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16 jan 2015 - 14h25

O atleta João Paulo, a rivalidade e a imprensinha do Paraná

Dias atrás tive a oportunidade de assistir a um vídeo em que o vocalista Rodrigo Amarante, da banda Los Hermanos, esculachou um repórter que lhe dirigiu uma pergunta esdrúxula sobre a música Anna Júlia. De maneira brilhante, concluiu o artista que “é muito comum hoje em dia a polêmica ser a tônica do jornalismo, como se o papel do jornalista fosse descobrir um ponto fraco, uma coisa assim.”

Faço essa breve introdução apenas por analogia, pois embora nada tenha a ver com o Atlético ou com o futebol, tem muito a ver com a postura da imprensa, em especial a imprensa esportiva paranaense.

É que, como todos sabem, o volante João Paulo não renovou seu vínculo com o Furacão e está prestes a ser anunciado como reforço do arquirrival Coritiba. Sim, e daí? E daí que no site do jornal Gazeta do Povo foi publicada nesta sexta uma matéria, assinada pelo jornalista Fernando Rudnick, intitulada “Hoje sou coxa-branca, diz o ex-atleticano João Paulo”. Na gravata (subtítulo), consta ainda que “prestes a ser oficializado pelo Coritiba, volante esquece a sua identificação com o Rubro-Negro”.

Pois bem. Pode ser que a matéria tenha sido publicada por mera ausência de outras pautas – embora eu não acredite nisso. De qualquer forma, é inegável o propósito do jornalista, ou sedizente jornalista, de causar polêmica e fazer com que a torcida atleticana, que já reconheceu no aludido jogador (declarado torcedor do Atlético, que chegou a frequentar a organizada Os Fanáticos) um guerreiro dentro de campo, volte-se contra ele. Ou, no mínimo, que deixe de gostar dele.

Por quê? Isso não se sabe.

Mas é certo que, na terra das araucárias, esse tipo de provocação iniciada pela imprensinha (no diminutivo mesmo) esportiva já criou confusões grandes, inclusive brigas – as quais foram posteriormente aproveitadas para estampar primeiras páginas.

Ora! João Paulo é um atleta profissional, íntegro e honesto. E na entrevista concedida ao jornalzinho ele não falou em momento algum que tinha deixado de torcer pelo seu time do coração desde a infância e “virado a casaca”, como dá a entender o título da reportagem. Isso fica muito claro na leitura do texto:

“Sou profissional e hoje sou coxa-branca. Se tiver de dar a vida pelo Coritiba, vou dar. Agradeço por tudo que vivi lá [Atlético], mas hoje defendo as cores do Coritiba.” (grifei)

Como se observa, o jogador apenas disse que vai atuar no Coritiba com dedicação e empenho, características marcantes do seu profissionalismo e que lhe valeram a alcunha de “Guerreiro” enquanto vestiu a camisa rubro-negra. Não, ele não virou as costas para o Furacão, mas sim agradeceu por tudo o que viveu no clube. Mas isso, lamentavelmente, não foi destacado pelo jornaleco, tampouco pelo jornalista.

É esse tipo de conduta que, como diz Rodrigo Amarante, incomoda. O jornalismo tendencioso, sem escrúpulos, leviano e baseado na polêmica. É por conta desse tipo de matéria que, infelizmente, continuaremos a ser tratados como “Quinta Comarca”, pois ao invés de promover a união, nossa imprensinha prefere promover a discórdia. É por esse tipo de babaquice que hoje em dia um torcedor do Atlético não pode entrar com camisa esverdeada no estádio (e vice-versa). Aqui, o que se prega é o ódio recíproco.

Para mim, esteja no Coritiba, no Paraná (como já esteve) ou em qualquer outro clube, João Paulo deverá ser sempre lembrado pelo que fez de bom no Atlético. Afinal, gostem do seu futebol ou não, todos temos que reconhecer que ele honrou as cores que vestiu, atuou com dignidade e profissionalismo em todos os momentos. Se não foi o maior dos craques, jamais atuou sem vontade, sem determinação, sem paixão. E, vale ressaltar, foi o Atlético quem o afastou, não o contrário. Daí porque não se pode permitir que uma matéria maliciosa torne o atleta um vilão para a torcida. Nunca será!

Sobre a Gazeta, eu manifestei meu repúdio à malfadada matéria. Mas meu comentário foi removido por “violar os termos de uso”. Pois é. Esse é apenas um dos perigos de se manterem nas mãos de um único conglomerado todos os veículos importantes de comunicação do Estado. Liberdade de opinião? A gente não vê por aqui.



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