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27 ago 2009 - 13h52

República das Bananas

A forma federativa de Estado, estabelecida constitucionalmente em nosso país, possui conotação de cláusula pétrea, acontecendo no arcabouço dos princípios fundamentais. Esta variante define-se pela união de vários estados, os quais formam um novo Estado, aqueles preservando sua autonomia política, mas transferindo sua soberania política e jurídica para este Estado federal, então a servir como instrumento para satisfação das necessidades do povo organizado politicamente sobre seu território.

O eminente Ministro do STF, Enrique Ricardo Lewandowski, no tratar do federalismo, aponta a “descentralização do sistema com movimento pendular”, ou seja, denota independência entre os entes federativos e os poderes estabelecidos. E segundo o brilhante jurista José Afonso da Silva, o pressuposto da autonomia federativa possibilita a criação de órgãos governamentais próprios (independentes da Federação) e também competências exclusivas.

Por que isto aqui? Serei eu outro “doutor Wikipédia” a desfilar na passarela do Fala vestindo moda alheia? E depois cairei em desuso, no ostracismo da web em razão da jacuzice de minha teimosa, moribunda e penada ideologia? Não amigos, em termos de percepção, falo sobre algo realmente nuevo.

Falo porque esta concepção teórica básica, passa muito longe da consciência de grande parte da população brasileira, opondo-se ao postulado socrático do “conhece-te a ti mesmo”, impedindo conseqüentemente o exercício da sabedoria mediante o alcance da virtude. Para mim, é tudo uma questão de conhecimento: portanto, num país sem memória, é pacífico que todo “aquele que não conhece a sua história está fadado a revivê-la”.

Antecipadamente à aparição dos oposicionistas, os órfãos do Rei que me chamam de “tacanho” da plebe rude, lembro que sou totalmente destituído de pretensões, e minha condição de leigo me permite neste terreno apenas lutar modestamente contra o establishment midiático, mais ainda quando ele chega no auge do clímax de suas insurgências, neste caso, bastante televisivas, agora também internéticas.

Primeiramente, é necessário sabermos quem somos. Depois, onde estamos. Por conseqüência, por que e para quê permanecemos: eis o cerne da questão a que me refiro nesta entediante coluna. A identidade cultural resumiria tudo, mas seria minimalismo: temos que penetrar (no assunto), o que se faz importante nessa hora. Continuemos.

Certa feita, perguntei a um colega (nem tanto, bem menos), numa clínica, por qual razão ele, vindo do interior, além de atleticano dizia-se são-paulino – no meu entender, só se pode torcer para um único time, mas… – então o sujeito respondera que no norte pioneiro (e também no “novo norte”), era comum que os interioranos de lá torcessem para clubes do eixo RJ/SP. Quem assim não fazia era devido à descendência gaúcha, ou melhor, porto-alegrense, ora torcendo para o Inter ora para a irmandade monocolor (de cor, só o azul), coisa mais prevalente no sudoeste e oeste do Paraná. Todo mundo sabe.

Isto dava aos simpatizantes do esporte um certo ‘status’, ainda mais que a dupla Atletiba e a Seleboca não andavam muito “consolidadas” no cenário nacional: então os telespectadores extra-capital vibravam com as transmissões dos jogos do eixão, desconhecendo, ignorando e desmerecendo a bola paranaense. Assim, muitos foram os filhos do canal 13 (o veículo-pai que engravidou sua mãe consciência), que por sua vez ensinaram aos seus rebentos sobre aquilo que viam, não sobre o que existia. A falta de conhecimento aliada da aculturação regional, alienou sua paixão aos clubes da telinha, pois eram adeptos do “ver para crer”.

