Queremos nossa alma de volta!
Uma alma levada com o tempo, um Furacão que não sopra mais, um Caldeirão que não assusta mais. Não costumo escrever sobre assuntos particulares onde a emoção fala mais alto que a razão, mas abrirei uma exceção, pois cansei, minha paciência se esgotou.
Recentemente já havia aberto outra exceção, em outro espaço, para falar de emoção ao escrever sobre o Dia Mundial do Rock e agora volto a escrever sobre algo que aprendi a gostar desde moleque, ou melhor, desde piá: as cores vermelha e preta; paixão iniciada ainda quando morava na capital, quando jogava na quadra do antigo ginásio do velho Joaquim Américo com seu grande símbolo de pedra na rampa de acesso.
Assim com eu, milhares de atleticanos espalhados por esse Estado e País, estão tristes em acompanhar o que fizeram com nosso Furacão. Levaram sua alma e sua identidade Nessas horas, o que faço é fechar os olhos; não como forma de me isentar, mas para conseguir lembrar de onde vem tanta paixão por isso que estamos tendo que acompanhar semanalmente.
Nesse fechar dos olhos passo por uma viagem no tempo que me remete ao final dos anos 80, onde descubro o porquê aguento tudo isso ainda e porque me indigno tanto. Nesse apagar de luzes da minha mente volto aos meus nove ou dez anos. Apesar de na época já ter plena convicção do uniforme de guerra que iria usar, foi com essa idade que estive pela primeira vez no antro mais empolgante que já vi na minha vida.
Lembro de duas oportunidades em especial, subindo aquela rampa do Caldeirão do Diabo. Uma vez com meu pai ao lado, que, apesar de torcedor do extinto Boca Negra, não hesitou em me levar, e outra oportunidade com o meu avô, que apesar de gostar do time das cores xoxas, também não viu problema em me levar a um treino do meu time do coração.
Para um menino, a cena era de arrepiar, junto a rampa aquele grande CAP de pedra, aquele bando de malucos com grandes bandeiras e uma caveira gigante, faixas enroladas e seus instrumentos da bateria. Ao começar as batalhas, pensava comigo se aquelas estruturas um tanto precárias eram seguras, pois tremiam junto a adrenalina dos apaixonados.
Arrepio maior ao ouvir pela primeira vez, no campo inimigo no estádio em ruínas do alto das elites, a famosa paródia de The Wall, pois, ao mesmo tempo que comecei a frequentar o Caldeirão do Diabo, também começava a descobrir os prazeres da música do dito cujo, o rock n roll. Minha imaginação fluía de tal forma que também conseguia visualizar Roger Waters mandando em melodia, a coxarada para o lugar que é deles de direito.
Saudosismo a parte, pois também não sou tão velho assim e há atleticanos mais capacitados para descrever o que é esse sentimento, o fato é que estamos cansados de fechar os olhos para lembrar de uma alma que nos foi tirada.
Nosso campo de batalha, o outrora temido Caldeirão, já não assusta mais e deixou de ser um front. Está cada vez mais parecendo uma área de risco minada. Tiveram a preocupação de deixá-lo o mais belo palco de espetáculos para acolher pseudo-torcedores e casaizinhos com seus celulares de última geração que perdem lances importantes da partida para mais uma pose e um click.
Hoje temos um emaranhado de jogadores de sem identificação. Fato estranho, pois aos mercenários sempre caiu melhor o insosso verde branco do que o forte vermelho e preto. Não temos nada, apenas uma dupla de remanescentes com alma que foram trazidos na última semana para serem os salvadores da nação, mas que começo a ter pena de ambos, pois correm o risco de queimarem o belo filme que fizeram, pois estão ao lado de um bando de incompetentes.
Estamos cansados dos mesmos discursos e palavras conformistas após as derrotas, cansados de um treinador apático que parece que está acompanhando uma opera ao lado do campo e de uma diretoria composta por um paranista de carteirinha e um presidente burguês que é um coxa-branca enrustido, um digno representante do alto das elites e glórias inexistentes.
O Atlético é superior a tudo isso. Me desculpem o desabafo, mas queremos nossa alma de volta!