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28 mar 2005 - 22h56

Mauro Holzmann, eu quero ser campeão paranaense 2005

Durante muitos anos, eu nutri o sonho infantil de ir a Minas Gerais. Na minha cabeça, Minas sempre foi um estado de espírito, antes mesmo de ser um apenas estado da federação.Queria estar em Minas para palmilhar vagamente uma qualquer estrada pedregosa, para encontrar a pedra no meio do caminho, para ver a máquina do mundo se entreabrir como nos versos de Drummond. Queria estar em Minas para sentir o vento das montanhas soprando a inspiração melodiosa das canções de Milton, Lô Borges, Beto Guedes e a turma toda da esquina. Queria estar em Minas para ver as esculturas de Antônio Francisco Lisboa, nosso genial Aleijadinho, que talhou em pedra-sabão os Doze Profetas hoje dispostos nas escadarias e no adro do santuário de Bom Jesus de Matosinhos. Queria tanto, mas nunca fui lá, até porque nós, homens comuns, somos feitos de sonhos, e sonhos dificilmente se realizam. Resignei-me, guardei o sonho de ir a Minas, mas a imagem dos Profetas de Aleijadinho ainda povoa minha mente, ainda ocupa a vida de minhas retinas tão fatigadas.

Mas até aqui eu disse muito, mas ainda não disse o essencial: muitos são os homens que sonham, poucos são os homens que realizam seus sonhos. E neste ponto, eu lhes afirmo, diletos leitores, que muitas vezes eu sonhei um Atlético forte, pleno, capaz de ocupar um lugar de destaque no cenário futebolístico brasileiro, mas um simples atleticano como eu seria incapaz de realizar esse sonho, como seriam de resto incapazes todos os outros milhares de atleticanos.

Reconheço, e não há mérito nenhum neste meu reconhecimento, que não fosse o espetacular Mário Celso Petraglia e seus Profetas, bem mais numerosos que os Doze Profetas de Aleijadinho, nosso Atlético ainda estaria vivendo dias incertos e bem menos radiosos. O Atlético, e cada atleticano, deve muito ao Mário Celso Petraglia e aos Santos Profetas Rubro-Negros. Se fosse possível, a frente da Kyocera Arena deveria receber estátuas deles todos, de corpo inteiro, esculpidos em pedra-sabão para que todos soubessem que aqueles abnegados deram suas vidas em prol da vida do Atlético, deram o melhor de seus dias para que o Atlético vivesse também dias melhores.

E assim, eu teria o imenso gosto de ver, na frente da Kyocera Arena, as estátuas do Mário Celso Petraglia, do Valmor Zimmerman, do Farinhaque, do Fleury, do Sicupira, do Caju, do Cireno, do Casal Vinte, do Paulo Rink, do Jackson, do Zinder Lins e do Mauro Holzmann, pois todos eles, a seu modo, fizeram do Atlético uma força sobrenatural. E o espaço é curto para tantos nomes, e a memória me trai sempre quando dela mais preciso e fazer uma lista definitiva de notáveis atleticanos é, definitivamente, uma tarefa impossível.

Mas justamente um dos meus Profetas de pedra-sabão – o esplêndido Mauro Holzmann – andou me decepcionando noite dessas quando participou de um programa esportivo transmitido pelas ondas televisivas da excelente RTVE.

Pois bem: neste programa o nosso homem-forte do marketing ia discorrendo suas teses de vanguarda sobre os negócios do futebol. E falou de números, e demonstrou invulgar conhecimento, e citou times de dentro e fora do Brasil, e deu nome a todos os bois que careciam de batizado, e falou do Clube dos Treze, e deu uma aula sobre tudo, sobretudo deu aula de como administrar um clube do tamanho do Atlético. E o nosso Mauro ia bem em tudo o que falava até que lhe fizeram uma pergunta lapidar: Vai o Atlético permitir que o coritiba seja tricampeão paranaense?

Lançado o questionamento eu me ajeitei na poltrona esperando uma bela resposta do Mauro, algo que viesse forte como um Furacão e que em síntese dissesse algo como: não, jamais, de forma alguma, em tempo algum permitiremos que o coritiba levante o tri numa época em que o nosso Rubro-Negro é tão mais forte, tão mais pujante.