O país inteiro sofreu com esta modalidade de prostituição, onde o sentimento nativo foi oferecido gratuitamente aos homens de outras terras e origens, com lucro aos interesses que eles incubavam. Por isto a Flamengo e Corinthians atribui-se o contingente de maiores torcidas do país, sob festivais de números que agitam Descartes na tranqüilidade de seu túmulo. Paulatinamente, a cada partida transmitida pelas duas principais redes de TV do país (Bandeirantes/SP e Globo/RJ), aumentava este número de “torcedores” virtuais. Isto foi uma causa.

Quebrando o calendário, hoje isto não mais ocorre, em função do avanço da tecnologia. Nas portas dos quartos das maternidades nas duas últimas décadas, pode-se mais freqüentemente verificar ali pendurados adereços de clubes de nosso estado, o qual se faz muito mais pluralista que o RS, por exemplo, o que é deveras saudável. Ou seja, agora os cidadãos nascem e continuam paranaenses. Que bom.

Só que a manipulação pela formação de opinião ainda existe, no sentido de que o público volte-se “sentimentalmente” para aquelas agremiações de SP e RJ, às vezes RS, em paralelo venerar a seleDunga. De outra forma, há pelo instrumento doutrinário do discurso, uma tentativa não em vão de que este “sistema” se perpetue, tendo algum êxito, justamente sobre aquelas pessoas destituídas de sua própria história, os “sem-raiz“.

O colaborador Paulo Ercole apontou com precisão cirúrgica o requisito da imparcialidade que todo profissional da imprensa deveria ter, isto é, abriu e mostrou que este princípio encontra-se pediculadamente cancerizado no corpo da mídia esportiva: o verdadeiro mal do qual ela padece. E ninguém trata, apenas escuta, não combate, poucas vezes rebate.

Cabe a nós, paranaenses de chão, identificar então quem são os “profissionais” desta mídia atuante nos dias de hoje. Não apenas nominalmente, mais em relação à sua índole. E afastá-los. Quem são eles? Nada mais nada menos que gente provinciana, bairrista, sectária, dualista, facciosa, sequaz, que nasceu em determinado local e não desenvolveu-se instrutivamente de acordo com aquilo que seu “ofício” informativo minimamente requer.

A ausência da educação formadora, do estudo suficiente, da agregação de valores reais, da reflexão, da principiologia, da condição de alteridade, enfim, da aquisição do conhecimento, os impede de ter consigo uma concepção do que venha a ser uma nação. Portanto são eles sujeitos locais/regionais/estaduais, literalmente jogados nas águas nacionais da informação. Incapacitados da visão holística que permitiria o domínio do tema, vomitam nas telas, nos microfones ou nas pautas o descalábrio de sua ignorância, ou seja, o seu desconhecimento diante dos olhos e ouvidos de todo um País.

Um significativo paradoxo, colocar pessoas estupidamente parciais a comentar sobre um assunto tão generalizado geograficamente. Dá pena observar a pobreza de suas explanações, a limitação do seu raciocínio, o despreparo para a função. Por isto são eles hoje viciados dependentes físicos, químicos e orgânicos dos seus laptops os quais contém suas impreteríveis estatísticas: números disfarçam sua inanição cultural, ocupando o vazio que toma conta de sua incompetência. Tudo mesmo em nome do paradigma do tamanho: ou se é grande ou se é pequeno. Quem não é do eixo, não se pode reconhecer, é imensurável pela recusa a ser desconhecido. Omissão.

São eles que reclamam a falta de instrução dos jogadores, como se esta qualidade lhes estivesse sobrando. São eles que muitíssimo discretamente rebelam-se contra as arbitragens, como se lhes transbordasse coragem para falar ou como se tivessem o rabo solto. São eles que nos ignoram, como se não soubéssemos o quanto lhes dói nossa evolução. Eles que babam nos ovos dos Jôs e Dentinhos da vida.

