O atleticano é, antes de tudo, um forte
Curitiba, sábado, 26 de março de 1994. Naquela época, eu cursava Direito na Faculdade de Direito de Curitiba e todos os sábados tinha de ir ao ginásio da instituição fazer educação física. Eu tinha pouco mais que dezoito anos e havia doze anos que torcia pelo Atlético Paranaense. Dias difíceis aqueles, lembro-me bem: faltava grana, faltava emprego, faltava mulher, faltava time e só o que me sobrava era uma esperança daquelas grandes, capazes de me fazer acreditar na vinda de dias melhores. De resto, tudo era difícil, como lhes disse.
Na citada manhã, acordei com os primeiros raios de sol, tomei um rápido café, acendi um cigarro e me concentrei num único pensamento: hoje o Atlético faz 70 anos e eu vou fazer um gol durante a educação física para homenagear o meu Furacão! Era esse o meu objetivo e eu iria persegui-lo a qualquer custo, com obstinação.
Decisão tomada, vesti o sagrado manto Rubro-Negro, saí de casa, peguei o primeiro ônibus rumo à praça Rui Barbosa e desembarquei com os olhos rútilos de determinação: eu faria aquele gol nem que fosse a última coisa que fizesse na vida, pois era o gol dos 70 anos. Ainda na praça, detive-me por alguns instantes na leitura das manchetes dos jornais afixados no exterior da banca do Santos e os jornais aludiam aos 70 anos do Atlético fazendo questão de frisar que vivíamos uma crise. De fato, havia pouco a se comemorar.
Lidas as manchetes, adentrei ao ginásio de esportes como se ali me esperasse uma final de copa do mundo e eu precisava fazer aquele gol naquele dia, pois não haveria outro dia para se comemorar 70 anos, isto porque há coisas na vida que não se repetem jamais. E naquela manhã não sosseguei um só instante, e joguei todas as partidas, e dividi cada bola no meio da cancha, e fui buscar cada lance perdido, e fui atrás de cada jogada, e solei sei lá quantas canelas, e empurrei cada adversário como se disso dependesse minha sobrevivência, e cada minuto que passava me afastava ainda mais da meta pretendida: passavam-se os minutos e nada de o meu gol sair e nada de minha disposição arrefecer, pois dali não sairia sem o meu gol redentor.
E foi quando faltava um minuto, nem mais, nem menos, foi quando faltava exatamente um minuto que se operou o deslavado milagre: eu recebi a bola a poucos passos da demarcatória da metade da cancha. Driblei um marcador, depois outro, conduzi caprichosamente a bola até a cara do gol e com um canudaço rasteiro fuzilei o canto esquerdo do goleiro que saiu da meta sem poder fazer nada.
Pronto: estava ganho o meu dia, estava cumprida minha promessa, estava lavada a minha alma, pois eu conseguira marcar o gol dos 70 anos e honrar as cores do meu Furacão! E lembro-me que comemorei com um beijo na camisa, com um sinal da cruz e com um olhar voltado aos Céus, como se implorasse a ajuda divina tão necessária quanto urgente, pois vivíamos dias difíceis.
E lhes contei tudo isso só por um motivo: provar que um atleticano de verdade faz qualquer coisa pelo seu time de coração. E lhes disse tudo isso por outro motivo: lembrá-los que o amor incondicional pelo nosso Atlético anda meio esquecido, está em baixa e que precisamos voltar a amar o Atlético e as coisas do Atlético como costumamos amar a nossa própria vida.
E digo tudo isso porque as coisas que ando vendo por aí não me agradam. E digo tudo isso porque nunca vivi uma época tão cheia de ódios e tão escassa de amor. E digo tudo isso porque vi na Arena no último domingo uma cena tão chocante como covarde e passo a lhes contar os motivos de minha justa indignação.
Havia na Arena, no último domingo, um chamado para que assinaturas fossem apostas em um abaixo-assinado que pedia o afastamento do Petraglia. E havia ali atleticanos de todas as idades, de todos os níveis, pedindo a cabeça do Petraglia, numa cena chocante porque injusta e inaceitável porque covarde.
