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8 mar 2007 - 12h54

Às meninas do meu coração

Hoje, 8de março, Dia Internacional da Mulher! Faço pausa nos assuntos da bola, para me dedicar às belas. Ah, as mulheres: o que seria de nós, homens, sem elas? O que seria do Mundo sem elas? O que seria do amor? A vida, sem elas, seria fruta sem sabor, praia sem mar, campo sem flor (não sei, não, mas acho que esse negócio de campo sem flor já foi dito por outro cara, mas tudo bem). Sem elas, não serviríamos para nada, para nada mesmo!

Falando de mulheres, numa página dedicada ao futebol, invadiu-me a memória um certo fato da infância. Aconteceu em 1982. Naquela época eu tinha sete anos e meu irmão tinha quatro. Havia em nosso prédio mais uns três guris que gostavam de futebol e que tinham idades entre sete e oito anos.

Jogávamos futebol na garagem, piso de cimento, usando as colunas do prédio como traves, às vezes riscando uma “trave” a giz no muro do prédio, enfim, fazíamos das tripas coração para conseguir jogar ali nossa bolinha. E jogávamos, não obstante os protestos dos síndicos e porteiros.

Certa manhã, a menina que morava no primeiro andar desceu até a garagem e sentou sobre uma pilha de tijolos. Ficou nos observando como se esperasse apenas um convite para entrar em “campo”. O tempo passava e nada de a gente convidá-la para jogar. Lá pelas tantas, resolvi escalá-la – nem tanto por cavalheirismo, mas por não agüentar mais aquela correria toda.

Imediatamente ela tomou o meu lugar e saiu pelo pátio de cimento conduzindo a pelota. A menina devia ter uns nove anos, cabelos pretos e longos, pele muito branca, pernas finas e compridas e um fôlego inesgotável. Com suas passadas largas, nenhum de nós parecia ser páreo para ela. Não me lembro o nome dela. Acho que era Carla ou Denise. Infelizmente, não me lembro, mas lembro que ela jogava com vontade e com um sorriso nos lábios.

Com suas passadas largas, a menina ganhou lugar no nosso grupo e nenhum de nós realmente era páreo para ela. Não me lembro o nome dela. Acho que era Carla ou Denise. Infelizmente, eu me lembro que um dia duas senhoras desceram lá na garagem para pegar o carro e, enquanto se aproximavam do veículo, comentaram às gargalhadas: “Essa menina é um guri! Onde já se viu jogar bola? Que menina de verdade gosta de ficar suada, cheirando mal e cheia de hematomas? É um guri, um guri!”.

Todos nós ouvimos a grosseria. Meu irmão, que já é branco por natureza, ficou transparente de tão pálido. Meus amigos, de susto, ficaram parados e eu – pela primeira vez na vida – ficava cara a cara com a injustiça, com a violência, com a agressão gratuita. Diante de nossa estagnação, a menina resolveu bronquear: “Ei, vocês vão ficar parados aí? Vamos jogar!” – e suas mãos muito brancas, num arremesso lateral, colocaram a bola novamente em movimento.

Não me lembro o nome daquela menina. Acho que era Carla ou Denise. Lembro que ela jogava com vontade e com um sorriso nos lábios. Lembro que com ela eu aprendi – numa daquelas manhãs – que a vida é mesmo um jogo e que a gente deve jogar – e lutar – até o fim, sempre em busca da vitória, apesar de tudo, apesar de todos.

Com aquela menina eu aprendi que a verdadeira vitória é o nosso crescimento de alma e de coração, apesar de tantas derrotas dessa vida, apesar de tantos adversários desleais. Aquela menina me ensinou a ter fé. Não a fé no sentido religioso do termo, mas a ter fé em mim mesmo e acho que cada guri daquele prédio aprendeu a mesma coisa com ela.

De 1982 para cá muito tempo se passou. Já se vão 25 anos e hoje é comum vermos meninas jogando bola nas praças, nos parques, nas canchas. Toda vez que eu vejo uma menina jogando bola eu me lembro daquela nossa vizinha e da coragem que ela teve de jogar sua bolinha na frente de todos, sem se importar com os comentários maldosos.

Hoje, é comum vermos as mulheres envolvidas com o futebol, opinando, torcendo, jogando, abrilhantando o rude esporte bretão e participando de tudo. É bem possível que ainda existam pessoas que se espantem com o comportamento dessas meninas e não duvido que alguém chegue mesmo a dizer: “Essas meninas são uns guris! Onde já se viu gostarem de futebol? Que menina de verdade gosta de ficar suada, cheirando mal e cheia de hematomas? São guris, são guris!”. Mas se alguém porventura diz isso, ou “pensa” assim, deixo aqui o meu recado: Calem a boca! Cresçam! Virem gente! E deixem nossas meninas em paz!

Hoje, 08 de março, Dia Internacional da Mulher, faço pausa nos assuntos da bola, para me dedicar às belas. Ah, vocês mulheres: o que seria de nós, homens, sem vocês? O que seria deste Mundo sem vocês? O que seria do amor? Haveria amor?

Ah, minhas meninas, hoje eu queria apenas que vocês soubessem que a gente não é nada sem vocês. Ah, mulheres, eu queria apenas que este Dia Internacional fosse uma forma de dizer que a gente ama todas vocês, pelo simples fato de serem belas, serem fortes, serem tudo, serem filhas, mães, namoradas, amantes, amadas, pelo simples fato de serem vida, ou o melhor que existe nela, pelo simples fato de serem Mulheres!

Quanto ao nome daquela admirável menina, de fato, não me lembro. Acho que era Carla ou Denise, mas bem que poderia ser Patrícia, Michele, Suzane, Cleonice, Danielle, Esther, Rute, Palmira, Maria Tereza, Lígia, Laís, Consuelo, Karimen, Fernanda, e tantas outras mulheres lindas que eu conheço e conheci ao longo desta minha vida cheia de amor que emana de vocês. Hoje, 08 de março, tenham todas um Feliz Dia Internacional da Mulher!



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