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19 ago 2015 - 14h51

O preço da vanguarda

Eu acompanho o futebol desde 1966, tinha 10 anos de idade. Cheguei a ouvir alguns trechos pelo rádio da Copa do Mundo de 66. Em 1968, sentindo que faltava alguma coisa na minha certidão de nascimento, minha saudosa Mãe (Dna. Eglia) me trouxe na sede do Atlético para me registrar como atleticano. Ganhei até uma a carteirinha de Sócio do Atlético nº 38996, assinada por Joffre Cabral, que até hoje carrego comigo.

Joguei muita bola nessa vida (campo, pelada, suíço, salão, basquete, vôlei, handebol), até meus 40 anos de idade, tipo zagueiro central que era titular em todos os times que jogava. Assisti Atletibas com torcidas misturadas, na Baixada e no Belfort Duarte. Vi jogar Djalma Santos, Nilson Borges, Alfredo, Sicupira e muitos outros craques no Atlético. Vi Jairzinho na vila Capanema, vi o Pelé marcar gol contra o Coxa no Belfort Duarte (acho que era o gol n. 996 do Rei), vi Rivelino, Cafuringa, Nelinho, Dirceu Lopes, Ademir da Guia, vi as coisas que Garrincha fez, vi Zico e Sócrates, vi as seleções de 70 e 82 (especiais) e vi todas as seleções e Copas desde 1970. Posso dizer que vi quase tudo de bom que o futebol brasileiro apresentou nos últimos 50 anos. Posso dizer também que entendo um pouco dessa arte por experiência e vivência nesses 50 anos.

Já há algum tempo temos que dividir o futebol em duas fases bem distintas:

Antes e depois de um “Clube de Futebol” virar uma “Empresa”.

Mas, qual é a diferença entre um “Clube de Futebol” e uma “Empresa”?

A resposta é obvia: A GESTÃO.

No meu entendimento, o grande diferencial está na “Administração”. Assim como em qualquer ramo ou atividade, existem empresas que são bem administradas e dão certo e elas tem que continuar crescendo e tem que ter o foco em ser a melhor, também existem empresas mal administradas que, hoje em dia, mais cedo ou mais tarde não sobreviverão.

Hoje o futebol é constituído de empresas que produzem espetáculos por meio das competições de que participa. Existem competições de todos os níveis. Quanto maior o grau de investimento, maior o grau de visibilidade, de público, de receita, de interesses, de oportunidades.

Assim como em outras atividades existem as empresas “top” com marcas que todos conhecem e todos compram, com altos índices de investimento e de rentabilidade, no futebol não é diferente. E o MCP sacou isso há muito tempo. Comparativamente, 20 anos atrás o Atlético e o Paraná estavam no mesmo patamar, tinham estádios sofríveis, não tinham centros de treinamentos, disputavam aqui e ali um estadual, etc. Só que, se compararmos agora, em 2015, verificamos que o Paraná estacionou, pior, está cada vez pior e por isso vai fechar as portas logo, enquanto que o Atlético deu um salto fantástico em tudo, superando inclusive o Coxa que era considerado o grande clube de futebol do Estado.

É claro que antes os jogadores jogavam muito mais bola, as torcidas eram muito mais vibrantes, você tinha futebol uma vez por semana e olha lá, transmissão pela TV era raro e apenas para os grandes times do Brasil, os estádios apesar de acanhados com ingressos baratos não superlotavam a não ser nos dias de clássico. Rolava muito menos grana que hoje. Mas, tudo isso acabou , como acabou o Santos do Pelé, os Beatles, a F1 para o Brasil, tudo isso ficou para a história.

Olhando para o futebol no Brasil, sob a ótica administrativa, eu enxergo três tipos de estruturas básicas: o Clube de Futebol, o Futebol Empresa e a Empresa de Futebol.

