De volta à realidade
Ontem (30/05), no jornal Gazeta do Povo (aquele mesmo jornal que me disponibilizou os ingressos para os jogos do campeonato brasileiro e… deixa pra lá) há uma ilustrativa matéria, pequena, ao pé da página do caderno de esportes. Seu conteúdo é diferente do usual. Não trata da saída ou não do Givanildo, das falhas do Danilo ou da aguardada decisão do Dagoberto.
Fala de um torcedor do Atlético. Um rapaz simples, ostentando um agasalho dos Fanáticos com indisfarçável orgulho em seu ambiente de trabalho: as canaletas do expresso, onde ele guarda carros. E o personagem confessa que sua maior alegria é o futebol. Mais especificamente o futebol do Furacão. Entre suas declarações, o desejo de demonstrar que apesar de ganhar 400 reais por mês não pretende ficar atrás da torcida que a nossa Diretoria prefere ver freqüentando as luxuosas dependências da Kyocera Arena.
E isso me deixou aflito. Deve ser angustiante sentir-se assim. Nosso presidente queixa-se da fraca venda de pacotes, no que tem sua parcela de razão. Porém, não custa nada lembrar que a grande massa atleticana é heterogênea, principalmente ao considerarmos as diferenças sociais de quem se encontra para assistir um jogo de futebol, e assim deve ser. Por isso, não imagino que possa ser difícil concluir que uma coisa não está necessariamente vinculada a outra, ou seja, que para atrair a classe mais privilegiada ao estádio seja necessário esmagar quem menos tem.
“Sapo”, o apelido do torcedor da matéria, orgulha-se de ter duas camisas oficiais, uma de jogo e outra de treino. E de ter ficado sem luz porque optou, ao invés de pagar sua conta, ir ao Rio de Janeiro torcer para o Atlético e sofrer na derrota contra o Vasco no campeonato que demos ao Santos. Certamente ele não pôde pagar o pacote (mesmo parcelando no cartão). E não é por isso que ele é menos atleticano do que quem quer que seja. Muito, mas muito pelo contrário, mesmo.
Para pessoas como ele, o Clube Atlético Paranaense, em toda a sua inegável grandeza, deveria ao menos facilitar seu acesso às partidas, o que não faz. E essa é a realidade de grande parte de torcedores que hoje não estão mais no estádio. O Clube até demonstra ter condições de agir assim. Mas será que isso é realmente preciso?