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21 maio 2007 - 14h55

A sorte acompanha os destemidos

Dizem que na nossa cultura futebolística, quando as coisas começam a sair errado é mister que se ache um culpado e, nessas condições o alvo mais fácil de se acertar sempre é o treinador.

O time joga mal e perde. A torcida frustrada, irritada e contrariada, logo puxa o coro: BURRO!!! BURRO!!! BURRO!!! Mas de repente o time vence uma ou duas vezes e alguns benfeitores indagam: “ONDE ESTÃO OS CORNETEIROS? POR QUE NÃO ESBRAVEJAM AGORA?”

Desde de que o comando do time foi entregue nas mãos do Sr. Oswaldo Alvarez a cerca de um ano, essa tem sido uma realidade constante no nosso querido e amado Clube Atlético Paranaense. Volta e meia a contradição e a discórdia pairam como nuvens negras sobre à Arena da Baixada. Digo isso porque já está mais do que provado que essa situação não irá mudar, e que novamente o maior prejudicado será o apaixonado torcedor rubro-negro.

Quantos triunfos nos foram negados? Quantas vitórias escorregaram caprichosamente por nossos dedos? Quantas vezes nos impediram de celebrar? Inúmeras eu diria. Quantas derrotas absolutamente desnecessárias no nacional do ano passado – pricipalmete em nossa casa – que nos impediram de chegar a Copa Libertadores da América? E a derrota desastrosa contra a equipe do Pachuca na semi-final da Copa Sulamericana na Arena lotada naquele feriado ensolarado de novembro? E o estadual deste ano? Primeiro o “time B”, depois uma inédita derrota para o rival tricolor, nos eliminado em nosso próprio campo.

E a Copa do Brasil? Ahhh… a Copa do Brasil não sairá da mente atleticana tão cedo! Tão pouco esqueceremos o sentimento que nos cercava aquela época. A conquista estava tão próxima, tão nítida, tão real. Terá sido apenas um sonho? Ou quem sabe não mais que um pesadelo? Primeiro a mística rubro-negra. Time e torcida unidos no triunfante revés sobre os bahianos. Uma certa magia parecia envolver a Arena naquela noite fria de abril. Milhares de vozes cantando. Milhares de vozes dançando. Milhares de vozes girando… bailando no ar. Os gols saíam como que por encanto! Na arquibancada, já em estado de semi-delírio, a legião atleticana entoava cânticos de vitória. A… TLÉ… TICOOO!!! O som ecoava de forma ensurdecedora. Simplesmente inesquecível. Depois, outra derrota amarga contra o xará goianiense. Mais uma vez a superação. Menos brilhante é verdade, mas não menos valiosa. Passamos por duas grandes provações. Quem ainda pretenderia nos derrubar?

Tudo conspira a nosso favor. O Atlético joga com à áurea ilumiada dos campeões. Os deuses nos sorriem sem nenhum pudor. Vamos chegar ao título. O triunfo deseja, anseia em pintar-se de rubro-negro. Destemidos… a sorte alegra-se em nos acompanhar.

Então veio o time medíocre do Fluminense. Bom resultado fora. Pensamos: “será menos sofrido”. Então, novamente a torcida. Novamente uma noite fria de abril. Novamente a magia no ar. É certo. Vamos vencer. Mas de repente as coisas começam a dar errado. O bom goleiro Guilherme expulso prematuramente. O time não se encontra em campo. Rafael Moura aproveita a falha de Julian e por pouco não abre o placar. Por hora estamos salvos. A bola não entra mas trás consigo os maus presságios. Será a última vez que os deuses decidirão em nosso favor. Sensível, a torcida atleticana começa sentir calafrios. A derrota nos ronda; vai furtar nossa sorte! Os deuses se irritam com nossa subserviência, estamos falhando no teste. A fortuna parece nos abandonar. Agora estamos por canta própria. Deixamos de ser destemidos. A sorte não quer mais nos acompanhar. O sonho vai ruir! Mas há um sujeito que não vê o avanço do inimigo. Não seria de todo ruim se esse sujeito… não fosse de fato o general. Na beira do campo de batalha, a iminente perda da guerra, o general olha resignado: Não há nada a fazer. Estamos entregues. Na arquibancada o apaixonado torcedor acompanha descrente, inconsolado e impotente a falta do espírito guerreiro de outrora: RAÇA! RAÇA! RAÇA! A esta altura, os deuses, já nas linhas inimigas, sorriem em tom sarcástico, planejam uma travessura. Bate e rebate. Na frente do gol, o adversário prepara-se para selar o sombrio destino rubro-negro. O pior está próximo. O tempo parece parar, a angústia aumenta. Silêncio. De repente… uma pausa dramática… e um arrepio percorre a multidão. Quatro meses e meio de trabalho condensados em três segundos de tensão. A bola vai entrar. A bola vai entrando. A bola entra desgraçadamente no canto direito. Uma chaga se abre no coração atleticano. O pior acontece. Vamos pagar pela covardia. No lugar do cântico, o silêncio. No lugar da dança, a tristeza. Esta noite não vamos bailar. A magia não era real. Fomos ludibriados pelo otimismo. Mais uma vez abatidos em nosso solo. Então nos perguntamos por que os deuses deram os costas pra nós? Estava tudo a nosso favor, como pode ter dado tudo tão errado? Resposta: Deixamos de ser destemidos. Nosso medo da derrota nos derrotou.