Mas o que me chamou mais a atenção é que ali havia meninos e meninas de 15, 16 anos, pedindo a cabeça do homem que fez do Atlético um grande time e a minha vontade era interpelar cada um daqueles jovens e perguntar a eles o porquê de tanta insatisfação. Provavelmente eles me dissessem: é que não ganhamos mais de ninguém e por isso mesmo viemos pedir a cabeça do homem, para que outro assuma e nos faça vencedores. Mas o que os meninos e meninas de 15, 16 anos sabem da vida? E saberão eles do Atlético a ponto de pedir a cabeça de seu maior dirigente? E acaso a vida é feita apenas de vitórias? Os nossos meninos e meninas ficaram mal acostumados com tantos triunfos.
Penso que é esse raciocínio que tenha levado tantos a assinar a lista a que me referi e, se esse for o raciocínio, peço licença para expor o outro lado da razão. O Atlético é um time de 81 anos dos quais 55 seguramente foram feitos de crises. Nunca foi fácil a vida atleticana e os verdadeiros Rubro-Negros como eu sabem disso.
O Atlético surge de uma fusão conturbada em 1924 na qual se uniram o América e o Internacional, os dois maiores times de futebol da Curitiba do começo dos anos 20. Logo de saída a fusão gerou insatisfações e houve quem se negasse a torcer pelo Atlético, pois eram do Internacional, pois eram do América e não adeririam ao novo clube, pois havia ainda muita rivalidade entre os dois.
Não obstante esse duro começo, o Atlético conquistou já em 1925 seu primeiro título paranaense e, cinco anos depois, levantava seu primeiro bicampeonato estadual de forma invicta. De 1930 até 1949 o Atlético viveu dias de absoluta paz e de conquistas memoráveis. Porém, recairiam sobre o nosso Rubro-Negro duas décadas de pesadíssima crise que teve seu ápice entre os anos de 1967 e 1968 quando nosso presidente Jofre Cabral teve de rasgar um regulamento de campeonato diante das câmeras da tv Iguaçu para manter-nos na primeira divisão estadual.
Para os jovens que assinaram o famigerado documento da Arena no último domingo eu vou resumir quem foi o presidente Jofre Cabral. O Jofre, cuja memória é tão pouco cultuada por nós, tomou em seus braços um Atlético quase morto e injetou-lhe nas veias o sangue forte vermelho e preto. O Jofre fez do Atlético um novo Atlético, devolveu-lhe à vida e devolveu a cada atleticano o orgulho de ser atleticano. E o Jofre só não fez mais porque um infarto lhe tirou da vida para colocá-lo no esquecimento, pois são poucos aqueles que dele ainda se lembram. E o Jofre só tinha uma preocupação: não permitir jamais que o seu Atlético desaparecesse.
Pois bem, depois da morte do Jofre, o Atlético mergulha em nova crise da qual só sairia em 1982 com a montagem daquele timaço de Assis, Washington e Companhia, campeão paranaense em 1982, terceiro lugar no brasileiro de 1983 e base do time bicampeão de 1982/83. Nos anos 80 o Atlético revive as glórias das décadas de 30 e 40, mas foram tempos que passaram depressa demais, e nova crise sobreveio, principalmente porque a partir de 1985 o Atlético se distanciou da Baixada, sua fonte inesgotável de poder.
Os anos 90 começaram e o Atlético se mantinha a duras penas no cenário esportivo brasileiro. Às vezes montava bons times, como o da série B de 1990 e como o time que surpreendeu o Brasil no início de 1991; às vezes apresentava elencos absurdamente fracos, como os times montados em 1992 e 1993.
Tantas dificuldades faziam do Atlético um time “ping-pong”, sempre subindo e descendo de divisão, sem conseguir se firmar entre os grandes clubes brasileiros. E as administrações se sucediam e cada vez mais o Atlético se cristalizava entre os times de pouca expressão em nosso futebol, perfilando-se naquele grupo onde se encaixavam times de pouca importância como o Náutico-PE, o Fortaleza-CE, o Juventude-RS, o Coritiba e o Paraná.
