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3 maio 2007 - 16h32

Guilherme, segunto ele próprio

Ontem, quando do desenrolar de nosso embate com o Fluminense, confesso, mais do que qualquer outra coisa, fiquei observando atentamente o comportamento do nosso goleiro Guilherme, que me havia causado excelente impressão quando de sua participação no jogo contra o Paraná Clube. A sua maior virtude, a par das suas inquestionáveis vocação e qualidade técnica para ser um verdadeiro goalkeeper -essa é do fundo do baú-, sem a mais mínima dúvida, é a personalidade; aliás, personalidade é um apanágio que, ou se tem, porque já se nasce com ela, ou não se tem. O Guilherme a tem e muito. Entrevistado após o término da partida por um repórter de campo fluminense, vale dizer, funcionalmente vinculado a uma das emissoras de rádio do Estado do Rio de Janeiro, disse, entre outras coisas, que, embora admire os estilos dos goleiros Taffarel e Júlio César, busca e vai buscar sempre ser ele mesmo antes de qualquer outra coisa, ou seja, o Guilherme.

Na verdade, meus caros irmãos rubro-negros paranaenses, o Guilherme, na noite de ontem, não somente jogou futebol; ele deu –quer queiram, quer não-, um autêntico show de performance de sua profissão no tão decantado templo dos deuses do futebol mundial que a tantos intimida e apavora. Não bastasse as grandes defesas que fez, quando então matou aquela bola no peito antes de a repor em jogo, pensei: este é daqueles que não se assusta e nem se impressiona com nada, esteja jogando onde, para quem estiver e contra quem quer que seja. Pouco depois, após fazer uma defesa no chão e, ainda sem se levantar, abrir e levantar os braços para cima, mantendo a bola rente ao corpo, entendi esse seu gesto não como uma provocação ao adversário ou coisa assemelhada, mas sim como uma atitude expontânea e normal de quem se sente completamente à vontade no seu local de trabalho, porque tem a certeza de que sabe desempenhar com tranquilidade e eficiência os seus afazeres.

Portanto, sem essa de ficar dizendo que o rapaz é ainda uma promessa e que deve pegar mais experiência, etc., etc., vale dizer, esses chavões que a maioria dos cronistas esportivos usam em suas palavras e em seus escritos porque temem, antes de mais nada, queimarem a própria língua e comprometerem a sua própria condição profissional (não querem vaticinar positivamente acerca de ninguém e de coisa alguma, pois preferem sempre emitir juízos definitivos diante de situações já consolidadas).

O Guilherme, como é e da maneira como se apresenta, é o Guilherme (.) ponto. Pode não ser o melhor goleiro do mundo ou, antes, um muro intransponível, mas, convenhamos, nos últimos anos, ninguém mostrou já de início ser mais completo do que ele, enquanto goleiro, no Clube Atlético Paranaense.

Esqueçam, pois, que ele está começando. Tratem-no, desde já, como alguém que deve ser cobrado como qualquer goleiro titular de um Clube da 1ª. Divisão de nosso futebol; ele vai gostar disso, porque tem personalidade.

É isso aí, Guilherme, você é e sempre será você mesmo, com as tuas virtudes e com os teus defeitos (quem não os tem?), isso porque nós, seres humanos, conservamos sempre a nossa exata dimensão, não podendo a injúria nos tornar menores e nem os elogios nos tornar maiores do que realmente somos.



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