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23 maio 2008 - 11h44

Mal de amor

A torcida do Atlético sofre do mal de amor não correspondido. Sente uma verdadeira adoração, mas seu objeto de paixão não corresponde de jeito nenhum. E, como em toda obsessão, seu portador se torna incapaz de raciocinar de maneira coerente.

Tenho vários conhecidos que estão em um ou outro estágio deste mal. Todos apresentam as mesmas “características”, como sintomas de uma doença: idolatram o Grande Timoneiro, do qual eles somente tecem elogios (“o maior dos maiores” é um exemplo); confiam e acreditam na política de negociações do clube; acham que, quando o time engrenar, ninguém segura o Atlético (nem mesmo o Manchester) e são todos sócios. Imagino se também acreditam em coelho da Páscoa e outras fábulas…

Gosto de perturbá-los, então pergunto qual foi o motivo que os levaram a se associar. Invariavelmente recebo como resposta um “para ajudar o clube”. A resposta leva a uma outra pergunta: ajudar o clube a ser ou fazer o que? A ser essa maravilha que está aí? Ajudar o clube a negociar melhor e mais rápido qualquer um que, por ventura, comece a se destacar? Ajudar o clube a não ganhar absolutamente nada nos últimos anos, nem mesmo a ter uma participação decente no brasileiro, uma participação que nos poupe de sufoco e sofrimentos no segundo semestre, quando, invariavelmente, passamos a rezar para chegarmos logo aos 40 e tantos pontos para nos livrarmos da segundona? Aí discurso deles muda.

Uma vez, um desses meus colegas contou seu verdadeiro motivo, o que foi que realmente o levou a se associar: ele costuma ir aos jogos com uma turma, para conversar, beber uma cervejinha, enfim, se divertir. O que importa para ele é sua cota semanal de divertimento, o ato de “relaxar” na Arena. O fato de, ao se associar, estar aceitando tudo isso que está aí, não parece sequer perturbá-lo. É claro que se diz atleticano desde o nascimento e até a morte. Como eu já escrevi, ele é um dos adoradores do Grande Timoneiro, aquele que nunca erra, no máximo se equivoca. Para esse meu colega, se alguém traz de Dubai um dromedário ou um saco de areia o efeito é o mesmo: uma maravilha de marketing.

Gritam-se aos sete ventos, com urras e vivas, que já são mais de dez mil sócios. Eu fico imaginando quantos pensam da mesma maneira que esse meu colega. Tem um sujeito do fórum que conseguiu resumir bem o que acontece no Atlético nos últimos tempos. Sua assinatura diz algo assim: “1998-2002: 1 seletiva, 1 nacional e 4 estaduais; 2003-2007: 1 estadual”. Esse último período não é o mesmo do reinado absolutista instaurado no Atlético?

Imagino eu que um dos grandes motivadores que levam atleticanos a se associar, ignorando qualquer finalidade egoísta, seja a promessa de que, quando se atingir a milagrosa e emblemática marca dos vinte mil associados, aí sim, o Atlético terá condições financeiras para atuar como um grande plantel. Digo eu, sem meias palavras: não acredito!

Quando a cota pretendida de associados for alcançada, deverá ser instaurada uma nova campanha oficial para os torcedores atleticanos: Atlético, ame-o ou deixe-o. Uma coisa como “ou estão comigo ou contra o Atlético”.

Para encerrar, penso que quem foi responsável pela derrota na final do campeonato paranaense e pela desclassificação humilhante da Copa do Brasil não foi o Ney Franco, mas sim aquele que negociou o Ferreira, deixou o Claiton sair e levou um chapéu de mais um jogador, o Jancarlos. Enfim, o responsável foi o sujeito que desmontou o time, negociando tudo (como sempre, aliás).



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