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22 fev 2007 - 17h39

Arena II

Dia de jogo. O adversário: a Adap. Peguei meu ingresso e escolhi, entre meus dois filhos pequenos, qual me acompanharia. O felizardo dessa vez foi o Tiago, meu menor, com apenas três anos e meio de idade. Escolhi um só porque como meus piás são realmente muito danados, confesso: sou incapaz de controlá-los quando juntos. Mal sabia eu quanto me custaria levar os dois…

Orgulhoso da minha condição de “sócio”, estava ansioso para ver meu nome estampado em minha cadeira. Como o esperado, o público não era dos maiores. Botei meu gurizinho no colo e me dirigi rumo às catracas. Na hora de passar o ingresso fui abordado pelo segurança:

– E ele? Tem ingresso? – apontando meu piá.
– Ele só tem três anos – respondi.
– Não importa. Ele usa cadeira como todos os outros. – me explicou o sujeito banguela de colete vermelho quase grosseiramente.

Um tanto confuso e levemente indignado sem saber ao certo o porquê, retornei à bilheteria. Imaginei que num jogo como o que eu iria ver (com a inexpressiva equipe do Adap em termos de torcida e expectativa) sobrariam cadeiras a ponto de não haver necessidade da cobrança de ingresso de um menino tão pequeno. Paciência, pensei….

E paciência me foi exigida. Ao chegar na frente do estádio, bilheterias vazias, exceto as do meio-ingresso. Lá da frente da loja eu mal enxergava o enorme cartaz com as condições da compra do meio-ingresso. E ao perceber o rol de requisitos exigidos para isso concluí que perderia o meu tempo, já que eu não havia levado a certidão de nascimento do meu filho.

Encontrei um amigo nas mesmas condições. E lhe indaguei se mesmo com criança tão pequena haveriam de me exigir a certidão de nascimento. Evidentemente era um menor, bem pequeno por sinal. Ligeiramente constrangido com a situação e mais experiente do que eu, meu amigo explicou-me que já havia passado pelo mesmo problema e que agora levava sempre a certidão de nascimento de seu filho, de cinco anos.

Como eu já estava lá, e animado pela goleada que iríamos aplicar na respeitável equipe da Adap, acabei comprando o ingresso de meu menino de um cambista, que logo foi me esclarecendo que não tinha meia entrada mas faria a inteira por um preço especial: R$ 30,00 (logo eu ! que tanto desprezo o “trabalho” desse pessoal).

Me dirigi às catracas, passei por nova revista, e caprichosamente levei meu menino ao chão, para que ele mesmo passasse a catraca. Evidentemente que sequer força ele teve para tanto, mas com minha ajuda ele venceu o desafio. Fez valer a condição de ingressar na Kyocera Arena com seu próprio ingresso.

O esperado ocorreu: cerca de 4.000 pagantes compareceram ao estádio, ou seja, várias cadeiras vazias. E isso me fez pensar em quantos pais, como eu, deixaram seus filhos pequenos em casa. Em como aquele estádio poderia estar mais cheio e feliz, com a novíssima geração de atleticanos que, ao contrário do que aconteceu comigo, certamente irão pouquíssimo ao estádio ver o Atlético jogar.

Tenho 38 anos de idade. E as memórias mais doces da minha infância são da Baixada. Da proteção de meu pai, da bandeirinha que carregava sempre. Da almofadinha que servia de amparo ao traseiro naquela arquibancada de tijolos e cimento. Meus filhos infelizmente não terão isso. Não sei se hoje sou menos favorecido do que meu pai, que podia levar eu e meu irmão ao estádio. Até acho que não. Porque tenho certeza de que o campo do meu time de coração recebia seus futuros torcedores de braços abertos. E isto, hoje, está bem longe de acontecer. E como o Dagoberto, o Cristian e o Michel, isso também é lamentável.



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