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9 jul 2008 - 21h39

Limpeza étnica

Muitas vezes durante o miserável curso de nossas vidas, em uma de suas esquinas, nós esbarramos no obvio e não o percebemos. Às vezes ele chama a nossa atenção, assovia, faz micagens, telefona e mesmo assim nós não percebemos. Procuramos explicações outras, complicadas, metafísicas, paranóicas e exageradas quando naturalmente poderíamos perceber o óbvio. Esta resistência em simplificar, este medo de parecer o conselheiro Acácio é que faz com que às vezes mesmo farejando a obviedade dos fatos, preferimos ignora-la. Há muito já se sabe que a incapacidade em compreender o óbvio é o grande problema do brasileiro.
Digo tudo isto para chegar ao Atlético e sua inesperada lista de dispensa. Ora como é que ninguém percebeu que o que aconteceu é a criação de um gueto, um apartheid, um “progrom”? Ou os amigos não perceberam o liame, o traço que une todos os dispensados e os tornava um grupo a parte dentro do elenco?
Sim meus amigos, a ação da diretoria do Atlético não teve outro objetivo que não expurgar todos os mineiros do Umbará. Foi uma ação dirigida, calculada, gradual e sorrateira. Todos os jogadores que são mineiros, ou tiveram momentos marcantes em minas, ou foram indicados pelo mineiro Franco (caso do Piauí) estão fora. Michel, Fahel, Léo Medeiros, Irênio e Zé Antonio são mineiros até a medula óssea. Marcelo Ramos é baiano de nascimento, mas seu futebol só nasceu (e morreu há muito tempo) em Minas. Se pode dizer que é o mais mineiro dos baianos. O amigo há de perguntar: _ Ta bom mais e o Roberto? O que você me diz do Roberto?
Um caso singular. Devo reconhecer. Imagino duas possibilidades. Ou o caso entra na conta das exceções que confirmam a regra. Ou a dispensa deve-se a um “mineirismo” velado, um comportamento demasiado mineiro do atleta. Que convenhamos sempre que foi chamado foi de uma discrição uberlandense. Foram alguns anos de promessa e nem uma falta para se lembrar, nem um cartão vermelho, uma grande falha. Que dirá então, uma grande jogada, ou um chute a gol. Nada. Discreto como um mineiro de anedota.

Não estou, longe de mim e valha-me Nossa senhora – sou um libertário, cosmopolita, cidadão do mundo, abolicionista – defendendo a pratica da segregação racial. Estou apenas constatando um fato que de tão óbvio passou batido. Não consigo compreender as razões da direção do Trétis. Mesmo porque o nosso mais importante jogador é mineiro até no nome. Por outro lado o genial escritor mineiro Otto Lara Resende dizia que “a grande contribuição de Minas Gerais para a cultura universal é a tocaia. A tocaia é uma homenagem a vitima. Ela morre sem aviso prévio, delicadamente e, se possível, desconhecendo o autor da cilada” Vai ver é por isso. A direção do Atlético ficou com um pé atrás, assustada com a fama dos mineiros de escorregarem para cima. Minas não há mais no Caju e na Baixada. Minas agora é apenas um retrato na parede. E já que falamos do óbvio e do Otto não custa repetir sua frase fatal: “O mineiro só é solidário no câncer”.



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