O Clube de Futebol: A origem institucional do Futebol foi através da formação de Clubes, tanto é que a grande maioria dos times de futebol tem essa denominação em seus nomes, porque eram originadas por Clubes de Regatas, Clubes Recreativos, Associações Atléticas, etc. A medida que o Futebol começou a ganhar projeção, valor, e se profissionalizar, os clubes tiveram que ter um caráter Empresarial. Aqui no Brasil a grande maioria ainda está sendo administrada como Clubes de Futebol (amadoristicamente). Não só os Times como as Federações e Confederações, por isso nosso futebol está obsoleto, decadente e falido.
Estamos nesse impasse à muito tempo. Tempo demais!

O Futebol Empresa: Esta estrutura é proclamada pela maioria dos Clubes aqui no Brasil, porém, na prática ela funciona como uma fachada (conversa fiada pra boi dormir), ou, de forma não integral, incompleta, e insustentável (vejam o Coxa). E aqueles que tentam implantar essa estrutura administrativa de maneira eficaz em seus clubes (vejam o Atlético), sofrem, porque a cultura neste País não aceita evoluir (Engraçado, o Paraná Clube que não evoluiu, a torcida quer que evolua e no Atlético que evoluiu, a torcida quer que volte ao estádio de tijolinhos), isso é contracultura e contraproducente.

A Empresa de Futebol: Esta estrutura já existe por aí, é criada com o objetivo de formar (produzir) jogadores para vende-los, possuem uma pequena estrutura, sem torcida. Tipo J.Malucelli, Boa Esporte, Time do Rivaldo, Time do Zico, e outras mais que estão por aí, disputando até a série B. Não sei como esse tipo de Empresa está no resto do mundo, mas não me parece que sobreviverá.

Para entenderemos melhor essa evolução, que muitos Atleticanos acham que não é evolução, mas, É UMA EVOLUÇÃO! Temos que entender que nem tudo que evolui, evolui integralmente para melhor. Mas, é certo que, quem resistir ou renunciar a essa evolução, não sobreviverá, assim:

1. Há quem, por ignorância ou incompetência, resista ou renuncia a evolução. Esse vai sucumbir (Cair sob o peso de; abater-se, curvar-se, vergar, não aguentar mais; deixar-se vencer; ceder, morrer, perecer, ser abolido, suprimido; cessar de existir).

2. Há quem, esperou o bonde passar e agora não consegue mais alcançar esse bonde. Esse vai ter que seguir viagem em outra classe (Série B ou C) adequada a sua capacidade administrativa.

3. Há quem divida essas duas fases com um murro na mesa, e peite isso contra tudo e contra todos, com muita obstinação e competência. Esse TALVEZ sobreviverá. Mesmo assim não será fácil, num País como o nosso que insiste e persiste nos erros sem fim.

Aqui em nosso Estado temos quatro exemplos bem claros, para quem quiser enxergar, quais sejam:

Vejam o caso do Paraná: Uma de suas origens (Água Verde, depois Pinheiros) é de um Clube recreativo com sede social, piscinas e clube de campo, que virou tudo futebol. Agora, estão vendendo seu patrimônio para pagar dívidas, estão leiloando o que resta do seu patrimônio para pagar dívidas, o Estado está desapropriando seu estádio porque o terreno não é seu, não possui CT (é alugado), seu passivo está cada vez aumentando mais. Ou seja, a administração do Paraná ainda é amadora, eles continuam pensando como um Clube de Futebol e vai sucumbir, porque já comprometeu tudo o que tinha e só sobrevive porque ainda se mantém na série B do Brasileiro. Só falta fechar as portas.

Vejam o caso do Coritiba. Só agora, com essa nova diretoria, com a corda no pescoço, entendeu que não pode gastar mais do que pode arrecadar, contratando cabeças de bagres a preço de bacalhau, investiu só em futebol, tendo um estádio (que é um grande elefante branco e verde), antigo, precário que serve apenas para o futebol, que tem apenas a receita do futebol, que tem uma dívida quase igual ao do Atlético, constituída em sua maioria por impostos, encargos, dívidas trabalhistas, nada de investimento, que tem uma pequena parte reformada do Estádio, concedida a um investidor. Ou seja, deixou o bonde passar e agora tem que se adequar a sua realidade para não fechar as portas. Não passa de um Clube que perdeu o bonde e se não fechar as portas, talvez estacione pela série B ou se venda para um investidor qualquer.