São eles que apontam antes do campeonato começar os favoritos, sempre do eixo ao qual pertencem. São os que na metade do campeonato afirmam categoricamente quais serão os quatro primeiros. E no final “esquecem-se” da paternidade da especulação natimorta. Partindo do mero palpite, ou da bestial parcialidade, constrói-se uma verdade, uma previsão nostradâmica, uma assertiva cuja emissão de opinião lhes faz aparentar extrema sabedoria, fundada em premissas falsas. Realmente aparentam, mas apenas para os indivíduos que são seu público alvo, os ignorantes. Em termos de objetividade, não há como negar esta capacidade dos caras: convencem os idiotas como ninguém. Mas não há somente idiotas no Brasil: há cidadãos, de bem.

Só que a verdade é uma só. E geralmente não é a que eles repassam. Fossem vestibulandos à frente de uma redação, tomariam pau em razão da “fuga ao tema”, sua característica principal.
Covardia, omissão, tendenciosidade, protecionismo, lobby, cartel. Exceção feita à Lédio Carmona, Maurício Noriega, Alex Escobar, Luis Carlos Jr e ao ex-jogador Caio Ribeiro, o resto (leia-se Bandeirantes, Globo, Sportv, ESPN Brasil, Bem Amigos, Tribuna, etc) é totalmente desprezível. Mas por quê?

Porque são limitados à sua passionalidade, principalmente. São piás de prédio convidados a molecar noutras bandas, que não o seu limitado prédio. Só fazem esconder, desviar o foco do que é importante ou relevante. Especulação é a sua marca registrada. Por quais motivos comentarão sobre a vergonha que se repete no favorecimento da arbitragem para o Corinthians? Por que em vez da vitória do Atlético comentam superficialmente a derrota do São Paulo? Por que evitam falar sério sobre Avaí e Goiás? Que raios os impede de dizer o que todo mundo vê quando são apitadas faltas inexistentes ou invertidas contra nós, cartões em excesso e sem justificativas? E a ascensão do CAP, onde fica? Lógico que calam por medo. Medo de quem? Deles mesmos, do padrão sudêta de lidar com o Futebol. Fuja-se à sua regra, geladeira ou demissão.

Enfim e lamentavelmente, estamos quase obrigados a ver e ouvir este tipo de gentalha desqualificada a disparar seus chutes em direção ao nada. A meu ver, são piores que os boleiros. E alguns ainda recebem para falar bem destes. Imaginar que não recebem para comentar apenas dos times do eixo, é tão ingênuo quanto o cara que vende o sofá para que a mulher não o traia mais com o encanador na sala.

É a institucionalização da pobreza funcional. Ainda mais agora que não precisa diploma. Que apareça qualquer Alberto Helena da vida e fale o que quiser, contanto que agrade ao eixo. E olhem que já já vem um pagodinho, ou a bandinha de merda do filho do ex-árbitro, pois eles mesmos despencam no vácuo de suas palavras, precisando preencher este tempo com algo que desvie a atenção dos homens da poltrona do lado de cá. A arretadíssima Daniela Mercury foi lá e os convidou à dança: só o Caio levantou, o resto provou falta de educação e deixou dúvida sobre masculinidade. “Bem Amigos”…mas amigos de quem mesmo? Alguém ainda não sabe?

Mídia, CBF e sua Comissão de Arbitragem, empresários e boleiros. É o vampiresco sistema dominante do mundo do Futebol tupiniquim, paixão que nós sentimos no coração, eles no bolso. Recomendo aos que se sensibilizam com os lampejos destes desconhecedores da Pátria, destes propagadores da mentira paulistana, boys degustadores da hegemonia do produto Rio-São Paulo, disfarçando seus prostitutos corpinhos de imprensa marrom sob vestimentas tipo arautos da palavra de boa-fé: simplesmente ignorem seus comentários.

Eles estão a serviço da CBF, dos clubes paulistas e do Sistema. Tanto que para vencê-los, temos que superar tudo isto e mais um pouco. Assim foi em 2001. Quase foi em 2004. E tem que ser assim de agora em diante. Mas devemos ignorá-los. Informações ou opiniões, só os daqui, e olhe lá, com bastante critério de escolha.

