “A vida também é feita de vitórias, Rafa! Parabéns!”. E depois mais uma noite de insônia. Noite que amanhã completa 12 anos. Noite que para mim vai durar a vida inteira…



Últimas Notícias

Brasileiro

Fazendo contas

Há pouco mais de um mês o Athletico tinha 31 pontos, estava há 5 da zona de rebaixamento e tinha ainda 12 partidas para fazer.…

Notícias

Em ritmo de finados

As mais de 40 mil vozes que acabaram batendo o novo recorde de público no eterno estádio Joaquim Américo não foram suficientes para fazer com…

Brasileiro

Maldito Pacto

Maldito pacto… Maldito pacto que nos conduz há mais de 100 anos. Maldito pacto que nos forjou na dificuldade, que nos fez superar grandes desafios,…