Agora, iniciamos uma nova campanha, e o torcedor se enche se esperança, orgulho e espectativa, mas sabe que não pode se iludir, pois eis que não somos destemidos. Isso por que o General que temos, não é o General de que precisamos. O Atlético tem como sua característica elementar, a audácia dos mais ferozes. Um time rápido, que ataca seu adversário implacavelmente, não dando espaço para ele respirar. Um misto de velocidade, técnica, disciplina tática e RAÇA, MUITA RAÇA! Já fomos excessivamente temidos em nossos domínios, conhecidos por acuar nossos inimigos e sufocá-los sem piedade, mas hoje… , deixamos de ser o que somos, justamente quando mais o precisamos ser. Foi assim nas derrotas desnecessárias pelo nacional do ano passado. Foi assim também na derrota para o Pachuca. Para o Paraná. E principalmente, foi assim contra o Fluminense. Se o nosso General tivesse entrado no campo de batalha com o objetivo de trucidar, aniquilar, despedaçar o inimigo, em vez da tímida postura em defesa do torpe resultado de empate sem gols, as coisas teriam sido diferentes. Os deuses certamente não teriam nos abandonado.

Eu não tenho nada de pessoal contra o Sr. Oswaldo Alrarez. A questão é que ele não se encaixa no estilo atleticano de jogar. No estilo atleticano de vencer. No estilo atleticano de triunfar. Foi o ritmo alucinante com ataque feroz que nos deram nossas maiores conquistas, como o nacional de 2001. E foi justamente uma atitude temerosa que nos roubou lastimavelmente a conquista de 2004, quando o General Levir Culpi, em vez de por os guerreiros pra estraçalhar o frágil e rendido adversário (o já rebaixado Grêmio que perdia por 3 x 0), fez mudanças para “poupar” a equipe do desgaste, fazendo com que a sorte nos abandonasse no triste episódio de Erechim (Três gols nos últimos dez minutos, placar final de 3 x 3 que nos custou 2pts e o título nacional).

Hoje, quem por ventura teria um exército (time) melhor que o Atlético? Respondo com traqüilidade: Ninguém! Mas e quem por ventura tem um general (treinador) mais qualificado que o nosso? Menos conservador, temeroso e covarde? Deixo a resposta para cada um. O certo é que, por enquanto estamos bem, mas ainda faltam 36 batalhas, e quando chegar novamente a hora de sermos destemidos, para que a fortuna nos acompanhe voluntariamente… receio grandemente o destino do nosso furacão, pois o Sr. Oswaldo Alvarez não sabe nos fazer audaciosos. E como poderia se ele é excessivamente conservador, excessivamente temeroso e excessivamente covarde? Com ele permaneceremos medíocres, pálidos e tímidos. E não é desta forma que estamos acostumados a vencer. Despreocupados, zombadores e brutais, é desta forma que nos quer a sorte, pois ela é mulher e só gosta dos guerreiros.

Um ar todo favorável ronda o Santuário Incandescente. Os deuses tem simpatia por nós. Querem colorir o Olimpo de rubro-negro. Novamente a conquista parace tão próxima, tão nítida, tão real. A fortuna novamente estende a mão. Será novamente um sonho, ou apenas mais um pesadelo?

“A sorte acompanha os destemidos” disse o poeta Vigílio em sua epopéia clássica Eneida. Acredito que nós atleticanos sabemos disso… melhores que ninguém!

*ps: Neste texto utilizo as palavras “sorte e “fortuna” como sinônimos.



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