A vida é uma sucessão de escolhas. Felizes aqueles que as fazem com fundamento. Nobres são os que amam e valorizam as coisas de sua própria terra. Coitados daqueles que prostituem sua consciência, alugando corpo e alma aos velhacos imperialistas do sudeste, disseminadores da usura do poder central, usurpadores da opinião alheia. Coitado de Dagoberto, de Aloísio, de Arnaldo Cezar Coelho, PC Vasconcellos, André Loffredo, João Carlos Assumpção, Calazans, Márcio Guedes, Mauro Beting, Milton Neves, Muller, Godoy, Neto, Toni Platão e tantos outros: todos profetas do apocalipse, anunciam que o eldorado é lá, comemorando o êxito o exercício do poder da ditadura da comunicação. Sabem no fundo que não há Monarquia. Só que o fundo deles é deveras pantanoso. Fingidos, sabem também que as bananas acabarão. Quer dizer, seu alimento acabará.

Pudera, tal o conteúdo simiesco de seus comentários. Pena que esta espécie de macacos não se encontra em extinção, pelo contrário, todos os dias podemos ter acesso às suas momices zoológicas. Destituídos do espírito republicano, jogam inadvertidamente seu War dos interesses, a conquistar territórios e cabeças, em prol da manutenção do status quo dos seus “favoritos”, bem aquém do intento do Futebol. Oligarquia, coletividade zero.

Questão espacial, as universidades precisam reestruturar seus currículos, para que o mercado de trabalho não fique abandonado à mercê das inconseqüências destes sujeitos informais e sua estagnação moral, soberba, mau caráter, desrespeito ao próximo, falta de consideração e retardamento, pois acham que fazem sucesso no Brasil que para eles resume-se “lá”. Inventam craques locais e os convidam para o bate papo, e logo depois avisam no próximo bloco que os craques estão todos lá fora. Fabricaram André Santos, expuseram na vitrine da Copa das Confederações e alguém comprou. Sanchez ganhou chefia da delegação. Seria um troca-troca? Ou troca-troca é coisa exclusivamente fenomenal?

Não. É muita desqualificação para tamanho propósito. Abandonem esta laia e instruam correta e adequadamente seus filhos, para que no futuro breve eles não venham a sustentar a falácia desta podre mídia esportiva. Pode-se perfeitamente reconhecer o que é bom, mas é extremamente perigoso acreditar na mentira dos outros, os bandidos da notícia, que só fazem assaltar o pensamento dos ignorantes, dos idiotas, dos “sem-raiz”.

Eles não merecem crédito. Quem não tem princípios não faz jus à atenção. Suas palavras já morreram. Necessitam do apropriado funeral. Ao contrário de Michael, não estão sendo conservados em refrigeradores, portanto apodrecem a cada rodada. Cabe a cada um de nós soterrá-los. Eu já fiz isso. E coloquei escrito na lápide:

-“Aqui jaz o Mal Amigo.”

Arremate: “Morte e Vida Severina”, de Chico Buarque de Hollanda

[Esta cova em que estás, com palmos medida
É a conta menor que tiraste em vida
É de bom tamanho, nem largo, nem fundo
É a parte que te cabe deste latifúndio
Não é cova grande, é cova medida
É a terra que querias ver dividida
É uma cova grande pra teu pouco defunto
Mas estarás mais amplo que estavas no mundo
É uma cova grande pra teu defunto parco
Porém mais que no mundo, te sentirás largo
É uma cova grande pra tua carne pouca
Mas a terra dada não se abre a boca
É a conta menor que tiraste em vida
É a parte que te cabe deste latifúndio
(É a terra que querias ver dividida)
É a terra que querias ver dividida
(É a parte que te cabe deste latifúndio)
Estarás mais ancho que estavas no mundo]

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