Transparência
O Real Madrid reuniu todos os seus sócios neste final de semana para aprovar as contas da temporada passada e o orçamento para o período 2009/2010. Florentino Perez, o presidente merengue, teve a aprovação da esmagadora maioria dos sócios, apesar de apresentar um passivo atual de 327 milhões de euros. O orçamento prevê uma movimentação de 422 milhões de euros. Esqueçam os valores, eles são impensáveis até para os padrões europeus. Quero chamar a atenção para o procedimento administrativo do clube mais rico do futebol mundial.
Mesmo gastando milhões e arrecandando outros tantos, o Real Madrid faz uma Assembléia de Sócios para aprovar as contas passadas e a previsão para o futuro.
Vocês sabem qual o nome que se dá a esta forma de agir? Transparência.
Alguém poderá argumentar que a realidade européia é outra, que os clubes por lá são empresas, que eles são obrigados a proceder desta forma. Também pode-se dizer que no Brasil os clubes publicam seus balanços e que, portanto, a transparência está garantida. Afinal, qualquer um pode ter acesso aos dados.
De certa forma, é verdade: o resumo do balanço é realmente publicado. Mas peguemos o caso específico do Atlético Paranaense. Integrantes do MAMF já tentaram ter acesso ao balanço completo e encontraram dificuldades para obter os documentos. Ainda estamos na busca e vamos conseguir todos os dados em breve.
Uso o exemplo para lembrar a todo atleticano o quanto sua participação é importante. Não basta ir ao estádio e torcer, não é suficiente fazer parte de comunidades na internet nem participar de fóruns ou discutir com os amigos nos botecos da vida. O Real Madrid tem um orçamento astronômico e, mesmo assim, os atos da diretoria precisam ser corroborados pela instância máxima dentro do clube: a Assembléia dos Sócios. O Atlético Paranaense tem um orçamento restrito, limitado por uma série de contingências – nossos diretores não se cansam de entoar este refrão como se fosse um mantra – e, por isso mesmo, precisa gastar muito bem cada centavo que recebe. E o que os sócios sabem sobre o que é gasto e como é gasto, sobre como são feitas as previsões de despesas e receitas, sobre como são administrados os financiamentos, e os planos para novos negócios e receitas, etc, etc e etc? Isso ao menos é levado para as reuniões do Conselho Deliberativo, já que não temos uma Assembléia de Sócios? Quantas vezes por ano os conselheiros do CAP se reúnem? Quando foi a última vez que se encontraram? Eles têm poder de questionamento, conseguem argumentar ou só podem dizer amém?
É preciso desenvolver a cultura de que fiscalizar não significa desconfiar, mas manter a vigilância e garantir a correção de todo processo em que o dinheiro utilizado sai do bolso de quem contribui para um bem comum. Neste caso: o sucesso do Nosso Rubro-Negro. Querer transparência é apenas pedir o cumprimento de um direito elementar de todo sócio apaixonado pelo Furacão.
A quem comanda cabe sempre a responsabilidade de ser e parecer correto. Isso é um ônus natural de quem assume um cargo em qualquer entidade de caráter público e, mais ainda, quando o que está em jogo é a paixão de uma Nação inteira.