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4 jul 2009 - 19h44

De volta ao Lago Azul

-‘This is not Neverland, but really Ypacarai!’ – ‘inglês’ tipo Joel Santana.

Este é o 13º manifesto aqui postado exclusivamente (fora os comentários gerais e fora os que não escreveram) sobre e contra a saída de Julio D. dos Santos Rodriguez do Clube Atlético Paranaense. Acontece que a maioria das pessoas ignora os motivos de sua saída. Eu não. Nem eu nem os doze (Evaristo, Serino, Miguel, Antônio Jorge, José Carlos, Wagner, Valmor, Gilmar, Paulo Roberto, Frederico, Hugo, Jorge…) que escreveram até agora, antes de mim. Vejamos então algo que, pacífico, também se faz muito simples.

Hoje com 26 anos, iniciou sua carreira no Cerro Porteño (PAR), passou pelo Bayern de Munique e Wolfsburg na Alemanha, pelo Almeria espanhol e pelo time Tcheco-tcheco da pampa pobre. Até “cair” no CAP.

Jogador diferenciado, pelo seu trato especial com a bola destoa da grande maioria dos boleiros de sua geração. Bonito era vê-lo jogar. Feio era vê-lo jogar em meio a tantos cabeças de bagre. A partir do momento que saiu do Paraguai, sua ascendente carreira começou paradoxalmente a declinar, em face dos lugares onde foi se meter: futebol alemão, espanhol de 5ª, futebol gaúcho e Atlético era “Total”. Nem é preciso dizer mais sobre o nível dos “companheiros” com quem jogou, basta olhar o nome/doutrina dos clubes.

Um cara que mata a bola no peito. Chuta com as duas. Faz lançamentos de mais de 40 metros e bota Wallyson e Rafael Moura na cara do gol. Pasmem: um verdadeiro e raríssimo DRIBLADOR. Dá de calcanhar, de letra, tem o dom do passe, seja curto ou longo. Sabe dominar a bola, sair da marcação, postura refinada e presença em campo, cadenciar a jogada dando o tempo necessário para ela. Tem visão de jogo. Erra, mas muitíssimo menos que os outros, pois erra por ação, ao contrário daqueles. Inverte jogadas, até bate faltas se deixarem. Mas este foi um dos problemas: não deixaram. Não deixaram ele adequadamente mostrar sua CATEGORIA.

De tão valioso seu estilo de jogo, tão rara sua espécie, tão grande a diferença para os demais, tão legitimamente digno de usar a camisa 10, que foi vítima do sistema. Uma só vítima, mas atacada por variadas frentes.

1ª: ser Paraguaio. O preconceito contra sua nacionalidade o fez tornar-se alvo, bode expiatório, o Judas, a ovelha negra, patinho feio e o escambau dos tapirescos “comentaristas” da tragédia atleticana. Tão fácil era crucificá-lo, que foi rapidamente discriminado: acusado, condenado e julgado pela “crônica” (para mim terminal e supurativa) esportiva, como o mentor do fracasso rubro-negro. A covardia destes ignorantes beiçolas dos microfones babados chegou ao cúmulo de adjetivá-lo como “cavalo paraguaio”. E todos sabemos quem foram os principais responsáveis por isto: algumas “vozes”da Transamérica e outras da Banda B. Tentaram exaustivamente formar uma opinião coletiva negativa primeiro sobre a pessoa do cara, depois atingindo criminosamente a honra do jogador, avacalhando sua imagem perante o público. Na verdade, estes energúmenos nunca tiveram coragem suficiente para arranjar apelidos nem meter o pau em Rafael Moura, Rhodolfo, Chico, Netinho, Marcinho, Antônio Carlos ou Vinícius. Azar dele não ter nascido na Colômbia. Bateram nele como se fosse um bêbado. E os verdadeiros cambaleantes em campo saíram imunes.

-“Mas por que selá, calo tolcedor falante?” – perguntava discretamente Xin Xaco para mim na última fila de bancos do ligeirinho, saboreando uma revistinha colorida cheia de desenhos.

-“Sabe, prezado mestre Xin…talvez ele não tenha “colaborado” $$, entendeu-entendeu, seu chinês duma figa?” – gesticulei caracteristicamente com o polegar opositor para os olhos encatarados do profeta.

-“Ah…entón minha plevisión tava celta. Eu só quelia saber se mais gente pensava como eu.” – explicou o sábio oriental.

-“Sim, tem muita gente pensando como nós, mestre. Eu, você e mais os doze aí de cima na coluna”.

-“Que coluna, lapaz alegle metido a esclitor? Falar nisso, pála de esclever que não é a tua plaia. Vai cantar e longe daqui, seu animal sem têta!”

