O feriado de um quase ancião
Na busca de dois ingressos adicionais, pulei cedo da cama e antes das 7h00 já encontrei a fila dando volta na quadra!
Onze horas depois, exatamente às 18h00, sentei-me no Prajá, com os ingressos no bolso, um pouco cansado, sedento, faminto, e ainda sem entender o motivo da maldita portinhola e da total falta de assistência e orientação por parte da Segurança do Furacão, pedi a primeira gelada do dia, acompanhada de sanduíche de pernil.
Enquanto mitigava a sede e a fome com a avidez de quem atravessou o Saara a pé, repassei todos os momentos vividos junto àquela massa rubro negra, formada em sua esmagadora maioria por gente jovem, bonita, feliz, ordeira e antes de tudo Atleticana!
Não se ouviu em nenhum momento expressões de desalento ou de precavida desconfiança, coisas tão comuns a qualquer torcida após seu time levar de dois a zero no primeiro jogo, e jogar aquém de suas reais possibilidades e do seu histórico!
Muito pelo contrário: todos confiantes numa reviravolta histórica independente da escalação do time, se com os enigmáticos Michel, Pedro Oldoni ou sei lá com quem!
A única certeza que imperou naquele mar rubronegro foi a de uma vitória suficiente para mandar o timinho de segunda classe que hora ousa nos desafiar, lá para as profundas de onde não deveria ter saído!
Minhas ponderações levaram-me também até o início dos anos sessenta, época da minha iniciação atleticana, e conclui que exceto minha idade, o novo estádio e o aumento nominal da torcida, nada mais mudou nestes anos todos!
A paixão, a garra e o destemor são os mesmos!
Aquilo que nos levava em dias de jogo a chegar às 10h00 da manhã para orgulhosamente ajudar a marcar o campo com uma corda e um carrinho de cal, é a mesma coisa que instiga essa massa a ficar um feriado inteiro numa fila, comprando ingressos para terceiros, cantando hinos e gritos de guerra, confiantes e orgulhosos ao exibirem seus uniformes e seus smart-cards como troféus para a batalha que se avizinha!
Ao sair, cheguei à conclusão do quanto foi acertada minha decisão na adolescência, ao decidir amar esse clube acima de tudo, e repassar essa paixão aos meus quatro filhos, e agora, no limiar da velhice, recomeçar este prazeiroso proselitismo junto aos dois netinhos que, por razões profissionais de seus pais, vivem junto à fronteira do Uruguai, livrando-os do infortúnio de amanhã ou depois, virem a torcer por um daqueles horrorosos times gaúchos!
Cheguei em casa refeito, feliz e absolutamente convicto de que domingo daremos a volta olímpica! Quem viver verá!