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14 out 2008 - 0h30

Comemora, Washington!

O Dr. Ivo Pitanguy certa vez contou que, durante um plantão que dava no pronto-socorro, gastou uma madrugada quase inteira operando a mão de um batedor de carteiras, que ele ferira severamente na sua atividade ilícita. Os colegas médicos de vez em quando apareciam na sala e o criticavam por ele gastar seu tempo e talento para ajudar aquele ladrão vagabundo. E cada vez ele respondia que, como médico e profissional, tinha a obrigação de curar o paciente, e não julgar seu comportamento. Ao final da operação, o punguista saindo com a mão curada e enfaixada, o doutor Pitanguy lhe disse:

– Agora vê lá, hein? Depois do que eu fiz por você, não vai me bater a carteira!

Ao que o outro respondeu:

– Doutor, eu, como o senhor, sou um profissional. Quando eu for bater sua carteira, não vou olhar na sua cara. Vou bater a sua carteira e pronto.

Todos sabemos as alegrias que Washington nos trouxe. Foi o maior artilheiro do Atlético em campeonatos brasileiros, fez o que pôde e quase nos deu o bicampeonato em 2004, e tudo o mais. E também sabemos, como ele sabe, o quanto o Furacão fez por Washington. O Atlético investiu nele seus melhores recursos e, por assim dizer, o recuperou para o futebol. Por tudo isso, Washington se mostra grato até hoje, o que dá mostras de seu elevado caráter.

Agora, quando veio jogar na Arena, Washington, cavalheiro cheio de gratidão, mostrou seu respeito e quase arrumou problemas com seu clube e com a imprensa lá da região deles, declarando que não comemoraria se fizesse um gol contra seu ex-time, que o tratara tão bem. O fato, triste para nós, é que desta vez o craque não vestia a camisa rubro-negra. E, mais triste ainda, fez o que sabe fazer – três gols. E, fiel à promessa, não comemorou. Ele continua o mesmo craque. Mas não é culpa dele que não esteja no Atlético. Quem paga seu salário são eles, que acabaram de sair, às nossas custas, da zona do rebaixamento. Washington soube bater nossa carteira como um autêntico profissional, competente como poucos. Mas não é culpa dele que nós continuamos à beira do abismo.

Então, por que deixar de comemorar? Se nós devolvemos Washington para o futebol, e depois o entregamos de bandeja na mão do inimigo, eu, atleticano roxo há trinta anos, tenho vontade de comemorar por ele! Comemore seu sucesso, Washington! Ele é só seu! Não precisa se preocupar por trabalhar com tanta competência e, apesar de ter sentimentos tão atleticanos, ter de vestir outra camisa. Tudo isso porque nós não tivemos o profissionalismo de, como clube de futebol, lhe oferecer a camisa rubro-negra que você merece.



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