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14 jul 2008 - 11h11

Ame-o ou deixe-o

Já há algum tempo que pensei em escrever um texto com este título, dada a atual situação do CAP. Este é um slogan emblemático da ditadura militar do Brasil, época do exílio de intelectuais, artistas e políticos, alguns dos quais apenas não rezavam a cartilha da TFP (sigla do movimento Tradição, Família e Propriedade), não necessitando ser obrigatoriamente comunistas ou de esquerda. A história é bem conhecida, não sendo preciso falar mais que isso como intrudução. O sentimento de aparente pertencimento inspirado pela frase nada mais era que uma ordem de exclusão dirigida aos que não eram ‘vaca-de-presépio’ dos homens de verde-oliva. Por mais que o sujeito amasse o Brasil, quisesse a sua melhoria, nele tivesse seus filhos e seus projetos de vida, não lhe era permitido participar das decisões que afetavam essas coisas, nem de se pronunciar criticamente sobre elas. Qualquer semelhança com o Atlético não é mera coincidência. Segundo alguns torcedores, não é permitido apontar erros, criticar; permite-se apenas bater palmas. A pena do desrespeito a essas regras são, no mínimo, a ira e os impropérios dos que amam cegamente. Creio que já está na hora de superarmos essa mentalidade de ‘ame-o ou deixe-o’, essa coisa de excluir o diferente, de pensar que ‘A’ é ‘A’, ‘B’ é ‘B’, que ambos são mutuamente exclusivos e que nem existe um ‘C’. Disso decorre o pensamento de que, se não é meu amigo, é meu inimigo, de que, se não está do meu lado, está contra mim. Não precisamos mais de competição, mas de competência. A primeira implica que, para um vencer, os outros têm que perder; dela vem o pensamento de que o segundo colocado é o primeiro perdedor. Já a segunda inclui, pois é óbvio que podem haver vários competentes. A primeira exige a eliminação do adversário; a segunda permite a sua preservação. A primitividade da competitividade reside em pensar que possa haver um primeiro sem um segundo, que pudéssemos existir uns sem os outros, enfim (Mariotti). Dessa mentalidade arcaica provém o injustificável ódio que alguns atleticanos destilam contra outros times e seus torcedores, dirigentes, treinadores etc.. Não estou esquecendo que também contamina muitas outras áreas da sociedade, como a política e a religião. Não creio que torcer e amar o Atlético signifique torcer contra e odiar todos os demais times da Terra. É só imaginar a ingênua fantasia de ter um Campeonato Brasileiro, uma Libertadores ou um Mundial Interclubes com somente o nosso Clube Atlético Paranaense. Não acredito que não ser partidário da atual diretoria implique ser contra o Atlético. Não concordo que a única maneira de amar o CAP seja aderindo ao Sócio-Torcedor, nem que discordar das decisões da direção obrigue a não se associar ou ficar torcendo pra tudo dar errado. Essas são idéias muito simplistas, que não correspondem à complexa realidade que é ser um sujeito que gosta de futebol. Por isso, também não creio ser construtiva a mentalidade que leva alguns a ficar alimentando o ódio e a intolerância baseados em fatos passados. Ao contrário do que pensam, o passado também pode ser mudado, da mesma forma que a História, que vem sendo continuamente reescrita ao longo dos tempos. Logo, é uma ilusão pensar que se está construindo um raciocínio sobre algo sólido, imutável, pois todo fato pode ser reinterpretado, conforme, até, as conveniências. Estou rejeitando aquele argumento de ‘sempre foi assim, e não vai mudar’. O excelente colunista Rafael Lemos disse quase a mesma coisa com muito mais sutileza e literatura. Claro que estou me referindo ao Fluminense. As declarações do Renato Gaúcho também repercutiram negativamente na imprensa do eixo, ponto. Não é (era) preciso dizer mais nada. Só contratem melhores jogadores.



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