22 dez 2008 - 13h22

As lições que 2008 nos deixa

Passados 69 jogos divididos em quatro campeonatos – Paranaense, Copa do Brasil, Sul-Americana e Brasileiro – mais um capítulo da história atleticana se encerra. Porém, muito mais do que o enredo de 31 vitórias, 16 empates e 24 derrotas, o ano de 2008 ficou marcado para os atleticanos por outros fatores. Trocas de treinadores, lançamento do plano Sócio Furacão, saída de jogadores, quebra de recorde histórico no futebol paranaense e uma campanha sofrida no Campeonato Brasileiro fizeram de 2008 um ano atípico, com fatos memoráveis e momentos de profunda tristeza.

Foram doze meses de erros e acertos, possivelmente mais fracassos do que sucessos. Mas a principal lição que o ano deixou é a de que a próxima temporada atleticana deve ser de investimentos no futebol e a permanência da harmonia com os torcedores que carregaram o Rubro-Negro na reta final do Campeonato Brasileiro e lotaram a Arena da Baixada durante todo o ano. A união e a integração de todos os atleticanos em torno de um objetivo comum é possível e essa fórmula transforma o Atlético Paranaense num clube muito mais fortalecido.

Justamente por isso, não é aconselhável simplesmente passar uma borracha nos momentos negativos e tentar esquecer os erros cometidos durante o ano. É preciso ter clareza para identificar o que andou bem e o que precisa ser corrigido no próximo ano.

Para relembrar os bons e maus momentos desta temporada, colunistas e colaboradores da Furacao.com elencaram os maiores acertos e erros do Atlético em 2008. Na primeira parte da reportagem, vamos relembrar os principais equívocos. Para facilitar a retrospectiva, os itens são apresentados em ordem cronológica e não em ordem de importância.

Nos próximos dias, publicaremos a segunda parte da retrospectiva 2008, desta vez destacando os pontos positivos que marcaram a temporada.

Os 10 maiores erros de 2008

1- Desmanche da base de jogadores:
O anúncio do empréstimo do meia Ferreira ao Al-Shabab, dos Emirados Árabes Unidos, e a transferência de Claiton para o Consadole Sapporo, do Japão, logo nos primeiros meses do ano causaram surpresa e insatisfação entre os torcedores atleticanos. Um dos principais destaques da equipe até aquele momento, o colombiano defendeu o clube emirático por quatro meses e desfalcou o Furacão em momentos decisivos. Já o volante Claiton, símbolo da raça atleticana, assinou por duas temporadas com o clube japonês após uma negociação em que a diretoria Rubro-Negra classificou como "impossível" a sua permanência no elenco devido aos altos valores envolvidos. Ambos tiveram seus nomes gritados por diversas vezes pela torcida atleticana, que viu a equipe se desestruturar, cair de produção, perder a final do Campeonato Paranaense e ser eliminada da Copa do Brasil.

Ídolo da torcida, Claiton foi negociado em fevereiro[foto: arquivo]

2- Falta de planejamento no futebol nas contratações:
Com as cobranças da torcida e imprensa, queda de rendimento no estadual e eliminação precoce na Copa do Brasil, a diretoria resolveu ir atrás de reforços. As contratações de Zé Antônio, Léo Medeiros e Fahel, todos volantes, dão a mostra da ausência de critérios, pois o elenco já contava com outros oito volantes no elenco principal na época. Já na metade do ano, com o time em queda livre no campeonato nacional, a diretoria tentou apostar em jogadores rodados, porém em estado deplorável na parte física, como Kelly, Joãozinho e Fernando, que passaram mais tempo no departamento médico do que à disposição dos treinadores.

