Minhas lágrimas, nossas lágrimas, formam as águas deste Oceano Atlético
Curitiba, antes de ser uma cidade, é um imenso coração. A Rua XV é a aorta de onde partem ruas menores e alamedas que agora, tendo a função de veias, tratam de circular o sangue vital desta cidade.
Em dia de vitória Rubro-Negra, o sangue é um mar de camisetas orgulhosas que vão de um ponto a outro de Curitiba anunciando que a vida é boa e vale a pena ser vivida. Se a vitória é de outro time, o sangue circula alterado, leucêmico, pois não há sangue verde, tampouco há sangue de três cores. Sangue mesmo é Rubro-Negro e com este sangue Curitiba sempre foi mais viva, mais vibrante.
Mas eis que hoje, o sangue estancou nas veias da cidade, e em seu lugar brotou um coágulo roxo como se a morte ocupasse todos os espaços curitibanos e como se tudo fosse um só canto de adeus. Contrariando aos que se deixam morrer, entôo agora meu canto de vida mesmo que a maior vitória se adie para outro ano ou outro tempo.
Faço-me a voz mais comovida para anunciar, a quantos queiram ouvir: o meu Atlético, o nosso Atlético, já é bicampeão, tricampeão, tetracampeão brasileiro porque seu destino de vitórias é certo e inafastável, como é certo as águas correrem do rio para o mar, como é certo o céu ser o recanto das estrelas, como é certo o alvorecer dos dias mais radiosos no horizonte da Baixada.
Contrariando aos que se deixam morrer, eu asseguro que este campeonato foi feito de quarenta e seis jornadas e que não foram quatro ou cinco combates que nos afastaram do título. Foram quarenta e seis batalhas que nos devolveram a alegria de ver o Furacão de novo em uma Copa Libertadores da América, a terceira vez nas últimas seis edições.
Foram quarenta e seis jornadas que fizeram de um jogador Rubro-Negro o maior artilheiro de um campeonato brasileiro, em todas as suas trinta e quatro edições. Foram quarenta e seis rodadas que fizeram de um jogador Rubro-Negro o maior artilheiro de um campeonato brasileiro, e fizeram do Atlético o único clube paranaense a ostentar tamanha honraria.
Contrariando aos que se deixam morrer, eu asseguro: serei mais um na arquibancada da Arena, no próximo domingo, não por ter certeza da conquista do bicampeonato neste ano, mas por ter certeza de que o meu Atlético, o nosso Atlético, já é bicampeão, tricampeão, tetracampeão brasileiro porque seu destino de vitórias é certo e inafastável, como é certo que a noite encerra o dia, como é certo que o pão sacia a fome e como é certo que nossas lágrimas, de tristeza e de alegria, formam as águas deste Oceano Atlético, imenso, profundo, tenso e que inunda de amor nossos corações.