Atletiba
O clássico Atletiba do último domingo foi de fato o que se pode chamar de Atletiba. Nem tanto pelo clima tenso decorrente das pegadas mais fortes, pelas expulsões, pelos gols incrivelmente perdidos, pelas catimbas e firulas e, principalmente, pelo pau fechando entre jogadores após o jogo. Atletiba que é Atletiba tem dessas coisas. Lembro-me bem do LINO (escrito assim porque era carrasco dos verdes), com o número oito às costas, aquele cabelão à Peter Frampton e aquela categoria de artilheiro predestinado, e do pobre coxa-branca Peribaldo, que, após a humilhação da derrota em pleno Couto Pereira e da gozação por usar brinquinhos, tentou agredir o nosso meia-direita e foi barrado pelo Ivair (era outro craque), que usou como meio de persuasão nada menos do que as hastes que seguravam as bandeirinhas de escanteio. Ontem o Da Silva pareceu representar o Peribaldo no palco iluminado da Arena. O Gabiru, guardadas as devidas proporções de futebol e de época, desempenhou as funções do LINO. E a era moderna encarregou-se de trocar o Ivair e as bandeirinhas de escanteio pelos eficientes seguranças da Baixada, que arrastaram o encolerizado brigão para longe do craque e impediram se materializasse a agressão covarde de um derrotado de futebol questionável contra um autêntico Campeão do Brasil.
Mas o Atletiba tem uma outra coisa. É feliz quem marca gols contra o rival. E mais feliz ainda que se transforma no carrasco do maior inimigo. O Atlético, lembro-me bem, já viu brilhar muitos craques em suas fileiras. Craques que nem sempre conheciam a ventura de assinalar gols contra o verde. O Oséias, que ainda ontem defendia nossas cores, é um triste exemplo de como um atacante de grande qualidade técnica pode esbarrar nos místicos arcanos que cercam esse confronto entre coxas e atleticanos. Se fez dois ou três gols contra o verde, foi muito. Já o PAULO RINK (escrito assim porque era carrasco) quase sempre deixava uma bolinha no fundo das redes coxa-brancas. O mesmo fenômeno inexplicável que ocorria como o Oséias, marca também os destinos do Kléber e do Alex Mineiro. Nenhum deles costuma balançar o barbante do verde. Nenhum deles possui, infelizmente, aquela estrela que brilha mais que a dos outros em Atletibas, como a possuíam outrora o LIMINHA, o ASSIS, o JOEL e o DIRCEU, apenas para exemplificar. Lembremo-nos também de LUCAS, cujo gol mais importante na Arena não foi o da inauguração, tampouco aquele outro maravilhoso que assinalou contra o Cruzeiro na Seletiva da Libertadores. Lembremo-nos dele pelo gol contra o coxa, no último minuto do segundo tempo, aquele gol maroto, aquele cujo chute não encaixou direito e a conseqüente trajetória da bola é meio teimosa. Mas acaba indo ao fundo das malhas porque ele é o LUCAS, o LUCAS que tem parceria com o velho e saudoso LIMINHA, hoje jogando Atletibas em algum recanto etéreo da eternidade, com o ASSIS, com o LINO, com o JOEL e com o DIRCEU. Um velho LIMINHA que driblava, fazia pouco e deixava maluco o goleiro Jairo; um ASSIS que atormentava os coxas nos Atletibas e continuou apavorando seus defensores até mesmo após sua transferência para o Fluminense; um LINO que sempre vestiu a rubro-negra com raça, garra e determinação, para fulminar os coxas com golaços de todos os tipos; um JOEL que foi o responsável pela conquista do Bi-Campeonato de 1983, quando, a exemplo do Alex Mineiro no Brasileirão, assinalou três gols nas partidas finais e fez com que o Coritiba mais uma vez amargasse o vice-campeonato; e, finalmente, um DIRCEU, cuja figura incutia tamanho terror na zaga coxa, que o zagueiro Berg, ao perceber sua aproximação em um lance confuso na área do coxa, cabeceou contra o próprio gol e acabou dando o título de Campeão de 1990 ao rubro negro. Esses jogadores, hoje merecidamente lembrados e respeitados dentro da história do Atlético, assinalavam gols contra o Coritiba na maior parte dos Atletibas que jogavam. Tinham a estrela que os diferenciava da maioria.
O mesmo ocorre hoje, e justiça seja feita a esse moço, com o lateral direito LUIZINHO NETTO. Muitos o criticaram, muitos o apontaram como atleta de técnica questionável ou até mesmo sem técnica. Em uma partida contra o Corinthians Paulista, em 1999, a Baixada inteira o vaiava tão logo a bola encostava em seus pés: naquele dia, LUIZINHO chegara ao ponto mais baixo de sua carreira. O Atlético perdia a partida por 2 X 1. O pênalti assinalado pela arbitragem era a certeza do empate. Mas LUIZINHO cobrou mal e o goleiro Dida defendeu. A galera caiu em peso em cima do rapaz, cujo esforço e personalidade eu sempre defendi, perante todos: ele não merecia aquele punição. E hoje, após esse último Atletiba, posso falar com toda a certeza: LUIZINHO NETTO não merecia aquela punição. LUIZINHO NETTO é um autêntico atleticano. É um predestinado, que conseguiu assinalar dez gols contra o verde em doze atletibas. Talvez seja o maior carrasco do coxa de todos os tempos. E o que mais goleiros apavorou. Lembro-me de faltas encaçapadas contra Anselmo, contra Régis, contra Gilberto e, agora, contra Welerson. Um elemento assim tinha de ser escalado para jogar de centro-avante em cada clássico contra o maior rival, porque isso seria certeza de vitória, como todo respeito aos nossos artilheiros de carteirinha, inquestionavelmente bons em sua função, mas que não assinalam tentos contra o Coritiba.
Observando esse moço, a sua simplicidade e a garra com que supera a falta de uma técnica mais requintada, descubro, enfim, a força que transformou LIMINHA, ASSIS, LINO, JOEL, DIRCEU e PAULO RINK em carrascos do coxa: a magia, essa fantástica magia de ser atleticano de coração, de torcer para o time com cada fibra da alma, a magia de amar o Atlético antes de ser um atleta e defender suas cores dentro de campo. ATLETICANO de CORAÇÃO, como LUIZINHO NETTO já provou que é. Parabéns pela cobrança daquela falta. E por todas as outras que você já acertou e ainda acertará na meta coxa-branca.