Em 1994, por exemplo, nosso departamento médico não tinha sequer band-aid’s e gaze para tratar os atletas e esses materiais eram doados ao clube pelos médicos do Atlético, conforme me contou o Dr. Murilo Ribas em uma conversa que tivemos em dezembro de 1997. Em 1994 nosso Atlético vivia dias de penúria e naquele ano não conseguimos voltar à primeira divisão nacional.
O ano de 1995 começa em meio à crise e essa situação dura até o Atletiba de Páscoa quando fomos definitivamente humilhados pelo rival que, diga-se de passagem, também tinha um time limitadíssimo e ainda assim nos impôs aquele placar de 5 a 1.
Deste Atletiba em diante as coisas mudaram, e mudaram porque um homem forte tomou o comando do nosso Rubro-Negro em suas mãos: o nome dele, Mário Celso Petraglia!
O Petraglia fez do Atlético um time grande, digno de suas tradições e, em apenas dez anos, conquistou títulos e feitos realmente impressionantes. Como lembrança, vamos citar: cinco títulos paranaenses (1998, 2000, 2001, 2002 e 2005), dois brasileiros (1995 e 2001), três participações na Libertadores (2000, 2002 e 2005), a edificação da Arena e do CT do Caju, a convocação do Kleberson que resultou na conquista do pentacampeonato mundial pelo Brasil, dentre outras conquistas que agora me fogem à memória.
E foi contra esse homem que os meninos e meninas de 15 e 16 anos se revoltaram no domingo. Foi contra esse homem que boa parte da torcida gritou: Fora, Petraglia; como se nesse grito estivesse o germe criador da solução para o momento difícil do Atlético! Foi contra esse homem, que edificou a Arena e que nos devolveu o gosto de sermos atleticanos, que os meninos e meninas de 15 anos gritaram, a plenos pulmões: Fora! E eu confesso que não consigo acreditar nisso! É muita injustiça, é muita ingratidão!
Talvez os meninos e meninas não saibam, mas o Petraglia é o maior dirigente da história do futebol do Paraná, maior inclusive que o Evangelino Neves, podem acreditar. Mas, mesmo assim, os meninos e meninas pediram a saída do Petraglia, como se ele fosse um monstro a ser banido, um câncer a ser extirpado. Que absurdo!
E hoje todos resolveram se voltar contra o Petraglia, pois é sempre bom achar um culpado para todos os problemas que nos afligem, mas haverá só um culpado? É evidente que não!
E os absurdos se somam, ou antes, se multiplicam. Vejamos.
O Levir Culpi chamou o Petraglia de covarde, mas quem botou o time na retranca lá em Erechim-RS contra o Grêmio? Foi o Petraglia? Não. Foi o sempre perdedor Levir Culpi que teve o título nas mãos e não soube vencer porque é um burro, um perdedor, um chantagista e um covarde!
O Petraglia sabia da existência de todos os esquemas armados para prejudicar o Atlético-PR na reta final do brasileirão. Por isso, ele procurou muitos jornalistas da nossa crônica para que eles denunciassem o esquema: alguém denunciou? Não! E por quê? Porque são todos covardes e ficaram morrendo de medo de sofrer processos e de perder os dinheirinhos que economizaram explorando o futebol aqui do Paraná. Não deram a cara para bater porque são uns frouxos!
Lá no Clube dos Treze quem peitou o Eurico Miranda? O Petraglia! E aqui em Curitiba, quando o Eurico esteve nos estúdios da CNT, todos os integrantes do Mesa Redonda o trataram muitíssimo bem, chamaram-no de doutor e morreram de medo do tal Eurico. Tudo aquilo que eles costumavam falar a distância contra o Eurico ficou guardadinho na garganta por puro medo, por pura covardia!
Aliás, em se falando em crônica esportiva, é de reconhecer o seguinte: o Coritiba é o time queridinho e protegido (qualquer partidinha medíocre do verde é um espetáculo, é uma maravilha), o Atlético é sempre combatido e tratado com rispidez e o Paraná Clube é simplesmente ignorado. Só um cego não vê isso!
