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16 nov 2004 - 16h40

Big Brother e os Tempos Modernos do Futebol Brasileiro

Quando Jeremy Bentham escreveu sobre o panóptico – ou big brother (o grande irmão), como rebatizou-o George Orwell (1984) – dúvido que tenha imaginado o nível absurdo a que elevariam sua criação.

Concebido por Bentham (século XVIII) como um conceito de prisão, o panóptico parte do pressuposto de que é possível ver sem ser visto. É uma forma ideal de vigilância sobre os criminosos.

Michel Foucault (Vigiar e punir) estudou a teoria e apontou para a pervesidade desta forma de controle. No final, aponta Foucault, seria estabelecida uma auto-vigilância entre todos os membros da sociedade, restando inviabilizado o conceito de intimidade.

Com efeito, não se pode deixar de apontar para os efeitos positivos deste sistema de auto-vigilância em grandes aglomerados de pessoas. Quanto uma delas comete conduta desvirtuada ou proibida, imediatamente as demais apontam o infrator, que deve ser detido pelo responsável pela manutenção da ordem.

Entretanto, este sistema de vigilância não previu que os pertencentes à aglomeração pudessem voltar-se contra o infrator, punindo-o na forma como melhor lhes conviesse.

A mídia esportiva e o Superior Tribunal de Justiça Desportiva – em especial o Senhor Zveiter, ao lançarem verdadeira caça às bruxas contra os clubes de futebol, criaram um injustificado e absurdo risco aos clubes participantes do Campeonato Brasileiro. Basta que uma pequena migalha de pão caia sobre o gramado, que o clube corre pode perder o mando do jogo. Tudo dependerá da campanha feita pela mídia, e do humor dos julgadores do STJD.

Os clubes, por sua vez, ajudaram a criar no torcedor um estado de ânimo que varia entre o medo de nova perda do mando de campo e a ira, por considerarem (com toda razão, a meu ver) absurda a punição por conta de um inofensivo copo plático vazio atirado contra o gramado. Toda campanha que incentiva a auto-vigilância deve ter em mente que a turba enfurecida não preza pelo raciocínio lógico, antes de tomar as medidas que considera adequadas.

Quando o CAP fez campanha para que fossem entregues os infratores, deveria enfatizar que basta a entrega do infrator à Polícia Militar ou à segurança do clube. Não é necessário estabelecer a pena e aplicá-la. Deveria enfatizar, também, que brigas e agressões no interior do estádio são capazes de gerar perda do mando de campo. Além de perda financeira, pois o CAP pode ser responabilizado civilmente e ser obrigado a indenizar os agredidos.

O que se viu na Baixada, no jogo de domingo, foi a barbárie desencadeada pelo medo. Todos estavam mais alertas e vigilantes aos torcedores que tinham copos em mãos, do que ao jogo propriamente. Ao menor descuido do infeliz que arremessou o copo sobre o gramado (tenho dúvidas de que é atleticano), houve reação (esperada, a meu ver) dos torcedores que o cercavam.

Não culpo o STJD ou a mídia esportiva pela existência da agressão em si, pois o ser humano tem capacidade de dicernir o certo, do errado. Mas o STJD e a mídia – principalmente o pseudo-jornalista Milton Neves e sua trupe – são diretamente responsáveis pelo clima de medo e ira estabelecido.

E a coisa não ocorre só com o CAP. Não ficarei surpreendido se torcedores de outros clubes tiverem a mesma reação, quando um infeliz atirar algo sobre o gramado. Como também não ficarei surpreendido se o CAP for novamente punido, desta vez por não oferecer segurança a seus torcedores.

O risco, em se tratando de STJD, sempre está presente. E a mídia – tal qual os torcedores que foram ao jogo no domingo – mantém constante vigilância. Ao mínimo erro, a anti-ética trupe do Terceiro Tempo entra em tela para exigir punições exemplares. Quisera eu que a Federação Nacional de Jornalismo fizesse o mesmo (o programinha já estaria, de muito, fora do ar).

Se o CAP escapar de nova punição, faço um apelo aos torcedores: tenham atitude de seres humanos. Não sejamos nós a coroar a safadeza de Milton Neves, Morsa e Godói, dando-lhes elementos para a produção de escandalos televisivos.

Melhor será, ao final, coroar nossos jogadores com o título de Bi-Campeão. E com eles, na Baixada, em 19/12/04, comemorar a conquista.

Abraços Rubro-Negros a esta torcida maravilhosa.



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