3- Proposta para a venda das transmissões para emissoras de rádio:
Em abril, o Atlético iniciou uma batalha com as emissoras de rádio do Paraná e do país, com o anúncio de que o clube pretendia cobrar das emissoras radiofônicas o direito de transmissão das partidas do Furacão. Apesar de a idéia em si ser interessante e do apoio de alguns jornalistas, torcedores e inclusive a Associação das Emissoras de Rádio de São Paulo, a iniciativa se mostrou desgastante para o clube, que enfrentou sozinho a batalha (já que outros clubes se mostraram contrários a tal cobrança). Uma decisão judicial obtida pelas emissoras de rádio impediu a cobrança no Campeonato Brasileiro deste ano, mas o Atlético pretende retomar a questão para a próxima temporada – espera-se que desta vez com o suporte de outros clubes.

Na final do Paranaense, a torcida deu show, mas o time não correspondeu [foto: Geórgia Andrade]

4- Fracasso dentro de casa na final do Estadual:
O dia 4 de maio de 2008 foi um dia de tristeza para a nação atleticana. Uma grande festa nas arquibancadas da Arena da Baixada foi protagonizada pelos torcedores, que viram o Atlético vencer o Coritiba por 2 a 1, mas deixar escapar o título paranaense dentro de casa. Após conseguir abrir 2 a 0 no placar, com gols de Netinho e Marcelo Ramos, uma falha conjunta do goleiro Vinicius e o zagueiro Danilo resultou num gol do Coritiba e minou as forças do Rubro-Negro, que até então fazia boa partida.

5- Demissão de Ney Franco:
O técnico Ney Franco foi demitido pelo Atlético no mês de maio, após a segunda rodada do Campeonato Brasileiro. Pesaram contra o ex-técnico os tropeços no Campeonato Paranaense e na Copa do Brasil, além da indicação equivocada de reforços. Quando foi anunciada sua demissão, Ney Franco disse que estava com o sentimento de "dever cumprido", mas admitiu que não esperava ser demitido. "É uma decisão que eu não esperava, achava que o time poderia ir se encaixando e crescer", declarou na ocasião. Em seu primeiro encontro com a torcida atleticana na Arena da Baixada, na partida contra o Botafogo, o técnico foi aplaudido pelos torcedores e cumprimentou uma fila de funcionários atleticanos. Em 48 jogos oficiais pelo Atlético, Ney Franco obteve 29 vitórias, nove empates e dez derrotas, num aproveitamento de 66% dos pontos disputados. O desempenho claudicante do time até a chegada de Geninho foi prova de que Ney Franco não era o principal culpado pelos tropeços no início da temporada.

6- Contratação de Roberto Fernandes:
No comando atleticano entre maio e agosto, a passagem do técnico Roberto Fernandes pelo Atlético ficou marcada pelo baixo rendimento e o mau relacionamento com o grupo de jogadores. Por diversas vezes, o treinador não economizou na hora de avaliar o elenco atleticano. Após o empate com o Internacional, na Arena, o treinador afirmou que estava "roendo o osso", numa alusão clara à falta de qualidade do elenco atleticano. Já depois da derrota para o Sport, na Ilha do Retiro, Fernandes foi ainda mais duro em suas críticas, acusando claramente alguns atletas de não estarem atuando nas partidas com a determinação necessária. Na entrevista coletiva, ele chegou a afirmar que "faltava testosterona" para alguns atletas. Sob seu comando, o Atlético acumulou quatro empates, oito derrotas e apenas três vitórias. Foram 75 dias no clube, num aproveitamento de 28,88%, o pior do clube nos últimos anos. Roberto Fernandes deixou o comando do Atlético após a 17ª rodada do Brasileirão, a duas para o término do primeiro turno. Depois, o técnico foi criticado publicamente por Mario Celso Petraglia.