Vejam o caso do Atlético: Em 1995, a 20 anos atrás, alguém tomou peito da situação e resolveu mudar, EVOLUIR. Transformar o Clube Atlético Paranaense em uma ‘Futebol Empresa’. Naquele tempo, podíamos dizer que estávamos no mesmo patamar do Paraná Clube e o Coritiba Football Club estava bem acima de nós.

Em 1995, o Atlético iniciou então a sua transformação de um mero Clube de Futebol em um Atlético administrado como uma Empresa.

Começou investindo em sua estrutura para qualificar o futebol (construção do CT); depois numa estrutura para qualificar o espetáculo, melhorar o conforto, a segurança e a quantidade dos sócios torcedores (construção da Arena); vai diversificar o leque de receitas com Shows, Entretenimento, Gastronomia, Eventos (a Arena Multiuso e a Areninha), mas, mantendo sempre como principal atividade e foco no Futebol, sem perder o perfil e o caráter de uma administração empresarial, que investe na qualificação, no desempenho e nos resultados; que paga seus profissionais dentro de uma lógica financeira; que recolhe seus encargos, tributos e impostos e cumpre todas as regras fiscais, tributárias e legais constituídas, como nenhum outro Clube de Futebol faz neste País; e ainda tendo que ser competitivo, em igualdade de condições com equipes “milionárias” que estão atoladas em dívidas, que gastam fortunas todos os anos na formação de equipes fortes; que conseguiu ser Campeão Brasileiro, ir 4 vezes para a Libertadores e ser Vice numa delas (assaltado) e Vice da Copa do Brasil; enfrentando uma imprensa local que faz campanha, sistematicamente, contra qualquer avanço que o Atlético conquista; enfrentando parte da torcida (míope) que ainda prefere ganhar alguns títulos Paranaenses a ver uma Arena Cinza (Multiuso, moderna, segura e confortável).

Tem também o caso do J.Malucelli: É um time de um Empresário, sem torcida, tem o nome do próprio Empresário. Serve apenas para revelar jogadores e negocia-los. Talvez, um dia quem sabe, ganhe um campeonato que disputa, mas vai existir enquanto o Empresário, dono da Empresa quiser e um dia fechará as portas e não fará diferença alguma para o Futebol. Este é classificado como uma Empresa de Futebol.

Vocês torcedores que estão reclamando do MCP, façam um exercício como se fossem torcedores do Paraná e do Coxa, olhando de perto a evolução do Atlético, com seus times caindo pela tabela, sem estrutura, sem futebol, sem perspectivas, cheios de dívidas e cheios de inveja. Façam um exercício como se fossem a imprensa esportiva do Paraná, retrógrada, que por serem a imensa maioria coxa branca, não aceita o crescimento do atlético, e de tudo fazem como se o MCP fosse a laranja podre do saco de laranjas.

Essa transição, na Europa, já aconteceu a muito tempo, aqui no Brasil ela está apenas começando, já tardiamente e de forma errada, alias como quase tudo neste País.

Concordei e ainda concordo com tudo o que o MCP construiu em estrutura para o nosso Atlético e em momento algum discordo dele sobre a forma como ele administrou tudo isso.
Se ele não fosse quem é, do jeito que é, nada disso aconteceria e para aqueles que não gostam dele, até agora ninguém o condenou por qualquer irregularidade administrativa, que atirem a primeira pedra.

Este é o preço que se paga por estar na vanguarda desse processo de evolução.

Acalmem-se e apoiem. Quem é atleticano sabe que essa pegada e essa raça que o MCP tem, está em nosso sangue. Devagar chegamos lá. Tenham fé.



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