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20 out 2008 - 5h38

Por uma nova revelação!

Nos quatro primeiros jogos do Atlético no Campeonato Brasileiro deste ano a equipe somou apenas 5 pontos. Olhando hoje para a tabela e para a atual ameaça de rebaixamento, aquela situação inicial não parece assim tão dramática. Estes resultados, por si só, não explicam a mudança de comando técnico e a preocupação da torcida. Mas perder o título Paranaense depois do desmonte do time fez com que o Brasileirão começasse como se estivéssemos correndo atrás do prejuízo.

Diante da primeira goleada (5 x 0 no Goiás), tive uma visão nítida de que o time embalaria. Mas não aconteceu. Perdemos os dois jogos seguintes e tive que esperar até a 13ª rodada, diante do Vasco, para escutar, novamente, aquela voz que me dizia: “agora vai!”. Galatto foi o herói daquela partida, o profeta que anunciaria dias melhores ou o próprio messias. Mas como reza a tradição, o messias só vem quando a lei está consumada e, de fato, não se precisa mais dele. A salvação não chega a não ser no fim dos tempos, ou no fim do campeonato, que tem sempre um novo começo. Enquanto isto, todos são heróis ou profetas, vilões ou demônios, que farão cumprir ou descumprir as promessas. Geninho é sem dúvida a nossa última esperança, mas além de todo o respeito que ele possui por parte do clube e de sua torcida, todos sabem que ele não pode mudar o mundo sozinho e ninguém vai crucificá-lo. Creio que tanto ele quanto o próprio Galatto são ainda, para a torcida, uma espécie de herói. Mas em que pesem sua fundamental importância, falta ainda ao Atlético (entre outras coisas) a figura do matador. Durante o campeonato todos nós acreditamos que ele estava por vir. Uma dúzia de atacantes entrou em campo com a camisa rubro-negra e… nada. Pouco a pouco vamos deixando de acreditar em uma nova benção.

No último sábado tivemos um almoço animado aqui em casa, cujo tema principal foi a Revelação. Minha mãe contou a estória de uma mulher muito pobre que, durante uma oração, recebeu a mensagem de que uma benção estaria a caminho. Tudo o que ela deveria fazer era entrar com a sua família em um determinado supermercado e encher o carrinho com tudo o que fosse necessário. Nada de exagero, somente o necessário. Com o carrinho cheio, a mulher se encaminharia para o caixa de número 7 e puf!, as compras seriam suas. Sem dinheiro, sem desculpas. Foi o que ela fez, meio a contragosto do marido que esperava do lado de fora e cercada pela triste desconfiança das crianças. A mulher e suas compras ficaram paradas no caixa, esperando a decisão do gerente diante da Verdade Revelada. Uma cena comovente mesmo. Mas com um final feliz porque, segundo a minha mãe, o dono do supermercado resolveu fazer uma promoção especial naquele dia e liberar as comprar do cliente que estivesse, naquele momento, passando pelo caixa… 7!

Bem, desconsiderando o fato de que minha irmã mais nova disse ter ouvido uma outra versão da mesma estória, emendei outra, sobre a Revelação que teve a mãe de um amigo meu. Sua mensagem apareceu em sonho e dizia que, naquele dia, ela ganharia um carro! Acordou o marido logo cedo e contou a ele exatamente o nome do carro, a cor, o modelo e inclusive a concessionária que lhes daria a graça. Tenho certeza que a estória fica muito mais interessante com a voz e a expressão deste meu amigo, que é muito mais engraçado do que eu. Mas o resumo da ópera é que, depois de perguntar absolutamente tudo a respeito do carro, a mulher parou em frente ao vendedor, estática, com cara de quem está tendo uma visão, esperando o momento em que as portas do céu se abrem como naquele programa do Silvio Santos. O vendedor provavelmente não teve o mesmo sonho e a mãe do meu amigo voltou pra casa de carona no carro do marido, que estava puto da cara.

Não é mole discernir se a voz que você escuta é de um anjo ou de um demônio, real ou imaginária, digna de confiança ou pura charlatanice. Tanto faz se a voz é de outra pessoa ou se a mensagem é transmitida direto para sua consciência. Jean Paul Sartre, em um texto chamado ‘O existencialismo é um humanismo’, coloca exatamente o mesmo problema ao evocar a evangélica imagem do anjo que ordena a Abraão que sacrifique seu filho. Como ele poderia saber que era um anjo? Como poderia ter certeza de que o anjo falava mesmo com ele e de que ele havia compreendido bem a mensagem? Sou sempre eu mesmo, diz Sartre, que decido se devo ou não devo agir.

Comigo costumam ocorrem algumas revelações mais ou menos sérias, mas igualmente problemáticas. Arrumar outro emprego? Pegar o guarda-chuva? Comprar aquele livro? As mesmas inquietações devem passar pela cabeça do dirigente de clube que, em meio a todas as contas e considerações possíveis, tem sempre no final uma voz que diz fazer ou não fazer. Contratar? Mandar embora? Quanto aos próprios jogadores, o espaço entre a Revelação e a Ação é menor ainda e muitas vezes mais decisiva. Chutar naquele exato momento ou tentar mais um passe? Tocar para o companheiro ou dar mais um drible? A indecisão ou a decisão precipitada parecem ferrar nosso time. Afinal, por que diabos o Rafael Moura botou a mão na bola?! Você tem aquela inclinação, mas é sua a decisão e a responsabilidade. Afinal, hoje em dia, você não vai poder culpar o anjo ou o demônio que te deu a dica. Não vai colar.



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