Raça, Furacão
Nenhuma palavra combina melhor com o Atlético de 2005 do que irregularidade. Nesta temporada, o vice-campeão brasileiro iniciou o ano de modo titubeante, com dois grupos de jogadores trabalhando de forma separada para a Libertadores e o Campeonato Paranaense. Sob o comando do então desconhecido Casemiro Mior, o Rubro-negro teve uma surpreendente boa estréia na competição sul-americana e chegou a abrir 2 a 0 sobre o Independiente, em Medellín. Porém, nos minutos finais acabou cedendo o empate. Aquele jogo é uma boa síntese do Atlético no ano. Atravessando ciclos de altos e baixas, o time alterna partidas fantásticas com atuações ridículas. Quando a maior parte da torcida já havia perdido a esperança com a equipe, eis que o Furacão ressurge das cinzas e passa a jogar um bom futebol. Mas quando está tudo a favor, com bons jogos e confiança da galera, o time patina e volta a decepcionar. Afinal, qual é o verdadeiro Atlético?
Para tentar responder a essa pergunta, é bom relembrar de alguns jogos e fatos. De início, é bom destacar que este time jamais pode ser acusado de perdedor. Com uma garra fenomenal, os jogadores honraram a camisa rubro-negra e fizeram uma campanha na Libertadores digna de orgulho para a torcida. Jogos como as vitórias sobre o Santos, a goleada no Chivas e as classificações históricas conquistas no Paraguai e no México já fazem parte de um acervo precioso da atual geração de torcedores atleticanos. Quando jogou com raça, disposição e força de vontade, o time nunca decepcionou.
Não por casualidade, os piores momentos do Atlético em 2005 ocorreram quando o time esteve desacompanhado dessa característica fundamental: a raça. Foi assim no primeiro jogo da final do Campeonato Paranaense, repetiu-se na humilhante derrota para o Independiente da Arena e na final da Libertadores, no Morumbi, além da seqüência de primeiros jogos do Brasileiro.
Outra diferença fundamental está no rendimento da equipe quando conta com seus titulares e quando atua com um time reserva. Durante o Paranaense, no início do ano, os suplentes jamais foram capazes de realizar uma partida convincente. O aproveitamento foi tão negativo que resultou da própria extinção do projeto de dois grupos separados. Depois, no início do Brasileiro, o time também penou quando não pôde contar com os titulares. O único triunfo foi justamente na primeira vitória do Atlético no campeonato, contra o Coritiba. Neste jogo, porém, houve dois fatores fundamentais: o apoio da torcida e a raça dos jogadores, tão ausente nas partidas anteriores.
Depois da vitória no Atletiba, o Atlético embalou no Brasileirão. Voltando a jogar na Baixada, acumulou vitórias e empolgou a torcida em jogos históricos como os contra o Vasco e o Cruzeiro. A esperança foi resgatada e os atleticanos voltaram a sonhar com a classificação para a Sul-Americana ou até mesmo para a Libertadores. Entretanto, duas derrotas seguidas, para São Caetano e Paysandu, voltaram a colocar em cheque a identidade da equipe. A torcida voltou a ficar desconfiada e preocupada com a possibilidade de rebaixamento.
O segredo para retomar a boa fase passa por dois aspectos: a força do time titular e a raça dos jogadores. "Se o Atlético não tem uma equipe fantástica tecnicamente, pelo menos prima pela raça. Contra o Paysandu, nem raça teve", comentou Walter Xavier, do programa Mesa Redonda, apontando que o time não teve a tradicional força de vontade na última partida. "Quando tem o Cocito e o Marcão, o time tem liderança dentro de campo. Até pelo exemplo que esses jogadores representam", completou Valmir Gomes, citando dois jogadores experientes e apontados como os mais "raçudos" do elenco.
A resposta aos questionamentos da torcida terá de ser dada pelos atletas. Contra o São Paulo, motivação não faltará. Será a oportunidade de dar o troco pela derrota na final da Libertadores e certamente a Arena estará lotada de atleticanos fanáticos, que apoiarão a equipe do início ao fim do jogo. Por um lado, o time certamente terá desfalques – Lima cumprirá suspensão automática, Aloísio e Cocito são dúvidas. Portanto, já se sabe que Antonio Lopes não poderá contar com força máxima. É justamente por isso que se torna mais relevante o outro fator decisivo, a raça. No próximo sábado, contra o São Paulo, tudo o que a torcida atleticana espera é que os atletas honrem o hino do clube e provem que rubro-negro é quem tem raça.