Aliás, quando eu analiso a crônica esportiva curitibana eu penso o seguinte: ou o cara nasce inteligente ou nasce cronista esportivo em Curitiba, porque as duas coisas ao mesmo tempo não podem acontecer.
E para que não restem dúvidas, cito os nomes daqueles que, na minha modesta opinião, tentam prejudicar diariamente o nosso querido Clube Atlético Paranaense:
Band Curitiba (o dono é o Joel Malucelli e isso explica os comentários maldosos do José Wille e sua trupe), Rádio Clube Paranaense (já ouviram um Atletiba pela B-2? Parece que o coxa é a seleção brasileira e nós somos a Argentina! E olhem que a B-2 é ligada ao Vaticano e, segundo a Igreja, não pode haver discriminações… vou me queixar ao Papa Bento XVI…), Jornal Gazeta do Povo (nas efemérides esportivas sempre aparece o coxa ganhando e nada de aparecer o Atlético), Vinicius Coelho (esse é esclerosado e invejoso), Airton Cordeiro (notem o sorrisinho dele em cada revés atleticano), Carneiro Neto (o homem que tem medo de processo, e notem que coincidentemente os três têm nome de animais), RTVE (o Sílvio de Tarso e o Fachinello e seus comentários imbecis), a Rádio Transamérica (que saudade do Alexandre Zraik!) e outros tantos outros veículos de menor potencial lesivo, mas que incomodam e tentam atrapalhar nosso caminho.
Pois bem, já há tanta gente para incomodar e para atrapalhar e nós, atleticanos, ainda queremos jogar contra o nosso patrimônio! Tenham a santa paciência! É claro que o Petraglia não é um santo e que a coisa não anda lá essas coisas, mas dizer que a crise é a pior crise do Atlético já chega a ser sandice. A hora é de nos unirmos e pararmos de babaquice. Torcedor que vai ao campo tem de apoiar o time e não ficar vaiando e querendo dar uma de torcedor paulista que sai quebrando a sede do clube, que invade o CT para bater em jogador, isso é bobagem.
Outra coisa: parem de aumentar os problemas. A fase é ruim, mas para quem lembra do tempo em que jogávamos no Pinheirão essa nossa crise atual chega a fazer cócegas! Lembram do Paulinho Kobaiashi, do Pirata, do Edenílson Pateta? Pois é, a coisa mudou nos últimos anos e para melhor, então larguem mão de ficar assinando abaixo-assinado e passem a incentivar o Atlético nas arquibancadas, sem frescuras do tipo “Fora, Petraglia”, pois isso não resolve nada!
E outra coisa, estamos em crise, mas quinta-feira temos jogo pelas oitavas-de-final da Copa Libertadores. Para os meninos e meninas de 15 e 16 anos isso significa estar entre os dezesseis melhores das Américas, e não podemos deixar de apoiar o nosso Furacão. Assim, os torcedores que se fizerem presentes à Arena dia 19/05 que tratem de gritar a plenos pulmões o nome do Atlético e esqueçam aqueles 4 a 0 porque eles já não fazem diferença alguma.
E sendo assim, feito aqui meu desabafo, espero sinceramente que as coisas melhorem e que voltemos a ser fortes e vencedores. Mas só voltaremos a provar dias de vitória depois de superada esta fase de dificuldades, e as dificuldades só são vencidas pelos fortes, como o Petraglia e como todos nós atleticanos, e não pelos covardes à moda do sempre vice Levir Culpi e dos cronistazinhos esportivos curitibanos que tremem atrás de suas latinhas e maquininhas de escrever bobagens e que admiram o Galvão Bueno (como é chato!), o Milton Neves (como é venal!) e todos esses boçais.
E por falar nos boçais da crônica esportiva nacional, que saudade do grande Nelson Rodrigues, esse sim, Jornalista esportivo. E o genial Nelson dizia:
“Em futebol, só uma coisa é certa: – o torcedor esquece facilmente, como os índios e as crianças”!