Fernandes: passagem desastrada pelo Furacão [foto: arquivo]

7- Manutenção de um elenco com quantidade e sem qualidade:
A política adotada desde a metade da década passada já dava mostras de estar ultrapassada. Apesar dos bons frutos do passado, ter uma quantidade enorme de jogadores vinculados ao clube para conseguir aproveitar um ou dois talentos, principalmente através dos jogadores emprestados para clubes menores, não vinha funcionando nos últimos três anos. Em julho, o Atlético anunciou o afastamento de oito atletas do time principal: o atacante Marcelo Ramos; os volantes Léo Medeiros, Fahel, Roberto e Zé Antônio; o meia Irênio; e os laterais-esquerdas Michel e Piauí, numa tentativa de diminuir o grupo de atletas do elenco principal. No entanto, o modo abrupto como a decisão foi tomada acabou rachando ainda mais o grupo de atletas. Nem todos os dispensados apresentaram índice técnico inadequado. Marcelo Ramos terminou a temporada como artilheiro do time, mesmo tendo jogado apenas no primeiro semestre. Fahel havia jogado muito pouco e depois se destacou pelo Goiás. Zé Antônio acabou sendo reintegrado a pedido de Geninho e foi importante na reta final do campeonato, a ponto de ter seu contrato renovado por mais um ano.

8- Criação do time sub-23:
Como conseqüência da grande quantidade de atletas disponíveis para o time principal, o clube optou em dividir o elenco em dois, com a criação de um time sub-23 para dar mais experiência para os mais jovens. A idéia não surtiu resultados efetivos. A implantação do grupo sub-23, prova do inchaço no elenco, transformou-se também em outra tentativa frustrada do ano, já que o grupo nem sequer chegou a final da Copa Paraná, competição que disputou nesta temporada. Além disso, nenhum atleta utilizado na equipe suplente se destacou a ponto de merecer ser aproveitado no elenco principal. A manutenção de dois times foi criticada pelo então diretor de futebol Marcos Malucelli antes mesmo do final da temporada.

9- Contratação de Edinho Narareth:
Mesmo com o desempenho ruim de 2005, Edinho Nazareth Filho voltou ao Atlético no mês de julho. Inicialmente anunciado como consultor técnico, Edinho assumiu o posto de Alberto Maculan como diretor de futebol do Rubro-Negro e permaneceu no clube até setembro, quando foi anunciado o seu desligamento. Logo após a saída de Edinho, o Atlético anunciou o advogado Marcos Malucelli como responsável pelas contratações e decisões relacionadas ao futebol atleticano. No curto período em que comandou o futebol atleticano, Edinho convidou Zico para conhecer a infra-estrutura atleticana, que ficou bastante surpreso com tudo o que viu, mas negou qualquer possibilidade de dirigir o Furacão. Edinho também esteve presente na chegada do preparador físico Moraci Sant’Anna, um dos mais conceituados preparadores do futebol mundial. Fora isso, sua atuação revelou-se mais um equívoco. Não foi capaz de dar sustentação à comissão técnica e envolveu-se em polêmicas discussões ásperas com jogadores no vestiário.

10- Contratação de Mário Sérgio:
O terceiro técnico da temporada de 2008 do Atlético, Mário Sérgio, foi apresentado no mês de agosto pela diretoria com o objetivo inicial de melhorar a situação da equipe no Campeonato Brasileiro, sempre ocupando as últimas colocações na tabela de classificação. A terceira passagem pelo Atlético durou apenas 24 dias, com o comando de apenas seis jogos, sendo cinco pelo Campeonato Brasileiro e um jogo pela Copa Sul-Americana. Venceu o Ipatinga por 5 a 0, na Baixada e perdeu para São Paulo, Atlético Mineiro, Palmeiras e Goiás. O único empate foi na competição internacional, 0 a 0 no Morumbi, contra o São Paulo, único bom fruto da passagem do ex-treinador rubro-negro e tendo apenas 22,22% de aproveitamento. Depois da goleada por 4 a 0 para o Goiás, que culminou com a sua demissão, o técnico Mário Sérgio assumiu a responsabilidade pelo desempenho do time, mas disse que o grupo sentia a falta de planejamento no futebol demonstrada desde o início da temporada, em especial com a ausência de uma pré-temporada, o que comprometeu a parte física do elenco.

Colaboração: Patricia Bahr, Silvio Rauth Filho, Ricardo Campelo, Juarez Villela Filho e Wellington Carvalho



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