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26 abr 2004 - 12h06

O cego

Minha mulher falou comigo: já vai você escrever de novo para o Furacão? Não desiste não? Pensei em explicar o porquê de tal atitude, mas não encontrei argumentos lógicos e resolvi fechar a porta do quarto em vez de contra-argumentar.

Mas a atitude dela me fez pensar: porque procuramos defender nosso time de coração? Porque levamos tão a sério nosso time de futebol, a ponto de fazer algumas loucuras em nome dessa paixão, desse amor?

Descendo a serra pela BR 277 para o litoral do Paraná, logo após a serra propriamente dita, existe uma banca de venda de frutas, dessas de beira de estrada, que é totalmente pintada de vermelho e preto, tendo, inclusive, o escudo do Atlético desenhado. Já viram? Continuemos a viajar. Na beira do mar, entre Matinhos e Praia de Leste, na avenida atlântica, existe uma casa totalmente pintada de vermelho e preto. Já viram?

Coragem dos donos de expor, assim, sua paixão pelo Atlético. Eu não teria essa coragem, vocês teriam? Essas duas pessoas não devem ganhar nada para fazer esse tipo de propaganda. Aliás, devem é correr riscos de sofrer represálias.

Interessante essa questão, de expor assim o amor pelo time. Alguém sabe onde moram o Ilan, o Dagoberto? Alguém sabe onde moram os doutores Fleury e Petraglia? Penso que eles não fazem questão de externar algo assim pelo time como os exemplos a que me referi acima. Apesar disso, não foi o doutor Fleury que disse que pensa 24 horas por dia no Atlético? Que vive para o Atlético?

A diferença é que essas pessoas recebem um salário. Por isso não entendem o que leva um sujeito a pintar a sua casa com as cores do Atlético. Por isso acham difícil compreender porque estão reclamando do preço do ingresso. Para eles, tudo é somente um negócio, não uma paixão.

A esses “profissionais” peço um pouco de bom senso. Será que não notam que estão levando a sua empresa a falência? Será que não estão vendo que, a continuar essa insensatez, o Atlético irá despencar para a segunda divisão? Será que irão tentar tapar o sol com a peneira até o momento em que qualquer atitude ficará inviabilizada?

O senhor Fleury ficará marcado na história do Atlético como um Luis XVI? Ou melhor, como um Stalin, déspota maior, que não podia ouvir nenhum argumento que contradissesse suas idéias ou suas paranóias, e acabou por afundar um país inteiro numa época de terror, tudo por uma questão de ego?

Será que não seria mais simples reconhecer alguns erros e procurar acertá-los?

Para mim, até mais importante que o novo técnico, é fazer as pazes com os torcedores. Esse é o maior problema. Doutor Fleury, o senhor errou. Suas idéias (sejam suas ou não) podem até ser boas, porém não é o momento de aplicá-las. Que tal buscar a concórdia? Que tal mostrar que pensa no Atlético, de fato, 24 horas por dia? Que tal pintar não a sua casa, mas algo mais importante ainda – seu coração – com as cores do Atlético e buscar a união com sua nação?

Que tal o senhor baixar o preço do ingresso e convidar todos nós a lotar a velha Baixada no próximo domingo, iniciando o caminho – conjunto – rumo ao bi nacional?

Que tal o senhor demonstrar – finalmente – que sente algo de verdade pelo Atlético?

Ou vai continuar a virar as costas para o problema, fingindo que nada existe?



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