Num futuro não muito distante…
Curitiba, 04 de agosto de 2020
-Pai, o que está fazendo?
-Ouvindo jogo, meu filho…
-Quem tá jogando?
-Paranaense e Coritiba…
-E pra quem o senhor tá torcendo?
-Pra ninguém… Estou só ouvindo mesmo…
-Mas você não torce pra nenhum time, pai?
-Eu torcia… Hoje não mais…
-E pra quem você torcia?
-Eu torcia pro Atlético… Era um grande time, meu filho. Era um time que tinha um estádio bem bonito, que era chamado de caldeirão… Ele quase sempre estava lotado de torcedores, e seu pai sempre ia nos jogos… Aliás, quando o Atlético jogava no seu estádio, era quase certeza de vitória! A torcida empurrava o time e os jogadores, por mais que não fossem muito bons, davam o seu máximo pra corresponder ao apoio de todos aqueles que estavam ali, gritando, incentivando, pulando, sem ligar pra tempo ruim ou qualquer outra coisa que pudesse atrapalhar.
Aliás, falando em jogadores, o Atlético formou grandes craques, filho! Craques que jogavam por amor à camisa do Atlético, quando o time ainda era pequeno e sem nenhum patrimônio…Craques que fizeram o Atlético ter a maior torcida de Curitiba!
O Atlético tinha uma magia que eu não consigo explicar, filho… Ele causava um amor tão grande que era capaz de me fazer vestir a camisa mesmo depois das derrotas mais vergonhosas! Vestir o nosso “manto sagrado” era motivo de orgulho, em qualquer momento que fosse. Pelo Atlético, qualquer torcedor deixaria de fazer coisas importantes pra ficar ao lado do radinho ouvindo o jogo, por mais que fosse contra times insignificantes… Pelo Atlético a torcida era capaz de tudo… O Atlético era mais que um time: era um amor de verdade pra todos que torciam por ele.
-…Pai, você tá chorando?
-É que eu sinto saudades disso, filhinho…
-Mas então por que não volta a torcer pro Atlético?
-O Atlético não existe mais… Ele virou esse Paranaense.
-E não é a mesma coisa?
-Não, filho… Não é. O Paranaense não é um time feito pra ter torcedores… Seus torcedores são uma falácia…
-O que é falácia, pai?
-Esquece, filho…
-Ah tá… Gol do Paranaense, pai! Não vai comemorar?
-Não filho… Aliás, vou desligar o rádio… Vamos jogar bola, vamos?