No entanto, em vez de dizer algo do gênero, o nosso educado Mauro disse apenas: “Um vai ter que ganhar. Um vai ter que ser campeão.” e disse isso com tanta naturalidade que me pareceu que o Atlético admite como natural a hipótese de vir a perder um título paranaense antes mesmo de lutar por ele.

Nesta noite, o Mauro se mostrou muito racional e só a razão é incapaz de mover um time como o Atlético, pois o Atlético sempre teve sua força motriz ligada à energia da paixão. Nesta noite, o Mauro deixou transparecer que um título paranaense pouco significa para as coisas do Atlético, mas um título, seja qual for, é sempre algo a ser perseguido com tenacidade, ainda que possa significar pouco, muito pouco.

E nesta altura eu volto aos meus Profetas Atleticanos, esculpidos na pedra-sabão dos meus sonhos e colocados por mim na frente da minha Kyocera Arena interior, para lembrar a figura do nosso Zinder Lins, morto no dia 27/07/90, e autor de uma maravilha que é o hino do Clube Atlético Paranaense. Pois bem, evoquei a figura do lendário Zinder Lins para mostrar a vocês a importância de um título, seja ele qual for.

O nosso Zinder foi jogador Rubro-Negro nas décadas de 30 e 40 e conquistou muitos títulos envergando o manto sagrado tinto de vermelho e preto. O Zinder fez pelo Atlético muito mais do que o Atlético fez por ele e fez tudo isso por amor, aquele mesmo amor que ele declarou no hino.

Conta-nos a história que mesmo depois de pendurar as chuteiras o Zinder ainda se manteve a serviço do Atlético e ele fazia de tudo pelo seu, pelo nosso Furacão. Uma das coisas que ele fazia era reconstruir os troféus de campeão desgastados pelo tempo e pela falta de cuidados. Assim, o Zinder passava dias inteiros colando pedaços de taças, grudando bolinhas que se desprendiam dos troféus, passava os dias polindo taças para lhes recobrar o dourado das glórias que o tempo, ousadamente, teimava em ofuscar. O nosso Zinder passava a vida conservando troféus que não conquistara só para perpetuar a glória de outros atletas, só para conservar a glória da história atleticana.

E quando lhe perguntavam o porquê de tantos cuidados, ele respondia: “Uma taça é sempre uma taça, um título é sempre um título. Por ele muitos homens se dedicaram, até mesmo arriscando a própria vida, pois nós atleticanos não tememos a nossa própria morte e pelo Atlético vale qualquer sacrifício.”

Hoje, após tanto tempo, o Atlético se modernizou e conta com uma estrutura de fazer inveja a todos os times do Brasil, mas quem olhar a majestosa galeria de troféus da magnífica Arena, talvez não saiba que muitas taças reluzentes são troféus de títulos paranaenses que guardam consigo 81 anos de história.

Talvez quem olhe aqueles troféus nem saiba quem foi Zinder Lins, mas mesmo sem saber, estará diante de muitas taças por ele conquistadas, por ele conservadas e por ele legadas à galeria ultra-moderna da monumental Arena.

Para o Zinder, e para todos os meus Profetas de pedra-sabão do Furacão das décadas de 30 e 40, um título sempre foi um título e sempre foi importante conquistá-lo. Um título, em cima dos verdes então, sempre foi uma razão para se lutar e morrer. Por isso, exemplar Mauro, nunca volte a repetir que um título pode ficar de qualquer lado, pois isso não é verdade: um título sempre fica do lado de quem luta para vencê-lo e para merecê-lo… e como eu quero, como nós queremos, esse título paranaense de 2005!

Sendo assim, caríssimo amigo Mauro, faça deste título o nosso maior objetivo, ou pelo menos o próximo objetivo, pois tenha certeza que o Zinder, se fosse vivo, passaria horas e horas admirando essa taça, lustrando essa taça, amando essa taça…como ele sempre amou o nosso querido Atlético Paranaense!



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