Considerações sobre o Petraglia, o CA Paranaense e seu consumo
Um dia desses estava no MSN e meu irmão me mandou uma mensagem perguntando se eu já tinha lido a Coluna “Fora Petraglia”, do Juliano Ribas. A primeira idéia que eu tive, baseada no título, foi que o texto criticasse o Petraglia. Por isso, estranhei meu irmão ter gostado tanto da coluna, já que ele é um “petraglista” convicto.
A explicação veio quando eu li o texto. Na verdade a coluna enaltece várias qualidades do Mario Celso Petraglia, qualidades todas que eu reconheço, como o fato de ele ser “apenas” o maior dirigente do Atlético de todos os tempos.
Realmente devemos muito ao Petraglia, mas por melhor e mais perfeito que ele seja, é necessário alternância de poder.
Mas o Petraglia tem esse apelido de Imperador não é à toa. Imperador tem poder absoluto e mandato vitalício. Portanto se nós temos um Imperador, ele não vai deixar de mandar no Atlético tão cedo.
Porém, um bom Imperador não torna seu Império tão dependente dele a ponto tal que quando ele morra o Império acabe. Um bom Imperador desenvolve seu Império e dá a ele base suficiente para andar com as próprias pernas e resistir a eventuais más administrações futuras.
No caso do Atlético essa base que resiste a más administrações é a torcida. A mesma torcida que hoje é desprezada pela diretoria foi quem apoiou o clube nos tempos mais difíceis e a mesma que tornou o Atlético um time grande.
Essa torcida hoje é desrespeitada de todas as maneiras possíveis. Para começar, não temos mais a honra de sermos chamados de torcedores. Somos consumidores. Então, vamos encarar a coisa como consumidores: consumimos um produto muito caro. 40 reais? Imagina quanta coisa melhor se pode fazer com esse dinheiro; consumimos um produto muito ruim. Pagamos para ver o Atlético e às vezes vemos o time B jogando, como no Campeonato Paranaense. Vemos um time desfalcado, com os melhores jogadores saindo. E vemos também jogadores sem qualidade nem vontade; não temos outras opções de consumo. Ao contrário dos consumidores comuns, nós não escolhemos o produto. Quem é atleticano mesmo que quisesse não ia conseguir consumir Paraná, Corinthians, Barcelona. Nós somos mais parecidos com consumidores de cigarro, somos obrigados a consumir, mesmo sabendo que esse consumo nos faz mal, e se gostamos de uma marca, não podemos mudar para outra; sofremos pressão psicológica pra consumir – qualquer produto pode ter uma propaganda que nos pressione a consumi-lo. Mas, segundo a diretoria, é obrigação nossa consumir o produto Atlético, senão não somos bons atleticanos. Devemos nos sentir culpados quando não pagamos 20, 40 reais para ver o time ser goleado em casa, pois não estamos contribuindo com o clube…
Agora o pior: O produto não é mais o mesmo.Para começar o nome: não é mais Atlético, é CA Paranaense. Eu me recuso a consumir CA Paranaense. Desconheço esse produto. Sempre fui atleticano e nunca CA Paranaenseano.
Por que isso? É porque existem outros Atléticos? Também existem outros times vermelho-e-pretos? Será que daqui a pouco a diretoria não vai querer mudar a cor do CA Paranaense? Eu realmente não duvido de mais nada. Quem sabe daqui a pouco a diretoria chegue à conclusão que o clube não vai crescer se continuar paranaense, e assim como o time de vôlei Rexona/Paraná que se mudou pro Rio, o CA Paranaense vai virar CACArioca.
Isso se chama desrespeito ao torcedor, ou melhor, consumidor. Isso faz com que nos sintamos afastados do Atlético. Isso faz com que, apesar de o time estar melhor do que há doze anos atrás, sintamos muitas saudades daquela época. Época em que éramos torcedores e não meros consumidores.
Não vai adiantar nada o Atlético ser campeão do mundo, se ele deixar de ser Atlético. Não vai adiantar nada o CA Paranaense investir tanto em marketing para atrair consumidores se os consumidores querem consumir Atlético, e não CA Paranaense.
Não é justo conosco que o Imperador e mais alguns poucos descaracterizem completamente o time que é inspiração de vida para milhões: uma verdadeira nação. Esta nação, aliás, que é uma monarquia absolutista.
É por tudo isso que escrevi, que uma grande parte desta nação deseja hoje que o Imperador abdique e logo, antes que a torcida – base de sustentação do Império – cansada de tanto desrespeito, torne-se cada vez menor e desapareça. E nesse caso, aí sim, o Império vai acabar junto com a morte do Imperador.