Quando o time também fará parte do planejamento?
O Atlético utilizou 45 jogadores em 25 rodadas do campeonato brasileiro deste ano, mostra a reportagem estampada no caderno de esportes da Gazeta do Povo de hoje. Em outras palavras, 4 times completos. Como o campeonato começou há 5 meses, num raciocínio linear dá pra afirmar que utilizou um time diferente a aproximadamente cada 38 dias.
Ora, é notória no futebol a máxima de que entrosamento é condição primordial para qualquer equipe, que só se torna vitoriosa se apresentar isso, aliado à técnica e disposição de vencer. Com tanta variabilidade assim, é impossível obter um mínimo de entrosamento. Nesse ponto, não se pode esperar muito do Atlético na reta final do campeonato brasileiro. A verdade é que o rubro-negro ainda não tem uma base, uma espinha dorsal de equipe.
Qual é a causa disso? Na minha visão, a causa básica está em um erro particular do planejamento estratégico do clube.
Não se pode deixar de reconhecer o mérito da atual gestão do Atlético, pela direção estratégica que vem dando ao clube, do ponto de vista patrimonial, de imagem e de organização, sempre com uma visão moderna e visando o futuro. Os resultados desse direcionamento, e por certo de muito trabalho, estão aí inegavelmente visíveis para todos nós. Os títulos conquistados, as campanhas vitoriosas dos últimos anos, o CT do CAJU, a ARENA, o trabalho com as escolinhas, a imagem do clube atravessando fronteiras, não deixam dúvidas quanto aos acertos até agora conquistados.
Cabe, no entanto, fazer uma ressalva de extrema importância. O Atlético está se estruturando como um grande clube que ele é, mas o seu planejamento estratégico está deixando um ponto vulnerável: a sua equipe de futebol. O Atlético precisa voltar os olhos para montar uma grande equipe. Não digo que isso se faça mediante contratações de peso, que por vezes se caracterizam como pura jogada de marketing. O que o clube tem que fazer é investir na montagem de um time-base, com jogadores de qualidade, e trabalhar essa equipe com constância e estabilidade. O Atlético optou estrategicamente, e também ao longo de sua honrosa trajetória, pelo futebol. Ora, não se pode ter um grande clube de futebol somente com estrutura física e marketing. É necessário, antes de tudo, ter um time de boa qualidade e que conquiste títulos, para realimentar o sucesso da imagem e da marca. O que o Atlético precisa agora é de “estabilidade” do time, com qualidade. Não pode mais se dar ao luxo de, num mesmo ano conquistar um título estadual, ser finalista da Libertadores e chegar ao final dele correndo o risco de ser rebaixado para a segunda divisão do futebol brasileiro. Essa oscilação, de um pólo a outro, pode colocar em risco todo o investimento de longo prazo que o clube vem fazendo.