-“Um dia vou cumprir seu ensinamento, caro Mestre. Obrigado pelo conselho. Thau e cuida bem da sua bichinha, porque os neo-nazistas estão à solta.” – desci num ponto antes, antes que a Império aparecesse de tocaia na próxima esquina para massacrar passageiros, com a devida conivência da mídia “Paranaense”.

2ª: ser Craque. Jogando muito mais do que qualquer um, sua notabilidade causou tamanha inveja na panela dos pipoqueiros e no pinico dos brucutus, que todos literalmente o isolaram do grupo. Além do quê, as jogadas que ele criava, não eram aproveitadas pelos demais, por isto ele “não rendia”: o autoflagelo de Julio Cezar respingou em dos Santos. Este não tinha com quem jogar em dois toques, tabelar, fazer triangulação ou algo do gênero, pois a bola sempre passou por cima de sua cabeça feito Airbus sem revisão. Hoje, Paulo Baier padece do mesmo mal. Realmente, ele não combinava com o padrão do “Atlético Total”, o time que se defende como futebol americano e ataca como beisebol.

3ª: Aqui endosso as palavras do nobre colaborador do Fala, Frederico Verchai, quando disse que Julio dos Santos “é o cara certo na hora errada”, eu complemento “…e no lugar errado”, de novo: o Atlético Total de hoje, que continua sendo o mesmo de 2006, é desprovido Totalmente de profissionalismo em seu Departamento de Futebol, o que naturalmente lhe desqualifica à títulos e até mesmo à simples competitividade.

Escrevam: Julio dos Santos vai embora, mas será para o Atlético Mineiro, Santos ou Flamengo. Lá fará sucesso, não por estar num lugar certo nem na hora certa, mas simplesmente por ter a devida CHANCE. Outro que chegou, ficou meses na prateleira, jogou um pouquinho e foi dispensado. Geninho saiu do mercadinho. Waldemar não tem tino comercial, é submisso à gestão dos donos do mercadinho. Que em breve terão de prestar contas na Associação, pois os clientes estão à beira de invocar os direitos do consumidor.

Logo que desci, após verificar que não havia ninguém de camisa verde-preta-cinza-branca espumando raiva pela boca, vi que tinham jogado uma revista pela janela do ônibus. Fui lá e juntei. Era aquela do Xin Xaco. Corri atrás do ligeirinho gritando, até que ele parou no sinal :

-“Ei, Mestre! Caiu a sua revista!”

-“Dá nada não. Pode levar. Eu já li todinha.” – balbuciou pela janela, na sua estilosa tranqüilidade zen.

-“Mas isto é uma só revista de desenhos! Tem nada escrito!” – retruquei a importância do exemplar.

-“Seu bulo! Veja plimeilo o título! E o que tá esclito às vezes non plecisa estar esclito!” – filosofou o pequeno grande homem, arrasando comigo.

Mestre tinha toda razão. Que sabedoria do franzino budista. É de se refletir e preocupadamente, pois o nome da revista era “Onde Está Wallyson”.

Moral da história:
-‘Vaya con Dios, gran Julio! Um dia serás valorizado. Asta la vista!’ – portunhol de Joel Santana, o campeoníssimo.

p.s. 1: o personagem filósofo acima colocado tem seus devidos direitos autorais pertencentes ao sobrinho do técnico Waldemar, Sr. Rafael Lemos. Eu? Eu apenas encontrei com ele na cidade.
p.s. 2: Julio vai e eu fico. Julio fica mas eu vou. Nós vamos mas ficamos. Alguém entenda se for capaz. Alguém entenda o Atlético, se for extremamente capaz.

Arremate final: pegue sua “guitarra” (é fácil, só 5 acordes: D – A – D7 – G – Gm) e toque “una bella canción”, como recordação e homenagem ao “su hermoso fútbol”:

“Una noche tibia nos conocimos
junto al lago azul de Ypacarai
tu cantabas triste por el camino
viejas melodias en guaraní
y con el embrujo de tus canciones
iba renaciendo tu amor en mí
y en la noche hermosa de plenilunio
de tus blancas manos sentí el calor
que com sus caricias me dio el amor
(Chorus)
Dónde estás ahora Cuñataí
que tu suave canto no llega a mí
donde estás ahora mi ser te adora con frenesí
Todo te recuerda mi dulce amor
junto al lago azul de Ypacarai
todo te recuerda mi amor te llama Cuñatai”

– Recuerdos de Ypacarai / provavelmente de Demetrio Ortiz & Z. Mirkin.



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