De volta para casa, há dez anos
Em 24 de junho de 1999 toda uma nação voltou para casa. Após um longo período de peregrinações, os atleticanos puderam novamente ver seus heróis desfilando em sua arena. Puderam finalmente saudar sua história ao som de seus cânticos, puderam se encontrar, abraçar e sorrir no templo de sua paixão.
Essa relação singular não se exprime em palavras. Torcida não vive sem estádio, estádio não existe sem torcida. Cada um dos exílios forçados doeu na alma deste povo, cada uma das separações deixou cicatrizes que são exibidas com orgulho por todos aqueles que viveram esses períodos de êxodo. Mas toda a dor destes afastamentos é sempre expurgada pelos gritos e pela alegria da volta ao lar, numa festa que exalta o passado e glorifica o presente.
Não foi diferente naquele já longínquo 24 de junho. A festa que tomava as ruas ao redor da praça, plena de sorrisos e banhada em vermelho e preto, prometia não ter fim. Se o orgulho pelo estádio mais moderno da América era propagado aos quatro ventos, também o era toda sorte de histórias pessoais e de testemunhos de amor. No jogo entre palavras e memória, Sicupira lançava Ziquita que empatava com Jackson e Assis, cabeceava Oséas para a defesa de Caju que via a bola bater no pinheiro do Boluca. Na salada de nomes e de tempos, apenas o atleticanismo era reconhecível.
Lá dentro do estádio a nação retomava aos poucos seu lugar de direito. O reconhecimento do elo que unia cada um ao irmão ao lado fazia aquela noite ganhar ares eternais. Tudo era registrado pelos olhos ávidos dos atleticanos. Lágrimas caíam e consagravam mais uma vez o solo daquela perpétua terra prometida. A cerimônia e o jogo foram apenas o pano de fundo para o real motivo daquela reunião: exaltar as Baixadas, a velha, a nova, a primeira e a eterna.
Um novo exílio rubro-negro se aproxima. O estádio vai ser remodelado para abrigar o evento maior do futebol mundial e mais uma vez esse povo terá de vagar por terras estrangeiras, por vezes hostis. Mas a saudade e as novas cicatrizes que surgirão só poderão engrandecer ainda mais o espírito atleticano, mantendo o ciclo peregrino e alimentando a mística do caldeirão.
Vida longa à Baixada!